São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIÁRIO DE BRUXELAS

Um monumento à Justiça do qual é fácil escapar

Por JOHN TAGLIABUE

BRUXELAS - Em agosto, quatro réus de um caso de assalto e sequestro foram levados algemados a uma sala de um imenso tribunal neobarroco -o Palácio da Justiça- na capital belga.
As algemas mal haviam sido retiradas quando dois homens mascarados e fortemente armados invadiram a sala e mandaram que todos os presentes se deitassem no chão, inclusive seis guardas que usavam apenas cassetetes e sprays de gás pimenta. Os mascarados, junto com 3 dos 4 réus, saíram correndo do tribunal, entraram num carro que os esperava e fugiram sem deixar pistas.
Essa fuga dramática no mais respeitado tribunal da Bélgica foi apenas o mais recente de uma série de incidentes que atormenta a nação. Doze dias antes, um helicóptero pousou no pátio de uma prisão de Bruges durante uma hora de recreação e levou três condenados para a liberdade.
Dias depois, em uma ação igualmente audaciosa em Merksplas, ao norte de Bruxelas, perto da fronteira com a Holanda, seis detentos pegaram uma escada de uma obra no pátio e escalaram a muralha. Quatro foram detidos pelos guardas, mas dois conseguiram fugir com a mãe de um dos presos, que aguardava sob o muro, em seu carro.
A maior parte dos foragidos acabou sendo recapturada. Mas os episódios despertaram vários debates sobre o estado do sistema penal do país.
"A maioria desses prédios é do século 19", disse o renomado criminalista Bryce de Ruyver, referindo-se às prisões e aos tribunais. "A esta altura são, sim, monumentos extraordinários, mas não muito funcionais em termos de segurança." A penitenciária de Merksplas, por exemplo, foi construída em 1825.
Há 44 entradas no enorme Palácio da Justiça, muitas delas com pouca ou nenhuma vigilância forte. Enquanto nos EUA qualquer tribunal local insignificante pode obrigar as pessoas a passarem por um esquema de segurança digno de aeroportos, na Bélgica há poucos detectores de metal, e mesmo estes frequentemente estão fora de uso.
A penitenciária de Bruges não tinha defesa contra helicópteros. Há redes anti- helicóptero que poderiam ser colocadas sobre os pátios prisionais, mas são caras e complicadas de instalar. Além disso, o piloto do helicóptero disse posteriormente que não viu um só guarda prisional no pátio quando pousou.
As fugas atraíram a atenção da opinião pública. Lesley Deckers, 23, vivia com sua mãe na cidade de Hoboken, em Flandres. Ela se converteu ao islã quando tinha 18 anos. Seu namorado, também de 23 anos, é um marroquino condenado a cinco anos de prisão no ano passado por ter roubado uma loja de brinquedos e um supermercado.
Deckers alugou um helicóptero para voos panorâmicos, de modo a permitir a fuga dos condenados de Bruges. O jornal "Gazet van Antwerpen" publicou uma foto dela depois de ser presa, ao lado da manchete "Eu fiz por amor".
"É uma pena que ela tivesse de ir tão longe", disse Kim Nolf, 32, funcionária pública municipal em Hoboken.


Texto Anterior: Kennedy foi o último rugido do liberalismo
Próximo Texto: Análise: Muda o governo do Japão, mas depressão continua

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.