São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Novas regras e novas taxas para cartões de crédito

Dean Sewell para o New York Times
Steve Franklin, com suas filhas Imogen (no canto esq.) e Sheridan, foi surpreendido com uma taxa adicional de 5,6% cobrada em seu cartão de crédito

Por KEITH BRADSHER

SYDNEY, Austrália - Em junho, quando comprou quatro passagens aéreas da empresa Qantas, Steve Franklin teve uma despesa inesperada: uma taxa adicional de 7,70 dólares australianos sobre cada passagem de 136,70 dólares -só por ter usado seu cartão de crédito Visa.
Franklin, que planejava levar seus pais e suas filhas gêmeas de sete anos de Sydney a Adelaide de avião, sabia que mudanças nas regras dos cartões de crédito tinham afetado o custo do uso dos cartões, mas a taxa adicional de 5,6% lhe pareceu excessiva.
A taxa foi consequência de mudanças nas regras dos cartões de crédito na Austrália, que visaram em parte reduzir o custo das tarifas ocultas. Mas a lei, aprovada há seis anos, também permitiu que as empresas impusessem novas taxas, em alguns casos superiores às antigas.
Hoje, no momento em que o Congresso dos EUA discute como impor limites às empresas de cartões de crédito e de débito, a experiência da Austrália é citada como exemplo de quão complicado isso pode ser: se os reguladores limitam uma taxa, os bancos encontram outra maneira de continuar a ganhar dinheiro.
Assim como na Austrália, os valores em jogo em EUA e outros países são altos. Como seus colegas australianos, os comerciantes americanos reclamam que as taxas altas que pagam às empresas de cartões de crédito e aos bancos os obrigam a elevar os preços -mesmo para os consumidores que pagam em dinheiro. Nos EUA, o Escritório de Contabilidade do Governo divulgou relatório em novembro mostrando que os consumidores que não usam cartões de crédito "podem ser prejudicados ao pagar preços mais altos por bens e serviços, já que os comerciantes repassam aos fregueses os custos recentes de sua aceitação de cartões de crédito".
A Choice, principal federação de consumidores da Austrália, diz que, embora os regulamentos impostos no país tenham tido consequências não pretendidas, incentivou varejistas e consumidores a usar mais seus cartões de débito, que têm custos de processamento muito mais baixos, em vez dos cartões de crédito. "Fico louco quando vejo pessoas comprando chiclete com cartão de crédito", disse o porta-voz da Choice, Christopher Zinn. "Todos nós pagamos por isso."
Embora muitas pessoas não tenham consciência disso, os comerciantes de muitos países recebem US$ 0,98 ou menos sobre cada dólar pago a eles com cartão de crédito; os outros dois centavos ficam com bancos e administradoras de cartões.
Os bancos usam esse dinheiro para cobrir suas perdas com inadimplência, compensar pelos juros que deixam de receber sobre o dinheiro até o consumidor pagar sua conta de cartão, por seu sistema informatizado e seus funcionários. Os bancos também pagam Visa e MasterCard pelo marketing e suas redes digitais.
Mas as taxas também geram dezenas de bilhões de dólares de receita anual aos bancos. Só nos EUA, os bancos que emitem cartões de crédito recebem estimados US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões por ano das taxas interbancárias, que são o maior componente isolado das taxas cobradas dos comerciantes. Bancos e empresas de cartões de crédito fazem lobby intensivo contra as mudanças propostas e avisam que a redução das taxas os levará a reduzir o crédito e elevar o custo dos cartões, em um momento em que a economia precisa de crédito para sustentar sua recuperação.
Parte disso já aconteceu na Austrália, onde, em 2003, após anos de queixas do setor varejista, o Banco Central exigiu que fossem reduzidas pela metade, para menos de um centavo, as taxas interbancárias que os comerciantes pagam aos bancos que emitem cartões Visa e MasterCard.
A diferença pode parecer pequena -o que é um centavo?-, mas os bancos e as empresas de cartões dizem que a redução das taxas já lhes custou cerca de 1 bilhão de dólares australianos ao ano. E eles se voltaram aos consumidores para compensar isso.
Desde que as medidas impostas pelo governo entraram em vigor, os bancos australianos reduziram os benefícios dos cartões de crédito e os programas de recompensas, como milhagens de voo. Fato talvez ainda mais incômodo, as empresas australianas, incluindo o setor varejista, restaurantes e companhias aéreas, estão impondo taxas adicionais sobre cada transação feita com cartão de crédito, apesar de as taxas que elas pagam às administradoras de cartões terem diminuído.
A rede de hotéis Accor, por exemplo, introduziu uma taxa adicional de 1,5% para clientes que pagam com cartão. "Isso beneficia nossa margem de lucro", disse Michael Issenberg, presidente da Accor para a região Ásia e Pacífico, acrescentando que a rede não tem enfrentado muita resistência por parte dos consumidores.


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