São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vale afegão serve de teste para estratégia americana

Por SABRINA TAVERNISE

JALREZ BAZAAR, Afeganistão — Há um ano, o Taleban atormentava o vale fértil de Jalrez, a poucos quilômetros da capital afegã, sequestrando pessoas e bloqueando a estrada.
Isso mudou em fevereiro, com a chegada de tropas americanas. Os soldados chegaram em helicópteros e montaram três acampamentos onde antes não havia nenhum, esperando combate. Em vez disso, o Taleban praticamente não opôs resistência e partiu para outras áreas. Hoje, caminhões trafegam pela estrada, e comerciantes não temem mais por suas vidas.
“Comparada com o ano passado, a situação está 100% diferente”, disse Muhamed Zaker, plantador de maçãs na região.
O vale de Jalrez é um caso-teste, a primeira área no Afeganistão onde está sendo aplicada a estratégia do presidente dos EUA, Barack Obama, de elevar o número das tropas americanas, e representa um primeiro indicador promissor.
Mas, no Afeganistão, país de complexa colcha de retalhos de tribos, etnias e rivalidades, ainda não está claro se será possível reproduzir o êxito inicial obtido nessa área. No trabalho complicado da contrainsurgência, a segurança requer mais do que apenas soldados adicionais. Significa oferecer aos afegãos razões para rejeitarem os insurgentes, proporcionando a eles os instrumentos básicos de um Estado: força policial eficaz, serviços governamentais e oportunidades econômicas, para que possam trabalhar em vez de recorrer às armas.
O secretário da Defesa americano, Robert Gates, disse que as tropas no Afeganistão têm cerca de um ano para mostrar que são capazes de inverter o rumo da guerra. Mas, num país em que apenas um terço da população é alfabetizada e onde falta até a infraestrutura mais rudimentar, comandantes de campo dizem que apressar o processo seria um erro.
Um problema é que os ganhos obtidos em Jalrez podem ser temporários. Os insurgentes regularmente se afastam de lugares onde aparecem americanos, apenas para retornar mais tarde.
Quando os americanos chegaram a Jalrez, o vale era controlado pelo Taleban havia mais de um ano. Uma unidade de 200 soldados americanos tinha patrulhado uma área de meio milhão de pessoas, e sua presença era tão esparsa que seu capitão precisava dirigir 12 horas para fazer uma reunião com uma liderança local.
As humilhações tinham se tornado rotineiras: o Taleban pintava de preto os rostos dos homens que dizia serem ladrões e os desfilava em público. Em Jalrez Bazaar, no oeste do vale, oito pessoas foram mortas pelo grupo em 2008, segundo moradores.
Temendo que o Taleban estivesse reforçando seu domínio em volta de Cabul, os americanos foram enviados para fazer a segurança de duas Províncias ao sul e oeste da capital, Logar e Wardak, que funcionam como porta de acesso à capital e pelas quais passa a principal rodovia norte-sul do Afeganistão. Então houve a primeira surpresa: em lugar de resistir, o Taleban partiu para outras áreas.
A razão, segundo oficiais americanos, foi uma matemática simples. O novo contingente multiplicou por dez o número de soldados americanos na área. “A massa conta”, comentou o tenente-coronel Kimo Gallahue, comandante do novo batalhão.
A vida dos afegãos melhorou —fato que, para os moradores de Jalrez Bazaar, supera a irritação de ter tropas estrangeiras em solo afegão. “As pessoas os odeiam, mas é melhor tê-los aqui”, explicou o lavrador Shah Mahmoud, 70. Se houver segurança, “não vamos mais precisar dos americanos, e eles não precisarão de nós”.
Os americanos procuram um ponto de equilíbrio delicado entre atrair os camponeses com a construção de obras públicas, por um lado, e, por outro, continuar a exercer pressão sobre os insurgentes nas mesmas áreas. Os avanços são lentos.
Os americanos dizem que o esforço em Wardak pode ter êxito se houver tempo suficiente. Pashtuns estão começando aos poucos a oferecer-se para ingressar nas forças de guarda. Moradores locais estão começando a passar informações. “As coisas estão avançando o mais rapidamente possível”, disse o assessor político das forças americanas, Matthew Sherman. “Se forçarmos demais, não dará certo.”


Colaborou Abdul Waheed Wafa


Texto Anterior: Tendências Mundiais
Presidente é inspiração e filão para pintores

Próximo Texto: Retórica presidencial mira inimigos, sejam reais ou imaginários
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.