São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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LENTE

O custo da informação gratuita

A era digital oferece um fluxo contínuo de novos e maravilhosos gadgets e um universo crescente de ideias, entretenimento e opiniões, a maioria acessível gratuitamente na internet.
O que há de errado nisso?
Muita coisa, se acreditarmos em algumas poucas, rabugentas mas expressivas vozes do contra.
A perspectiva de perder suas carreiras certamente não leva os jornalistas da mídia impressa a adorar a revolução digital. Como os leitores se acostumaram a encontrar conteúdos gratuitos na internet, a receita de circulação e anúncios da maioria dos jornais e revistas caiu vertiginosamente. A mídia antiga se esforça para adaptar-se a um ambiente em transformação, mas ainda não surgiu nenhuma solução evidente. Algumas publicações creem que e-readers, como o Kindle, da Amazon, e o novo iPad, da Apple, possam representar um veículo novo e possivelmente lucrativo para seus conteúdos.
Falando de Steve Jobs, executivo-chefe da Apple, uma fonte bem informada sugeriu ao "New York Times" que pelo menos um líder das novas mídias não quer apressar a morte das publicações tradicionais: "Steve acredita no valor da mídia antiga. Ele acha que a democracia depende da presença de uma imprensa livre, e esta depende da existência de uma imprensa profissional".
Enquanto isso, algumas dessas empresas, incluindo a New York Times, buscam maneiras de cobrar por seus conteúdos na internet sem afastar leitores.
Mas o exemplo dado por um jornal da região de Nova York não é animador. Desde outubro, o "Newsday", de Long Island, passou a cobrar de seus leitores US$ 5 por semana para terem acesso pleno a seus conteúdos. Até 26 de janeiro, apenas 35 pessoas tinham feito a assinatura (embora os assinantes do jornal, cerca de 400 mil, naveguem livremente pelo site).
Mesmo defensores da web em seus primórdios agora questionam o rumo que ela vem seguindo. Um exemplo é Jaron Lanier, pioneiro cientista da computação que hoje lança avisos sobre o "pensamento de colmeia" e o "maoísmo digital" que estariam tomando conta da web, relatou o "Times". Em seu livro "You Are Not a Gadget", Lanier escreve que "escritores, jornalistas, músicos e artistas são incentivados a tratar os frutos de seus intelectos como fragmentos a serem dados gratuitamente à mente colmeia".
Outro grupo cético, o dos músicos, também tem se manifestado contra os avanços; alguns o fazem, apegando-se ao som mais caloroso de artefatos analógicos, como discos de vinil e fitas magnéticas. Quanto ao MP3, ele pode ser prático, mas muitos questionam a qualidade de seu som e os efeitos de longo prazo dos downloads musicais fáceis ou gratuitos.
"Diria que este é o pior momento para relacionar-se com as pessoas por meio da música", disse ao "Times" Jack White, do The White Stripes. "A geração de hoje se acha no direito de muita coisa. Ela não compra o CD, mas o descarrega e o dá de presente a seus amigos." Ou, como disse o músico Neil Young, "a Apple converteu a música em papel de parede".


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