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Telespectadores alemães adoram seus detetives
Por MICHAEL KIMMELMAN
BERLIM - A nova temporada de "Law & Order" é a vigésima do seriado americano,
fazendo dele o drama há mais tempo no ar no horário nobre dos EUA. Na Alemanha,
onde um seriado policial dramático intitulado "Tatort" é exibido há quase quatro
décadas, 20 anos podem parecer algo tão efêmero quanto um romance de adolescentes.
"Tatort" (que pode ser traduzido como "Cena do Crime") é um daqueles símbolos
modestos de cultura popular que parecem difíceis de traduzir para pessoas de
fora, mas que calam fundo em uma nação e revelam muito sobre ela. O seriado, no
ar desde 1970, é uma variação alemã sobre a fórmula fartamente conhecida de uma
dupla de detetives que elucida um assassinato.
"Tatort" desfrutou de tremenda popularidade desde o início. Houve época em que
era visto por 75% dos telespectadores alemães. Hoje, com os canais a cabo
dividindo o público espectador, mais de 7 milhões de pessoas ainda se reúnem às
20h15 do domingo para acompanhar o programa em suas casas ou em bares, alguns
dos quais recebem cópias em DVD com antecedência para que os fãs possam
suspender a exibição antes de o assassino ser revelado e tentar coletivamente
descobrir o nome do culpado.
A criminalidade violenta não é comum na Alemanha. O assassinato de quatro
pessoas perto de Dusseldorf, em agosto, por um homem armado e descontrolado foi
ainda mais chocante por ser algo excepcional. Com 82 milhões de habitantes, o
país teve 864 homicídios em 2007; esse número foi mais ou menos 20 vezes maior
nos EUA, cuja população não chega a ser quatro vezes maior que a alemã.
Os crimes do seriado acontecem em lugares tipicamente alemães, como as pequenas
hortas urbanas conhecidas como "schrebergarten". As divisões regionais da
emissora pública alemã ARD produzem 15 versões distintas de "Tatort". Há um
"Tatort" de Leipzig, um de Frankfurt e até mesmo um de Viena, produzido pela TV
austríaca.
Cada versão enfatiza suas raízes regionais. Os alemães falam sobre seu "Tatort"
favorito mais ou menos como falam de seus times de futebol locais. O "Tatort" de
Munster é feito para suscitar gargalhadas. O de Hamburgo é estrelado por um
detetive turco bonitão, ao estilo de James Bond, que trabalha sozinho; o de
Hanover, por muma linda investigadora mulher.
Um episódio sobre incesto entre curdos e alevitas turcos levou milhares de
manifestantes às ruas em Colônia e Hamburgo; os produtores responderam,
concordando em não exibir o episódio em reprises. "Exibimos cerca de 30
episódios novos por ano, então é inevitável que de quando em quando haja
protestos", disse a produtora Rosemarie Wintgen.
"Tatort" rejeita a violência explícita, preferindo destacar o desenvolvimento
dos personagens. Ao longo de mais de 700 episódios, já teve 70 detetives como
personagens principais. Quase invariavelmente, eles são mal-humorados, atolados
em relacionamentos ruins ou solitários. Nas palavras de Wintgen: "Os detetives
de 'Tatort' são representativos dos sonhos das pessoas. O sujeito de aparência
comum ou a loira de meia-idade que acabam por resolver os problemas da vida e
encontrar o assassino. Esse é nosso tipo de herói".
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