São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Babá" força motoristas a desligar o celular

Como prestar mais atenção ao tráfego que ao telefone

Por SAM GROBART

O celular é uma companhia constante para Dede Haskins há mais de uma década. E ela sempre se considerou uma motorista cuidadosa -a ponto de usar um viva-voz para manter ambas as mãos no volante.
Mas, após deixar passar muitas saídas por estar distraída com telefonemas, Haskins decidiu jogar duro consigo mesma e assinou o serviço gratuito ZoomSafer, que, usando os sensores de GPS do celular, desativa o telefone enquanto o carro estiver em movimento.
"Realmente adoro o meu celular", disse Haskins, executiva-chefe de uma empresa de softwares em Washington. "Mas sei que não estou dirigindo de forma segura se o uso enquanto estou atrás do volante."
É claro que há uma solução mais simples e sem custos: o botão "desliga". Mas acioná-lo é difícil para muita gente viciada em seus equipamentos. Então, algumas empresas estão tentando resolver com mais tecnologia um problema causado pela própria tecnologia.
Mas as soluções refletem respostas notavelmente díspares para uma pergunta simples: até que ponto se pode confiar nos motoristas?
Um grupo de empresas pressupõe que algumas pessoas não confiam em si mesmas e, portanto, querem um serviço que desative automaticamente o seu celular num veículo em movimento. Mas outras empresas acham que o hábito pode ficar mais seguro com tecnologias de voz. A Ford e a Microsoft, por exemplo, estão vendendo sistemas que usam comandos de fala para discar números.
Os dispositivos que liberam as mãos são mais populares. Mas é a tecnologia de desligamento dos celulares que tem chamado a atenção das grandes seguradoras. Isso porque alguns estudos mostram que conversar ao telefone e dirigir ao mesmo tempo é perigoso, mesmo que o motorista use um fone de ouvido e tenha as duas mãos no volante. Uma seguradora promete até mesmo descontos aos clientes que usarem um serviço de bloqueio de chamadas.
Várias empresas novas, como ZoomSafer, Aegis Mobility e obdEdge usam sistemas que restringem os telefones com base no GPS, em dados do próprio veículo e nos sinais das torres próximas de telefonia celular. Qualquer chamada recebida é desviada para a caixa postal ou para uma mensagem explicando que o dono do telefone está dirigindo. Pode haver exceções para certos números.
Os passageiros podem dispensar esse sistema, mas, em muitos casos, essa ação leva ao envio automático de um e-mail ao administrador da conta -digamos, um pai ou empregador- alertando que o celular está em uso.
Patrões que desejam fiscalizar a proibição do uso de celulares são os clientes mais óbvios. A empresa de cafés Community Coffee, da Louisiana (EUA), impõe tal proibição a seus 400 caminhoneiros há três anos, o que teria ajudado a reduzir a taxa de acidentes em 30%.
Em agosto, a empresa começou a testar um sistema de bloqueio da obdEdge, o Cellcontrol. A obdEdge cobra do cliente uma taxa de US$ 85, mais US$ 5 mensais, por cada veículo equipado com o Cellcontrol.
"Percebemos que tínhamos de ir além da educação e das diretrizes", disse Jamey LeBlanc, gestor de riscos da Community Coffee. "Você está indo contra a natureza humana aqui, então precisa de algo que funcione independentemente disso."
Donald Powers, sócio-gerente da obdEdge, acha que, "se pudéssemos nos controlar, não precisaríamos de nenhuma dessas tecnologias". "Sabemos que é um hábito muito ruim, mas ansiamos por estar conectados."
Outras empresas insistem em que não se trata de um hábito tão ruim e que ele pode ser mitigado usando carros com tecnologias de reconhecimento de voz e transformação de fala em texto.
Tais sistemas costumam ser desenvolvidos e promovidos por alguns dos maiores nomes dos setores de eletrônica e automóveis e também por grupos setoriais bem financiados, como a Associação dos Eletrônicos de Consumo e a CTIA, que reúne empresas de wireless. A Ford e a Microsoft, por exemplo, se juntaram para desenvolver o sistema Sync, que usa comandos de voz para chamar um nome que conste na agenda do telefone. Ele pode também ler em voz alta mensagens de texto que cheguem.
Em 2008, 918 mil sistemas viva-voz foram instalados em carros, segundo a Associação dos Eletrônicos de Consumo. Até o final de 2009, a entidade estima que a cifra subirá a 1,6 milhão.
"Estamos tentando pegar o que as pessoas estão fazendo e tornar mais seguro", disse Doug VanDagens, diretor do projeto Sync na Ford. "A voz oferece as opções mais seguras e mantém os olhos do motorista na estrada."


Texto Anterior: CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Celulares servem como bibliotecas de bolso

Próximo Texto: Cresce risco de incêndio de eletrônicos em aviões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.