São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Países dão impulso às bicicletas

Por J. DAVID GOODMAN
XANGAI
Detroit pode estar apresentando projetos de carros elétricos e a China pode estar progredindo com uma grande expansão de suas rodovias e trens. Mas os entregadores de Nova York, os carteiros na Alemanha e os usuários de transporte público do Canadá ao Japão estão entre os milhões que participam de uma revolução mais casual nos transportes.
Ela começou na China, onde se estima que hoje 120 milhões de bicicletas elétricas estejam em trânsito pelas ruas, contra alguns milhares na década de 1990. Elas estão substituindo as bicicletas e motocicletas tradicionais em um ritmo acelerado e permitindo que muitos deixem de usar carros.
A florescente indústria chinesa de bicicletas elétricas está despertando o interesse mundial e instigando as vendas em Índia, Europa e EUA. A China exporta muitas bicicletas, e os fabricantes ocidentais também copiam a tendência e produzem seus próprios modelos. De virtualmente nada uma década atrás, as bicicletas elétricas tornaram-se uma indústria global de US$ 11 bilhões.
"É um milagre -ela elimina as subidas do trajeto", disse Roger Philips, 78, que trafega em uma bicicleta elétrica por Manhattan.
As bicicletas elétricas foram um "presente de Deus" para os fabricantes, disse Edward Benjamin, consultor independente do setor, não só porque elas custam mais -geralmente de US$ 1.500 a US$ 3.000-, mas também porque incluem mais peças, como baterias, que precisam ser substituídas regularmente.
Na Holanda, um terço do dinheiro gasto em bicicletas no ano passado foi em modelos movidos a eletricidade. Especialistas preveem um crescimento semelhante em outros lugares da Europa, especialmente Alemanha, França e Itália, conforme o crescente interesse por pedalar coincide com o envelhecimento da população. A Índia virtualmente não tinha o produto até dois anos atrás, mas seu mercado nascente está se expandindo rapidamente e poderá eclipsar o europeu em 2011.
"Houve um crescimento tremendo nos últimos dois anos", disse Naveen Munjal, diretor-gerente da Hero Electric, uma divisão da maior fabricante indiana de bicicletas e motos. Ele espera que as vendas da Hero aumentem para 250 mil unidades em 2012, contra 100 mil em 2009.
O mercado americano ainda é modesto -cerca de 200 mil bicicletas vendidas no ano passado, segundo estimativas-, mas o interesse está crescendo, segundo Jay Townley, consultor da indústria ciclística. A varejista Best Buy começou a vender bicicletas elétricas em junho em 19 lojas.
Com o desenvolvimento do mercado global, estão surgindo dois tipos de bicicletas elétricas. Uma é semelhante ao modelo-padrão com pedais, mas tem um motor elétrico que funciona sob comando ou quando o ciclista pedala.
Na China, as bicicletas elétricas evoluíram para máquinas maiores que têm pedais pequenos que a maioria dos ciclistas não usa, trafegando totalmente com a energia da bateria. As bicicletas podem rodar a até 50 km/h, com autonomia de 80 km com a bateria carregada.
Esses modelos maiores têm provocado dor de cabeça nos planejadores de transportes globais. Eles não conseguem decidir se os adotam como uma forma de transporte verde, ou os proíbem como um risco para a segurança.
Para cada quilômetro percorrido, as bicicletas elétricas causam menos emissões de gases associados ao aquecimento global do que os carros. Mas um modelo típico chinês usa cinco baterias durante sua vida útil, cada qual contendo de 10 a 14 quilos de chumbo. Em áreas sem programas de reciclagem, o potencial de poluição ambiental é alto.
Um "ciclista elétrico" também tem maior probabilidade do que um motorista de carro de ser morto ou ferido em uma colisão, e com o aumento do número desses ciclistas as fatalidades na China também cresceram. Os ciclistas elétricos muitas vezes preferem usar as faixas exclusivas para bicicletas, onde se misturam com bicicletas comuns, mais lentas, e pedestres, aumentando o perigo de acidentes.
Em Nova York e em partes da Europa, os ciclistas relataram o assédio dos ciclistas regulares quando usam essas pistas.
Jessy Wijzenbeek-Voet, 71, disse que recebe olhares irados de outros ciclistas quando vai às compras com sua bicicleta elétrica, na Holanda. "Eles olham para mim e se perguntam: 'Como é possível que aquela senhora rode tão depressa?'"


Colaborou Fan Wenxin, em Xangai



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