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DIÁRIO DE BRUXELAS
Um monumento à Justiça do qual é fácil escapar
Por JOHN TAGLIABUE
BRUXELAS - Em agosto, quatro réus de um caso de assalto e sequestro foram
levados algemados a uma sala de um imenso tribunal neobarroco -o Palácio da
Justiça- na capital belga.
As algemas mal haviam sido retiradas quando dois homens mascarados e fortemente
armados invadiram a sala e mandaram que todos os presentes se deitassem no chão,
inclusive seis guardas que usavam apenas cassetetes e sprays de gás pimenta. Os
mascarados, junto com 3 dos 4 réus, saíram correndo do tribunal, entraram num
carro que os esperava e fugiram sem deixar pistas.
Essa fuga dramática no mais respeitado tribunal da Bélgica foi apenas o mais
recente de uma série de incidentes que atormenta a nação. Doze dias antes, um
helicóptero pousou no pátio de uma prisão de Bruges durante uma hora de
recreação e levou três condenados para a liberdade.
Dias depois, em uma ação igualmente audaciosa em Merksplas, ao norte de
Bruxelas, perto da fronteira com a Holanda, seis detentos pegaram uma escada de
uma obra no pátio e escalaram a muralha. Quatro foram detidos pelos guardas, mas
dois conseguiram fugir com a mãe de um dos presos, que aguardava sob o muro, em
seu carro.
A maior parte dos foragidos acabou sendo recapturada. Mas os episódios
despertaram vários debates sobre o estado do sistema penal do país.
"A maioria desses prédios é do século 19", disse o renomado criminalista Bryce
de Ruyver, referindo-se às prisões e aos tribunais. "A esta altura são, sim,
monumentos extraordinários, mas não muito funcionais em termos de segurança." A
penitenciária de Merksplas, por exemplo, foi construída em 1825.
Há 44 entradas no enorme Palácio da Justiça, muitas delas com pouca ou nenhuma
vigilância forte. Enquanto nos EUA qualquer tribunal local insignificante pode
obrigar as pessoas a passarem por um esquema de segurança digno de aeroportos,
na Bélgica há poucos detectores de metal, e mesmo estes frequentemente estão
fora de uso.
A penitenciária de Bruges não tinha defesa contra helicópteros. Há redes anti-
helicóptero que poderiam ser colocadas sobre os pátios prisionais, mas são caras
e complicadas de instalar. Além disso, o piloto do helicóptero disse
posteriormente que não viu um só guarda prisional no pátio quando pousou.
As fugas atraíram a atenção da opinião pública. Lesley Deckers, 23, vivia com
sua mãe na cidade de Hoboken, em Flandres. Ela se converteu ao islã quando tinha
18 anos. Seu namorado, também de 23 anos, é um marroquino condenado a cinco anos
de prisão no ano passado por ter roubado uma loja de brinquedos e um
supermercado.
Deckers alugou um helicóptero para voos panorâmicos, de modo a permitir a fuga
dos condenados de Bruges. O jornal "Gazet van Antwerpen" publicou uma foto dela
depois de ser presa, ao lado da manchete "Eu fiz por amor".
"É uma pena que ela tivesse de ir tão longe", disse Kim Nolf, 32, funcionária
pública municipal em Hoboken.
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