São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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ANÁLISE

Como incluir a diplomacia no arsenal dos EUA


Gabinete de Obama terá de equilibrar armas e ajuda humanitária

Por DAVID E. SANGER

WASHINGTON - Quando Barack Obama anunciou sua equipe de segurança nacional, na última segunda-feira, ela incluía dois veteranos da Guerra Fria e uma adversária política, todos donos de um histórico bem mais belicoso do que o do novo presidente.
Mas esses três escolhidos -a senadora Hillary Clinton, que de rival passa a secretária de Estado; o general James Jones, ex-comandante da Otan (aliança militar ocidental), que será assessor de segurança nacional; e Robert Gates, mantido como secretário de Defesa -abraçaram a causa de uma profunda mudança de prioridades e recursos na segurança nacional.
Isso deve ampliar enormemente o corpo de diplomatas e agentes humanitários dos EUA, os quais, na visão do futuro governo Obama, se envolverão em projetos de prevenção de conflitos e recuperação de instituições no mundo inteiro.
Segundo um importante assessor do presidente eleito, o novo gabinete concorda com "um reequilíbrio da pasta de segurança nacional", depois dos enormes investimentos militares no governo de George W. Bush. Caso o governo Obama consiga realizar a mudança, "será a sua grande experiência de política externa", disse ele, sob a condição de anonimato.
Denis McDonough, consultor de política externa de Obama, apresentou a questão de forma ligeiramente diferente. "Não se trata de uma experiência, mas de uma solução pragmática para um problema há muito reconhecido", afirmou. "Durante a campanha, Obama investiu muito tempo buscando militares da reserva e jovens oficiais que serviram no Iraque e no Afeganistão, para aproveitar as lições aprendidas. Não havia uma só reunião que não incluísse uma discussão sobre a necessidade de fortalecer e integrar as demais ferramentas do poderio nacional para ter sucesso contra ameaças não convencionais."
Os assessores de Obama dizem já se preparar para acusações da direita por causa dos investimentos sociais, embora o próprio Bush tenha repetidamente anunciado tal direção a partir de 2005.
Mas assessores também esperam discussões dentro do próprio Partido Democrata sobre se os bilhões de dólares prometidos por Obama para reconstruir o Afeganistão não seriam mais bem gastos na criação de empregos dentro dos EUA.
A melhor defesa para Obama pode partir de Gates, ex-diretor da CIA e figura de destaque na Guerra Fria. Há um ano, diante do silêncio de Bush, Gates passou a falar sobre a impossibilidade de uma vitória militar em algumas guerras. Ele denunciou "o esvaziamento da capacidade dos EUA de se envolver, assistir e se comunicar com outras partes do mundo -o ‘poder suave’, que havia sido tão importante durante a Guerra Fria".
Várias vezes, Bush prometeu alterar essa estratégia, até mesmo criando um "corpo de reservistas civis", dedicado à construção institucional dos países, sob os auspícios do Departamento de Estado -só que tal esforço nunca recebeu verbas e pessoal suficientes.
Caso o governo Obama faça isso, será uma das alterações mais significativas na estratégia de segurança nacional em várias décadas e ampliará enormemente os poderes de Hillary como secretária de Estado. Mas Hillary pode descobrir, como sua antecessora Condoleezza Rice, que é mais fácil defender a ampliação da capacidade civil do que executá-la.
Na campanha, Obama prometeu prioridade máxima à diplomacia e disse que, -em vez de fechar consulados, precisamos abri-los em cantos duros e desesperançados do mundo-. Anunciou também que até 2012 dobraria o total da ajuda internacional dos EUA para US$ 50 bilhões. Nos últimos meses, porém, passou a esticar o prazo, devido à crise financeira.
Outra grande dúvida é se a verba para a ampliação da capacidade civil sairá do Orçamento do Pentágono.
Gates lembrou que, quando o almirante Mike Mullen era chefe de operações navais, "ele disse que entregaria parte do seu Orçamento ao Departamento de Estado ‘num piscar de olhos’, desde que fosse gasto no lugar certo". Mullen agora é o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e já começou a discutir prioridades com Obama. Não se sabe se o futuro presidente pediu que ele cedesse parte do seu Orçamento.


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