São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Indianos que voltam a seu país sofrem com choque cultural

Por HEATHER TIMMONS

Nova Déli
Nos últimos anos, a Índia recebeu de volta dezenas de milhares de ex-emigrantes e seus filhos. Mas muitos indianos que passaram a maior parte da vida na América do Norte e na Europa estão descobrindo que não podem mais voltar para casa.
Para muitos "regressados", os laços culturais e as oportunidades de vida que os atraíram a voltar são superados por culturas no local de trabalho que parecem estranhas e podem ser frustrantes. Algumas vezes, os regressados descobrem que têm mais em comum em suas atitudes e perspectivas com outros americanos ou britânicos do que com os indianos.
Cerca de 100 mil regressados vão se mudar dos EUA para a Índia nos próximos cinco anos, segundo estimativas de Vivek Wadhwa, pesquisador-associado da Universidade Harvard que estudou o tema. Esses repatriados, ou "repats", como são conhecidos, são atraídos pelo forte crescimento econômico da Índia, a oportunidade de enfrentar problemas complexos e de aprender mais sobre seu legado cultural. Eles estão abrindo novos negócios e entrando em empresas multinacionais ou até na sonolenta burocracia oficial indiana.
Mas um estudo de Wadhwa e outros acadêmicos descobriu que 34% dos repats acharam difícil voltar à Índia -comparados com apenas 13% de imigrantes indianos que acharam difícil se instalar nos EUA. Os repatriados se queixaram de trânsito, infraestrutura, burocracia e poluição.
Os regressados encontram problemas quando "parecem indianos, mas pensam [como] americanos", disse Anjali Bansal, sócia-gerente na Índia da Spencer Stuart, empresa global de pesquisa de executivos. As pessoas esperam que eles conheçam o país por causa de sua aparência, mas eles podem não estar habituados com o funcionamento das coisas, ela disse. De maneira semelhante, quando as coisas não funcionam como nos Estados Unidos ou no Reino Unido, os repatriados às vezes se queixam.
"Pode parecer que a Índia tem uma maneira de funcionar muito ambígua e caótica, mas funciona", disse Bansal. "Já ouvi pessoas dizerem coisas como 'É tão ineficiente' ou 'É tão antiprofissional'." Ela disse que seria mais construtivo simplesmente aceitar os costumes desconhecidos.
Para Shiva Ayyadurai, isso não foi fácil. Quase quatro décadas atrás, aos sete anos, ele deixou Mumbai com sua família, mas prometeu a si mesmo que um dia voltaria para ajudar seu país.
Em junho, Ayyadurai, hoje com 45, mudou-se de Boston (EUA) para Nova Déli, esperando cumprir aquela promessa. Empresário e professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele foi o primeiro recruta de um ambicioso programa do governo para atrair cientistas talentosos da diáspora indiana de volta para sua terra.
"Parecia perfeita", ele disse recentemente sobre a oportunidade de emprego. Não foi.
Como Ayyadurai vê hoje, sua educação ocidental em economia chocou-se com o governo notoriamente ineficaz e opaco da Índia, e as coisas foram piorando a partir daí. Em poucas semanas, ele e seu chefe estavam brigando. Em outubro sua oferta de emprego foi retirada. Ayyadurai voltou para Boston.
Enquanto vários autores de origem indiana escreveram volumes comoventes sobre seu retorno à Índia e há dezenas de livros para expatriados ocidentais que desejam fazer negócios ali, as diretrizes para o gerente ou empresário indiano que retorna ainda estão sendo traçadas.
É inevitável passar muito tempo trabalhando no país, dizem os retornados. "E há tantas coisas capciosas para se fazer negócios na Índia que demoramos anos para descobrir", disse Sanjay Kamlani, coexecutivo-chefe do Pangea3, escritório de advocacia terceirizado com atuação em Nova York e Mumbai. Kamlani nasceu em Miami, para onde seus pais emigraram de Mumbai, mas ele abriu dois escritórios com operações na Índia.
Quando Kamlani começou a contratar na Índia, descobriu um fenômeno completamente inesperado: alguns novos recrutas não apareciam para trabalhar no primeiro dia. Então, suas mães telefonavam para dizer que seus filhos estavam doentes; isso se repetia durante vários dias. O patrão percebeu que eles nunca pretenderam ir, mas "existe um desejo cultural de evitar o confronto".


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