São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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Para alguns pais, trauma da UTI neonatal persiste

Por LAURIE TARKAN

O filho de Kim Roscoe, Jaxon, nasceu três meses antes da data prevista, com pouco mais de um quilo. Durante nove dias, passou muito bem na UTI neonatal, e Kim se sentia pouco diferente das outras mães. O pesadelo dela começou no décimo dia.
"Eu o havia deixado no final da noite anterior, nos meus braços, pequeno, mas perfeito", disse Kim, 30, que vive em Monterey, na Califórnia. Quando ela voltou no dia seguinte, Jaxon tinha insuficiência renal e respiratória, e seu corpo estava irreconhecível de tão inchado.
"Ele estava ligado aos respiradores, sua pele estava ficando preta, os alarmes ficavam tocando repetidamente", lembra Kim.
Jaxon, agora com 16 meses, está em casa com a família. Mas passou 186 dias na UTI e esteve várias vezes perto da morte.
Durante esse drama, Kim tinha pesadelos constantes. Dormia de sapatos, esperando uma ligação do hospital a qualquer momento. Ficou de mal com o mundo, e sua ansiedade era tamanha que chegava a pensar que o leitor de barras do supermercado era um dos monitores de Jaxon se desligando. Seu marido, Scott, cuidou da filha do casal, Logan, hoje com seis anos, e segurou as pontas emocionalmente.
Cerca de três meses depois do nascimento do filho, Kim foi orientada a consultar um psiquiatra. Recebeu um diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), um distúrbio mental mais associado à passagem por guerras, a acidentes de carros e a agressões, mas que agora está sendo reconhecido em pais de bebês prematuros que passam muito tempo na UTI.
Um novo estudo da Escola de Medicina da Universidade Stanford, da Califórnia, publicado na revista "Psychosomatics", acompanhou 18 desses pais. Após quatro meses, três deles tinham sido diagnosticados com TEPT, e sete estavam sob alto risco de desenvolver esse distúrbio.
Especialistas dizem que pais de bebês em UTIs passam por múltiplos traumas, a começar pelo parto prematuro.
"O segundo trauma é ver o seu próprio bebê em procedimentos médicos traumáticos e episódios de ameaça à vida e também testemunhar outros bebês passando por experiências similares", disse o autor do estudo, Richard Shaw, professor associado de psiquiatria em Stanford e no Hospital Infantil Lucile Packard. "E, terceiro, é que costumam receber más notícias em série. As más notícias estão sempre chegando."
Especialistas dizem que os pais sob risco de TEPT devem ser identificados precocemente e receber ajuda para lhes preparar para o trauma inicial. Mas muitos hospitais estão focados em salvar os bebês, não nas crises emocionais dos pais.
Liza Cooper dirige o programa de Apoio Familiar a UTIs Neonatais da entidade March of Dimes, que oferece apoio psicológico a pais em 74 hospitais dos Estados Unidos. "A peça mais crítica é ajudar a preparar alguém para que saiba o que esperar e não cair num mundo de incógnitas assustadoras", disse ela.


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