São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Internautas ganham papel ativo em museus on-line

Por ALEX WRIGHT
Nos últimos anos, a ascensão da mídia social vem proporcionando aos internautas meios para exercer um papel mais ativo no direcionamento de coleções de museus.
Em Varsóvia, enquanto equipes mal começaram a erguer o Museu da História dos Judeus Poloneses, que deve abrir em 2012, mais de 800 internautas já se cadastraram no projeto Shtetl (cidade judaica) Virtual para ajudar a montar uma coleção de mais de 30 mil fotos, vídeos e gravações em áudio relativos à vida de populações judias antes e depois da Segunda Guerra.
Certo dia no ano passado, Artur Cyruk estava em um lixão de carros em sua Província natal de Podlasie, Polônia, quando encontrou por acaso a capa de uma Torá do século 19 lindamente preservada. Cyruk levou o objeto para casa, entrou em sua conta no Shtetl Virtual e carregou uma foto. Dias depois, os curadores do museu já tinham entrado em contato com ele para tentar adquirir a capa da Torá para a coleção permanente do museu.
No Museu Smithsonian de Arte Americana, em Washington, está começando um diálogo sobre as mudanças nos papéis dos curadores no mundo da web 2.0. Recentemente, o museu lançou a ambiciosa iniciativa Smithsonian Commons, para desenvolver tecnologias e acordos de licenciamento que permitam a visitantes descarregar, compartilhar e remixar o imenso acervo de bens de domínio público do museu.
Michael Edson, diretor de novas mídias do Smithsonian, descreveu a iniciativa como um passo na missão mais ampla de passar "de uma plataforma de difusão centrada na autoridade para outra que reconheça a importância da criação de conhecimento distributivo".
Existe o risco de serem promovidas informações equivocadas e de a autoridade dos curadores institucionais ser amesquinhada. Nesse sentido, os museus estão diante do mesmo dilema tecnológico enfrentado por outras instituições culturais, como universidades e jornais: como conciliar os princípios institucionais da ordem com os impulsos libertadores da rede?
"Muitos museus receiam a perda de controle", explicou Nina Simon, designer que está escrevendo um livro sobre experiências participativas em museus.
Os partidários das novas mídias argumentam que as contribuições via web podem incrementar o valor dos julgamentos dos curadores. "Os curadores começam a perceber que podem ser desafiados por uma plateia", disse Pascale Bastide, parisiense fundadora do Museu da Civilização Afegã, instituição inteiramente baseada na web que deve ser lançada neste ano.
O museu vai começar como uma coleção virtual de imagens obtidas em outros museus, mas, após entrar em funcionamento, disse Bastide, será ampliado para incluir contribuições de usuários. Na esperança de obter imagens originais de cidadãos afegãos, vai aceitar fotos feitas e enviadas por celulares, que são mais comuns que computadores no Afeganistão.
Michael Edson disse que o incentivo à participação não significa que um museu abdica de seu controle de curador. "Mas, em nossos tempos, a autoridade e a confiança [do museu] serão concedidas às instituições de forma diferente -por meio da transparência, da velocidade e da orientação ao público."
Em última análise, a viabilidade das coleções de museus mantidas pela web pode depender da habilidade dos curadores em atrelar as tecnologias da participação, sem comprometer seu julgamento. "Os museus sempre terão o conhecimento especializado, mas talvez tenham que se dispor a compartilhar o poder", disse Nina Simon.


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