Por RACHEL L. SWARNS

WASHINGTON - Os assessores seniores do presidente dos EUA, Barack Obama, se reúnem duas vezes por mês para discutir estratégias para melhorar a saúde das crianças americanas. Entre secretários-assistentes, chefes de gabinete e assessores, um lugar é ocupado por um participante improvável: o mais novo chef de cozinha da Casa Branca.
Seu nome é Sam Kass. E, quando não está grelhando peixes para a primeira-família ou cultivando tomatillos (planta semelhante ao tomate) na horta da Casa Branca, ele estuda os detalhes da legislação sobre nutrição infantil, do financiamento do programa de merenda escolar e das melhores táticas para combater a obesidade infantil.
Em parte chef e em parte especialista em política nutricional, Kass está reinventando o papel do gastrônomo oficial dos EUA. Funcionários de Obama o descrevem como canal vital de acesso à primeira-família. "Como faço para entrar em contato com a primeira-dama, para tentar transmitir ideias a ela? Passando por Sam Kass", disse Kathleen Merrigan, vice-secretária de Agricultura.
Kass, 29, criou um vínculo estreito com os Obama quando cozinhou para eles, durante cerca de dois anos, antes de eles se mudarem para Washington. Nos bastidores, ele assiste a briefings sobre nutrição e saúde infantil, já avaliou organizações sem fins lucrativos para serem potenciais parceiras em iniciativas da Casa Branca ligadas à alimentação e frequentemente conversa com assessores seniores sobre questões de política.
Para alguns ex-funcionários da Casa Branca, o fato é motivo de espanto. Walter Scheib, que foi chef-executivo da Casa Branca nos governos Clinton e Bush, diz que o envolvimento de Sam Kass em política pública é algo singular. "É fantástico que alguém que ainda esteja na cozinha, fatiando, assando, cozinhando fisicamente, e não só falando sobre cozinhar, faça parte dessa discussão", opinou.
Kass não fez estudos formais de culinária e nunca comandou um restaurante ou a cozinha de um hotel. Ele se formou em história na Universidade de Chicago e burilou sua habilidade culinária no restaurante Avec, em Chicago, antes de tornar-se chef particular.
Nos últimos meses, ele emergiu como um dos mais destacados defensores da agenda de vida saudável de Michelle Obama. Ele já fritou omeletes com folhas de beterraba suíças para estudantes no gramado da Casa Branca, preparou saladas de frango com cebolas vermelhas e amêndoas torradas na cafeteria do Departamento de Agricultura e espalhou farinha de caranguejo e besouros sobre a horta da primeira-dama, em lugar de pesticidas químicos.
"Olhamos à nossa volta [nos EUA] e vemos que muitos grandes desafios têm sua origem na alimentação", disse Kass.
"Cozinhar para o prazer das pessoas obviamente é algo agradável, mas a razão número um pela qual comemos é para nos nutrir e cuidar da saúde."
Os partidários da agricultura sustentável e dos alimentos orgânicos, de cultivo local, aplaudem o trabalho de Kass. Dan Barber, chef do Blue Hill, em Nova York, disse que Michelle Obama e Sam Kass estão ajudando os americanos "a pensar a comida de maneira diferente".
Mas, depois de Kass afirmar que não seriam usados pesticidas na horta da Casa Branca, a MidAmerica CropLife Association, grupo setor de agroquímicos, pediu a Michelle Obama que reconheça os benefícios da agricultura convencional para as famílias que não têm tempo ou meios para cultivar hortas em seus quintais.
Kass e outros funcionários governamentais dizem que a melhora da qualidade da merenda escolar americana eo maior acesso a feiras de produtores vão beneficiar a população pobre.
Mas ele tem consciência das dificuldades. Numa visita a uma escola que se orgulha dos almoços saudáveis que serve a seus alunos, ele observou, aflito, alunos tirando pedaços de verduras de suas pizzas. "[A comida] tem de ser gostosa, entende?", disse ele. "Por mais saudável que seja, eles não vão comer se o sabor não for bom."


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