|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Microdoadores usam internet para apoiar projetos artísticos
Por JENNA WORTHAM
Earl Scioneaux III é um simples engenheiro de áudio de Nova Orleans que de dia
faz mixagens de discos de jazz ao vivo e à noite cria música eletrônica. Há
muito tempo ele queria realizar seu sonho de fazer seu próprio álbum, de jazz e
música eletrônica, mas não tinha como levantar os US$ 4.000 necessários para a
produção.
Então ele ouviu falar da Kickstarter, uma empresa novata sediada no Brooklyn
(Nova York) que usa a web para unir aspirantes a Da Vinci com pequenos mecenas
dispostos a investir alguns dólares em seus projetos.
Ao contrário de sites semelhantes, que simplesmente pedem doações, os mecenas do
Kickstarter têm amplo acesso aos projetos que financiam e, na maioria dos casos,
uma lembrança concreta de sua contribuição.
"Não é um investimento, nem empréstimo ou caridade", disse Perry Chen,
cofundador do Kickstarter e amigo de Scioneaux. "É algo intermediário: um
mercado sustentável no qual as pessoas trocam bens por serviços ou algum
benefício e recebem algum valor."
Scioneaux, que afinal levantou US$ 4.100, ofereceu uma série de recompensas a
seus apoiadores: por um pagamento de US$ 15, os patronos receberiam um exemplar
antecipado do disco; por US$ 30, ganhariam uma aula de música também. US$ 50 ou
mais davam direito aos dois e a um lugar na mesa de jantar de Scioneaux para
provar seu quiabo caseiro. "Eu não esperava que as pessoas gostassem muito
disso, mas vendeu quase instantaneamente", disse.
Essa sensação de inclusão é uma parte importante da atração para os apoiadores
do Kickstarter. Os cerca de 12 convidados para o jantar de Scioneaux incluíram
Mark Barrilleaux, engenheiro de Houston, e sua mulher, Janet, enfermeira
aposentada, que investiram ao todo US$ 100. "Decidimos que valeria a pena, pela
diversão e a oportunidade de participar de uma produção musical", disse
Barrilleaux. "Sou um engenheiro petrolífero. De que outra forma poderia entrar
no negócio da música?"
Até agora, os projetos do Kickstarter incluíram construir uma capela de
casamentos temporária em Manhattan, transformar um velho ônibus em restaurante
tailandês móvel, velejar ao redor do mundo e tirar fotografias dos 50 Estados
norte-americanos.
Chen começou a brincar com essa ideia em 2002, depois que relutantemente
cancelou um concerto que pretendia dar no JazzFest de Nova Orleans porque o
investimento de US$ 20 mil era arriscado demais para ele bancar sozinho.
"O dinheiro sempre foi uma enorme barreira à criatividade", disse Chen. "Todos
temos muitas ideias que gostaríamos de ver decolar, mas, a menos que você tenha
um tio rico, nem sempre consegue concretizá-las."
Depois de levantar cerca de US$ 300 mil em financiamento inicial de parentes e
amigos, a Kickstarter apresentou sua plataforma em abril. A empresa ainda não dá
lucro -todo o dinheiro levantado vai para os projetos. Até agora, mais de US$
400 mil foram solicitados para quase 400 ideias.
Patrick Rooney, diretor de pesquisa do Centro para Filantropia da Universidade
de Indiana, disse que alguns doadores, especialmente os jovens, podem achar o
modelo do Kickstarter mais atraente do que instituições tradicionais sem fins
lucrativos. "É, de certa maneira, algo muito pessoal, em oposição a fazer uma
doação a uma universidade, por exemplo", disse.
"Eu vejo o Kickstarter como um micromecenato", disse Lewis Winter, 27, designer
gráfico de Melbourne, Austrália, que pediu dinheiro para cinco projetos. "Se eu
fosse rico, financiaria vários projetos, mas isto me permite financiar o quanto
for possível."
Texto Anterior: Tarifas baixas e nada de desculpas Próximo Texto: Ciência & Tecnologia Um mergulho abissal em busca de um fóssil vivo Índice
|