São Paulo, segunda-feira, 07 de setembro de 2009

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Filme retratará fundador
da Opus Dei

Por LAURIE GOODSTEIN

O cineasta Roland Joffé, que ainda não reconquistou o reconhecimento que ganhou uma geração atrás por "Os Gritos do Silêncio" e "A Missão", está rodando na Argentina um filme sobre o fundador da Opus Dei, organização poderosa e de elite dentro da Igreja Católica.
"There Be Dragons", ambientado durante a Guerra Civil espanhola, entremeia personagens fictícios criados por Joffé com a história do espanhol São Josemaría Escrivá de Balaguer, que fundou a Opus Dei e foi canonizado pela igreja.
O projeto, lançado por um membro da Opus Dei, é parcialmente produzido e financiado por integrantes do grupo e convocou um padre da Opus Dei para prestar consultoria no set de filmagens. A notícia do filme suscitou críticas por parte de alguns ex-membros da Opus Dei, para os quais não passará de propaganda da organização. Mas Joffé disse que recebeu controle criativo completo sobre o filme e que a Opus Dei nunca exerceu qualquer influência sobre ele.
Ele contou que rejeitou o roteiro que lhe foi dado inicialmente, porque não quis fazer "uma cinebiografia" de Escrivá. Mas, acrescentou, ficou intrigado com as ideias de Escrivá sobre o poder do perdão e a capacidade de cada ser humano alcançar a santidade. A Opus Dei ("obra de Deus", em latim) ensina que o trabalho comum pode ser o caminho para a santidade, desde que o fiel cumpra uma série árdua de práticas religiosas.
"Fiquei muito interessado na ideia de me lançar num trabalho que levasse a religião muito a sério nos próprios termos dela, não jogando um jogo pelo qual se aborda a religião já negando sua validade", disse Joffé.
Os membros da Opus Dei que estão por trás do projeto ficaram contentíssimos em poder contar com Joffé, cuja reputação era de esquerdista político que fez filmes que postulam perguntas éticas profundas.
Nos anos 1980, Joffé foi indicado ao Oscar de melhor diretor por "Os Gritos do Silêncio", sobre a guerra genocida no Camboja, e "A Missão", sobre missionários jesuítas que tentam defender uma tribo sul-americana das garras de comerciantes portugueses de escravos. Desde então, porém, sua carreira vem perdendo força com filmes como "A Letra Escarlate" e "Cativeiro", este um terror, que lhe valeram indicações aos prêmios Framboesa de Ouro, entregues aos piores trabalhos da indústria cinematográfica.
É provável que o retrato que Joffé fará das ações de Escrivá nos anos 1930 seja provocativo, especialmente na Europa. Alguns historiadores acusam Escrivá de ter colaborado com o ditador espanhol Francisco Franco. Joffé disse que, depois de fazer pesquisas extensas, concluiu que Escrivá fez questão de não fazer nada que pudesse prejudicar a posição da Igreja na Espanha.
"Ele próprio deixou a Espanha e, basicamente, se manteve longe do país. A impressão que tenho é que ele não concordava com a política da época e não queria se envolver com ela", disse o cineasta.
Nos últimos anos, a Opus Dei vem ganhando publicidade tremenda, sobretudo negativa, com o romance "O Código Da Vinci" (2003), de Dan Brown, e o filme de 2006 baseado no livro. Em ambos, a Opus Dei, que afirma ter mais de 80 mil membros religiosos e leigos em todo o mundo, é retratada como seita assassina cujos membros se flagelam e usam correntes farpadas em volta das coxas.
É verdade que alguns crentes praticam o que dizem ser uma forma suave de "mortificação corporal". Mas o que intensificou a desconfiança em relação ao grupo é o fato de que alguns de seus integrantes não se identificam imediatamente como tais e ocupam caros influentes na política e no mundo empresarial.
O produtor cinematográfico independente Heriberto Schoeffer, de Los Angeles, é membro da Opus Dei e disse que teve a ideia de fazer um filme dramatizando a vida de Escrivá após ler um livro sobre a fuga deste, atravessando os Pireneus, durante a Guerra Civil espanhola.
"Eu só queria que as pessoas enxergassem um lado positivo dele, porque tantas coisas negativas são ditas sobre ele e a Opus Dei", disse Schoeffer.


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