São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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LENTE

Macaco pensante não é um sábio

O chimpanzé Travis, 14, gostava de TV, de vinho e de dividir a cama com sua dona, Sandra Herold, que o tratava como um "filho". Travis parecia quase humano. Mas num surto de violência, no mês passado, feriu gravemente uma amiga de Herold, e a polícia o matou a tiros.
O fato provocou indignação contra a ideia de macacos vivendo entre pessoas. Chimpanzés "não são humanos, e nem sempre se pode prever seu comportamento quando se sentem ameaçados", disse Colleen McCann, primatologista do Zoo do Bronx, ao "New York Times".
Outros podem argumentar que, diante da sangrenta história do Homo sapiens, tal comportamento brutal por parte de um espécime de Pan troglodytes talvez não seja tão desumano. Os dois primatas compartilham 98% do seu DNA, mas o tamanho da lacuna entre humanos e macacos continua a intrigar o primata com cérebro maior. Afinal, se alguns macacos dominaram a linguagem, as ferramentas, a fraude e a guerra, o que exatamente torna os humanos únicos?
A creche, por exemplo.
Conforme notou Natalie Angier no "Times", uma mãe humana raramente pensa duas vezes antes de entregar seu bebê a outrem. Mas, segundo a primatologista Sarah Blaffer Hrdy, as mães gorilas e chimpanzés vivem sob constante temor de infanticídio.
Hrdy diz que a extrema e prolongada dependência dos bebês humanos nos forçou a desenvolver uma puericultura compartilhada. Um humano entra sem problemas num avião cheio de estranhos, escreveu ela no livro "Mothers and Others: The Evolutionary Origins of Mutual Understanding" ("Mães e outros: as origens evolutivas da compreensão mútua"). Já um chimpanzé teria sorte de sair inteiro de um grupo tão enclausurado.
Claro, somos mais inteligentes.
Será? Conforme escreveu o biólogo Michael Tomasello na revista do "Times", a questão da inteligência humana versus a símia nem sempre está clara.
Tomasello submeteu chimpanzés e orangotangos adultos, junto com humanos de 2 anos, a testes cognitivos. Os macacos se equivaliam às crianças na compreensão do mundo físico. Mas, em outros estudos, macacos eram melhores que humanos adultos para recordar padrões numéricos.
Mas, novamente, foram as habilidades sociais que diferenciaram os humanos. As crianças no estudo de Tomasello se saíram melhor "em testes de habilidades sociais", como a comunicação. Isso, segundo ele, permite que os humanos realizem "tantas coisas complexas e impressionantes".
Só que mesmo na área das habilidades sociais os macacos têm lições a ensinar.
Enquanto os chimpanzés vivem em sociedades machistas e violentas, seus parentes próximos, os bonobos, são matriarcais e relativamente pacíficos. Penelope Green, do "Times", contou a razão em uma reportagem sobre Hannah Holmes, autora de "The Well-Dressed Ape: A Natural History of Myself" ("O macaco bem-vestido: uma história natural de mim"). Bonobos, diz Holmes, "raramente encontram um conflito que não possam resolver copulando".


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