São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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Microdoadores usam internet para apoiar projetos artísticos

Por JENNA WORTHAM

Earl Scioneaux III é um simples engenheiro de áudio de Nova Orleans que de dia faz mixagens de discos de jazz ao vivo e à noite cria música eletrônica. Há muito tempo ele queria realizar seu sonho de fazer seu próprio álbum, de jazz e música eletrônica, mas não tinha como levantar os US$ 4.000 necessários para a produção.
Então ele ouviu falar da Kickstarter, uma empresa novata sediada no Brooklyn (Nova York) que usa a web para unir aspirantes a Da Vinci com pequenos mecenas dispostos a investir alguns dólares em seus projetos.
Ao contrário de sites semelhantes, que simplesmente pedem doações, os mecenas do Kickstarter têm amplo acesso aos projetos que financiam e, na maioria dos casos, uma lembrança concreta de sua contribuição.
"Não é um investimento, nem empréstimo ou caridade", disse Perry Chen, cofundador do Kickstarter e amigo de Scioneaux. "É algo intermediário: um mercado sustentável no qual as pessoas trocam bens por serviços ou algum benefício e recebem algum valor."
Scioneaux, que afinal levantou US$ 4.100, ofereceu uma série de recompensas a seus apoiadores: por um pagamento de US$ 15, os patronos receberiam um exemplar antecipado do disco; por US$ 30, ganhariam uma aula de música também. US$ 50 ou mais davam direito aos dois e a um lugar na mesa de jantar de Scioneaux para provar seu quiabo caseiro. "Eu não esperava que as pessoas gostassem muito disso, mas vendeu quase instantaneamente", disse.
Essa sensação de inclusão é uma parte importante da atração para os apoiadores do Kickstarter. Os cerca de 12 convidados para o jantar de Scioneaux incluíram Mark Barrilleaux, engenheiro de Houston, e sua mulher, Janet, enfermeira aposentada, que investiram ao todo US$ 100. "Decidimos que valeria a pena, pela diversão e a oportunidade de participar de uma produção musical", disse Barrilleaux. "Sou um engenheiro petrolífero. De que outra forma poderia entrar no negócio da música?"
Até agora, os projetos do Kickstarter incluíram construir uma capela de casamentos temporária em Manhattan, transformar um velho ônibus em restaurante tailandês móvel, velejar ao redor do mundo e tirar fotografias dos 50 Estados norte-americanos.
Chen começou a brincar com essa ideia em 2002, depois que relutantemente cancelou um concerto que pretendia dar no JazzFest de Nova Orleans porque o investimento de US$ 20 mil era arriscado demais para ele bancar sozinho.
"O dinheiro sempre foi uma enorme barreira à criatividade", disse Chen. "Todos temos muitas ideias que gostaríamos de ver decolar, mas, a menos que você tenha um tio rico, nem sempre consegue concretizá-las."
Depois de levantar cerca de US$ 300 mil em financiamento inicial de parentes e amigos, a Kickstarter apresentou sua plataforma em abril. A empresa ainda não dá lucro -todo o dinheiro levantado vai para os projetos. Até agora, mais de US$ 400 mil foram solicitados para quase 400 ideias.
Patrick Rooney, diretor de pesquisa do Centro para Filantropia da Universidade de Indiana, disse que alguns doadores, especialmente os jovens, podem achar o modelo do Kickstarter mais atraente do que instituições tradicionais sem fins lucrativos. "É, de certa maneira, algo muito pessoal, em oposição a fazer uma doação a uma universidade, por exemplo", disse.
"Eu vejo o Kickstarter como um micromecenato", disse Lewis Winter, 27, designer gráfico de Melbourne, Austrália, que pediu dinheiro para cinco projetos. "Se eu fosse rico, financiaria vários projetos, mas isto me permite financiar o quanto for possível."


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