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Imigrantes da terceira idade sofrem com isolamento nos EUA
Por PATRICIA LEIGH BROWN
FREMONT, Califórnia - Eles se reúnem cinco dias por semana num shopping chamado
The Hub, tomando chai (chá com especiarias) que trazem em garrafas térmicas.
Esses imigrantes indianos idosos são membros de um grupo formado apenas por
homens, o Clube dos Cem Anos de Vida. Eles conversam sobre a criminalidade na
Califórnia, sobre os voos mais baratos a Nova Déli e sobre como enfrentar noras
inamistosas.
Juntos, eles procuram fugir da solidão e do isolamento que frequentemente
acompanham a transferência para os EUA já na terceira idade, vindos de países
distantes. "Quando não venho para cá [o shopping], meus lábios ficam selados -
não tenho com quem conversar", disse o viúvo Devendra Singh, 79.
Ele e seus amigos formam um grupo que vem aumentando em número: o dos idosos,
que hoje são o setor imigrante que mais cresce nos EUA. Desde 1990, o número de
pessoas de mais de 65 anos nascidas fora do país subiu de 2,7 milhões para 4,3
milhões nos EUA -ou seja, cerca de 11% dos imigrantes recém-chegados.
Muitos são os pais idosos de cidadãos americanos naturalizados, que vão se
juntar a suas famílias. Mas especialistas dizem que os idosos estrangeiros estão
entre as pessoas mais isoladas dos EUA. Dos imigrantes mais velhos que chegaram
ao país recentemente, 70% não falam inglês ou falam pouco. A maioria não sabe
dirigir. Alguns estudos sugerem que a depressão e os problemas psicológicos
sejam comuns entre eles, frutos da barreira linguística, da falta de vínculos
sociais e de valores que em alguns casos conflitam com a cultura americana
dominante, incluindo a de seus filhos assimilados.
As vidas dos idosos "transplantados" para os EUA são em grande medida não
registradas, invisíveis fora de suas comunidades étnicas ou religiosas. "Eles
nunca vencem concursos de ortografia", disse Judith Treas, professora de
sociologia e demógrafa da Universidade da Califórnia em Irvine. "Não entram para
gangues criminosas. E ninguém se preocupa com a possibilidade de americanos
perderem seus empregos para avós coreanas."
Uma geração atrás, 76% da população de Fremont era de origem caucasiana. Hoje,
quase metade dos moradores da cidade são asiáticos, 14% são latinos, e Fremont
abriga uma das maiores comunidades de refugiados afegãos no país. Uma antiga
escola de beleza virou mesquita, um cinema virou um complexo que exibe filmes de
Bollywood, e uma rua foi rebatizada de Gurdwara, devido ao Templo Sikh Gurdwara
Sahib.
A velocidade da transformação está levando as prefeituras de muitas cidades
americanas a buscar contato com os idosos que vivem em seu meio. Em Fremont, foi
criada uma unidade móvel de saúde mental para idosos que não conseguem sair de
casa; a cidade recrutou voluntários para ajudar imigrantes mais velhos a
transitar pela burocracia do serviço social. Em Chicago, uma rede de
organizações sem fins lucrativos lançou o Projeto Depressão, rede de grupos
comunitários que ajudam imigrantes idosos.
Mas os problemas dos imigrantes mais velhos às vezes passam despercebidos,
justamente porque eles frequentemente não buscam ajuda. "Existe a ideia de que
os problemas são muito pessoais e precisam ser tratados dentro da família",
disse Gwen Yeo, codiretora do Centro de Educação Geriátrica da Universidade
Stanford.
Muitos imigrantes que seguiram seus filhos para os EUA têm vidas satisfatórias,
mas que nem sempre seguem conforme o previsto.
Devendra Singh cresceu numa família indiana alegre, com 14 pessoas. Em Fremont,
foi viver com a família de seu filho e se dedicou a seus netos, buscando-os da
escola e levando-os aos treinos de futebol. Mas, então, seu filho e sua nora
decidiram "que queriam privacidade", disse ele, com tristeza na voz. A
contragosto, Singh decidiu que deveria deixar a casa deles.
Então, ele alugou um quarto em uma casa, por meio de um anúncio classificado on-
line. "Na Índia, há um viés favorável aos idosos", disse. "Nos EUA, as pessoas
pensam no que lhes convém ou não."
A 3 km dali, a viúva afegã Zia Mustafa está sentada à mesa de sua cozinha. Seu
marido e seu filho mais velho morreram na explosão de um foguete em Cabul; seu
filho Waheed, 24, que vive com ela, perdeu a perna no ataque. Outros de seus
filhos continuam no Afeganistão e no Paquistão. "Minha família está dividida",
disse ela com a ajuda de um tradutor, chorando.
Depois de passar por uma cirurgia, Waheed Mustafa hoje vive a vida normal de um
homem na casa dos 20 anos -vai à escola, fala ao celular, sai com amigos.
Sua mãe passa seus dias assistindo a telenovelas, tentando decifrar as tramas
pelas expressões dos rostos dos atores. Ela dorme com as luzes acesas, com medo
de que seu filho não volte para casa, mesmo entre essas paredes seguras.
"Eles vêm de um país em que é tão difícil sobreviver, mas sentem que não fizeram
o suficiente", disse o psiquiatra Sudha Manjunath, que trabalha para a unidade
de saúde mental de Fremont. "Se você diz a eles agora 'é hora de cuidarem de
vocês mesmos', essa é uma ideia da qual nunca ouviram falar."
O ex-engenheiro indiano Kashmir Singh Shahi, 43, é voluntário no Programa
Embaixador Comunitário para a Terceira Idade, no qual oferece um ouvido atento a
pessoas como Hardev Singh, 76.
Instrutor de direção aposentado do Exército indiano, Singh está determinado a
trabalhar em tempo integral. Ele toma dois ônibus para ocupar o turno da noite
num posto de combustível. "Não quero ficar ocioso no coração", disse.
As experiências de Shahi com seus próprios pais apontaram o caminho a ser
seguido com seus clientes. Shahi chegou San Francisco em 1991, para trabalhar
numa firma de fibra ótica e, seis anos depois, patrocinou a vinda de seus pais
aos EUA.
Depois da morte de seu pai, Shahi mudou de profissão para poder cuidar de sua
mãe, que sofre de depressão. "Se estivesse na Índia, ela andaria até a quitanda,
tomaria um chá na casa da vizinha e conversaria sobre coisas comuns, como o
trigo e o milho", disse Shahi, falando do hábito entranhado de fazer visitas do
qual muitos idosos imigrantes sentem tanta falta.
Por isso, quando chega ao fim de seu dia de trabalho dando atendimento a outros,
Shahi se senta com sua mãe. Sempre pergunta se ela quer leite quente. "As coisas
pequenas têm importância", disse ele, falando de sua mãe e de outros idosos que
sentem saudades de casa. "[Eles querem] sentir que são bem-vindos."
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