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Filme retratará fundador
da Opus Dei
Por LAURIE GOODSTEIN
O cineasta Roland Joffé, que ainda não reconquistou o reconhecimento que ganhou
uma geração atrás por "Os Gritos do Silêncio" e "A Missão", está rodando na
Argentina um filme sobre o fundador da Opus Dei, organização poderosa e de elite
dentro da Igreja Católica.
"There Be Dragons", ambientado durante a Guerra Civil espanhola, entremeia
personagens fictícios criados por Joffé com a história do espanhol São Josemaría
Escrivá de Balaguer, que fundou a Opus Dei e foi canonizado pela igreja.
O projeto, lançado por um membro da Opus Dei, é parcialmente produzido e
financiado por integrantes do grupo e convocou um padre da Opus Dei para prestar
consultoria no set de filmagens. A notícia do filme suscitou críticas por parte
de alguns ex-membros da Opus Dei, para os quais não passará de propaganda da
organização. Mas Joffé disse que recebeu controle criativo completo sobre o
filme e que a Opus Dei nunca exerceu qualquer influência sobre ele.
Ele contou que rejeitou o roteiro que lhe foi dado inicialmente, porque não quis
fazer "uma cinebiografia" de Escrivá. Mas, acrescentou, ficou intrigado com as
ideias de Escrivá sobre o poder do perdão e a capacidade de cada ser humano
alcançar a santidade. A Opus Dei ("obra de Deus", em latim) ensina que o
trabalho comum pode ser o caminho para a santidade, desde que o fiel cumpra uma
série árdua de práticas religiosas.
"Fiquei muito interessado na ideia de me lançar num trabalho que levasse a
religião muito a sério nos próprios termos dela, não jogando um jogo pelo qual
se aborda a religião já negando sua validade", disse Joffé.
Os membros da Opus Dei que estão por trás do projeto ficaram contentíssimos em
poder contar com Joffé, cuja reputação era de esquerdista político que fez
filmes que postulam perguntas éticas profundas.
Nos anos 1980, Joffé foi indicado ao Oscar de melhor diretor por "Os Gritos do
Silêncio", sobre a guerra genocida no Camboja, e "A Missão", sobre missionários
jesuítas que tentam defender uma tribo sul-americana das garras de comerciantes
portugueses de escravos. Desde então, porém, sua carreira vem perdendo força com
filmes como "A Letra Escarlate" e "Cativeiro", este um terror, que lhe valeram
indicações aos prêmios Framboesa de Ouro, entregues aos piores trabalhos da
indústria cinematográfica.
É provável que o retrato que Joffé fará das ações de Escrivá nos anos 1930 seja
provocativo, especialmente na Europa. Alguns historiadores acusam Escrivá de ter
colaborado com o ditador espanhol Francisco Franco. Joffé disse que, depois de
fazer pesquisas extensas, concluiu que Escrivá fez questão de não fazer nada que
pudesse prejudicar a posição da Igreja na Espanha.
"Ele próprio deixou a Espanha e, basicamente, se manteve longe do país. A
impressão que tenho é que ele não concordava com a política da época e não
queria se envolver com ela", disse o cineasta.
Nos últimos anos, a Opus Dei vem ganhando publicidade tremenda, sobretudo
negativa, com o romance "O Código Da Vinci" (2003), de Dan Brown, e o filme de
2006 baseado no livro. Em ambos, a Opus Dei, que afirma ter mais de 80 mil
membros religiosos e leigos em todo o mundo, é retratada como seita assassina
cujos membros se flagelam e usam correntes farpadas em volta das coxas.
É verdade que alguns crentes praticam o que dizem ser uma forma suave de
"mortificação corporal". Mas o que intensificou a desconfiança em relação ao
grupo é o fato de que alguns de seus integrantes não se identificam
imediatamente como tais e ocupam caros influentes na política e no mundo
empresarial.
O produtor cinematográfico independente Heriberto Schoeffer, de Los Angeles, é
membro da Opus Dei e disse que teve a ideia de fazer um filme dramatizando a
vida de Escrivá após ler um livro sobre a fuga deste, atravessando os Pireneus,
durante a Guerra Civil espanhola.
"Eu só queria que as pessoas enxergassem um lado positivo dele, porque tantas
coisas negativas são ditas sobre ele e a Opus Dei", disse Schoeffer.
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