São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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LENTE

Sobre mídia e mensagens

Arun Shanbhag, professor-assistente da Escola Médica de Harvard, não tinha ouvido o termo “jornalismo cidadão” até estar em seu terraço, na zona sul de Mumbai, em 27 de novembro, um dia depois de terroristas atacarem a cidade. Ele postou mensagens curtas sobre o que estava vendo num serviço na web chamado Twitter. “Senti que tinha a responsabilidade compartilhar minha visão com o mundo de fora”, escreveu Shanbhag em e-mail enviado ao “New York Times”.
Os ataques terroristas em Mumbai chamaram a atenção para uma mudança fundamental na maneira como as notícias vêm sendo reportadas e consumidas em todo o mundo. Naquele dia, posts no Twitter, vídeos feitos por celulares e fotos difundidos no Flickr deram uma imagem mais completa dos primeiros momentos da matança do que a difundida pelos grandes veículos de mídia.
A violência em Mumbai não marcou o ponto de virada na hegemonia da mídia convencional. É possível que essa virada já tenha acontecido. Jornais em todo o mundo enfrentam quedas no volume de anúncios e de leitores. Os Twitters e Flickrs do mundo contam apenas uma parte da história de como vem sendo preenchido o vazio deixado pelo encolhimento dos quadros de profissionais das Redações de jornais e emissoras de TV abertas.
Outra parte da história consiste em um tipo novo de operação noticiosa baseada na internet que vem surgindo em várias cidades americanas, oferecendo reportagem séria feita por jornalistas profissionais. Essas operações não carregam o ônus das gráficas caras (e dos funcionários que as operam), do papel, da tinta e das entregas domiciliares de jornais.
Uma delas, descrita no mês passado pelo “New York Times”, é a VoiceofSanDiego, entidade sem fins lucrativos criada em 2005 e que desde então já trouxe à tona vários escândalos. Operações semelhantes já surgiram em Minneapolis-Saint Paul, Seattle, Saint Louis, Chicago e New Haven, Connecticut.
“Hoje a informação é um serviço público e uma commodity”, disse Andrew Donohue, editor-executivo da VoiceofSanDiego. “É uma das coisas necessárias para operar uma sociedade, e o mercado não está se saindo muito bem nessa área.”
Outro artigo do “New York Times” mencionou âncoras veteranos de jornais televisivos que estão sendo demitidos em função de seus salários altos.
Técnica ainda mais drástica é usada pelo publisher do “Pasadena Now”, jornal publicado só na internet, para poupar dinheiro. O publisher, James Macpherson, demitiu seus sete profissionais e terceirizou para a Índia a cobertura das notícias de Pasadena, um subúrbio de Los Angeles. “Pago US$7,50 por uma matéria de mil palavras”, disse ele à colunista Maureen Dowd, do “New York Times”. Os jornalistas substituídos recebiam entre US$ 600 e US$ 800 por semana.
Macpherson não é o único que vê a terceirização como solução para jornais. Dean Singleton, cujo grupo de 54 jornais MediaNews Group é o segundo maior dos EUA, disse em uma reunião de publishers em outubro que sua empresa pretende terceirizar quase todos os setores de negócios.
“Se for preciso terceirizar o trabalho para outro país, faça”, disse Singleton. “No mundo de hoje, se sua mesa de trabalho fica no final do corredor ou do outro lado do mundo, com um computador isso não tem importância alguma.”

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