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Fãs pagam por caprichos, e artistas faturam mais
Por BEN SISARIO
HERSHEY, Pensilvânia - Helena Aguiar saiu de São Paulo para ocupar um lugar na
primeira fila no show de sua banda preferida, e conseguiu: uma cadeira metálica
dobrável preta com o logotipo do Bon Jovi na almofada, que ela levou para casa.
Preço: US$ 1.750.
"Foi uma experiência incrível", disse recentemente Aguiar, 25, emocionada depois
de um show no estádio Hersheypark, na Pensilvânia.
Os preços VIP se firmaram nas plateias do rock'n'roll. Nesta temporada, fãs do
cantor Justin Bieber podem pagar US$ 350 para assistir a um ensaio do show. Por
US$ 800, Christina Aguilera posa para uma foto. Por US$ 900, os fãs dos Eagles
ganham um jantar, mas sem foto; a maioria dos pacotes também inclui muitas
mercadorias grátis.
Nos três shows lotados de Bon Jovi recentemente no estádio New Meadowlands, em
Nova Jersey, o pacote principal -que incluía cadeira para levar para casa,
sacola de couro e uma refeição especial- custava US$ 1.875.
Antigamente disponível só para turnês de astros como U2 ou Rolling Stones, os
pacotes VIP se espalharam pelas fileiras inferiores de bandas que se apresentam
ao vivo. E, apesar da economia abalada dos EUA, os promotores descobriram que os
verdadeiros fãs aceitam pagar preços elevados para ter um tratamento especial.
"Provavelmente é a maior negociação de todas as turnês", disse Randy Phillips,
executivo-chefe da AEG Live, promotora do giro de Bon Jovi. "Você pode ganhar
tanto com os 10% da casa quanto os outros 90%."
Artistas e seus empresários dizem que os programas VIP permitem que eles tratem
os fãs mais dedicados de modo especial, compensando-os por sua lealdade.
Laurie Huey, 44, contadora de Nova Jersey, comprou seis pacotes VIP para a atual
turnê de Bon Jovi, por cerca de US$ 8.500.
No Hersheypark, membros do fã-clube conseguiram um passeio pelos bastidores que
incluía a possibilidade de posar para uma foto com as maracas e o microfone de
Bon Jovi, enquanto os VIPs que não são do fã-clube foram servidos de filé
mignon, aspargos enrolados com presunto e vinho branco em uma tenda separada. Os
participantes disseram que a experiência valeu o preço.
"Eu tenho dinheiro", disse Jim Leaman, 55, dono de uma companhia de gás. "Por
isso, quando quero ir a um show, quero ficar na frente, não me importa que custe
US$ 100 ou US$ 1.000."
Mas alguns consumidores discordam. "Os artistas estão apenas sondando sua base
de fãs", disse Terrell Lowe, 49, ávido frequentador de shows em San Francisco.
"A maioria das pessoas não pode pagar tanto."
Os promotores dizem que esses ingressos "premium" lhes dão dois benefícios em
particular. Um é que os altos preços nas primeiras fileiras podem subsidiar
assentos mais baratos em outros lugares, o que deixa mais dinheiro no bolso dos
fãs para comprar extras como comida e camisetas.
Além disso, como o preço dos ingressos VIP não costuma ser incluído nos
anúncios, os artistas podem obter grandes lucros enquanto evitam o estigma de
divulgar preços elevados; os comunicados para os shows de Bon Jovi, por exemplo,
anunciam os ingressos mais caros a US$ 150.
Muitos na indústria ainda temem que os altos preços e a consequente segregação
das multidões possam ser um tiro no pé.
"Esses não são apenas clientes", disse Dan Berkowitz, fundador da CID
Entertainment, que organiza programas VIP para festivais. "São fãs que têm uma
ligação emocional com o artista. Então, se de repente o artista diz 'Você não
pode chegar perto de mim a não ser pagando US$ 1.400', ele vai perder essas
pessoas."
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