São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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LENTE

Em recuperação

Com seus imponentes "home runs" e sua forma física insuperável, ele poderia ser o jogador dos sonhos de qualquer torcedor do beisebol.
Mas Alex Rodriguez costumava ser vaiado no estádio e vilipendiado na imprensa. Achavam que ele era egoísta, distante e ganhava demais. Seu flerte escancarado com Madonna, após um súbito rompimento com sua mulher, pareceu macular ainda mais sua imagem. E, quando neste ano veio à tona um caso de doping, tudo parecia irremediável.
Mas algo estranho ocorreu. A-Rod voltou. Começou com um mea-culpa completo, sem qualquer sinal de contestação ou negação. E então ele jogou de forma tão brilhante quanto antes, mas com uma eficiência discreta. Ajudou o New York Yankees a conquistar seu 27º título mundial.
A torcida foi à loucura.
Parece uma fórmula direta para quem precisa se recuperar: um pedido honesto de desculpas, seguido por muito trabalho e sucesso. Mas, para quem busca uma fugidia segunda chance, pode não haver regras tão claras.
"Onde foi que eu errei?", perguntou Adnan Khashoggi, ex-comerciante saudita de armas. "Em lugar algum."
Lá se vão os mea-culpas.
Conhecido por sua vida suntuosa, Khashoggi pode ter chegado a ser o homem mais rico do mundo nos anos 1980. Até que uma pletora de escândalos o levou à falência. Hoje, está se reinventando como consultor, usando as conexões cultivadas na época em que vendia armas, segundo o "New York Times". Trocou o jatinho particular pelos voos comerciais. Mas ainda enfatiza a imagem e a percepção.
"É tudo parte do mecanismo para impressionar as pessoas com sua conversa, com suas opiniões, com sua aparência", disse.
A imagem e a percepção também ajudaram o mulá Omar, sem a opulência. O líder do Taleban, cego de um olho e com uma precária educação, fugiu de Cabul em 2001, mas realizou aquilo que Bruce Riedel, ex-agente da CIA, qualificou como "um dos reaparecimentos militares mais notáveis da história moderna".
Conforme noticiou o "Times", a "reputada humildade" do mulá Omar e sua atuação legendária na luta contra os soviéticos, na década de 1980, ajudaram a inspirar devoção entre seus admiradores, que o veem como um igual.
"Seus seguidores o adoram e estão dispostos a morrer por ele", disse o jornalista paquistanês Rahimullah Yusufzai ao "Times".
Ironicamente, a mesma dinâmica "ele-é-dos-nossos" pode ajudar o maior antagonista do mulá Omar na sua recuperação. No final do seu mandato, com baixíssima aprovação popular, George W. Bush se gabava de que ganharia quantias "absurdas" no circuito das conferências. Até agora, isso não aconteceu.
Em outubro, porém, Bush falou num seminário chamado Motive-se, no Texas. Não houve pedidos de desculpas no estilo A-Rod, mas, enquanto comediantes zombavam do ingresso a meros US$ 19, o ex-presidente parecia tocar a plateia.
Um dos espectadores disse ao "Washington Post" que a oratória dele soa "incompetente se você for presidente". "Mas aqui ela pode ser inspiradora. Faz com que ele pareça um sujeito comum, em nada melhor do que eu."


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