São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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Novo veículo doma ondas para estudar o mar

Por THAYER WALKER

Em 2005, Joe Rizzi e Roger Hine, engenheiros do vale do Silício (Califórnia, EUA), começaram a construir um dispositivo que lhes permitiria ouvir os chamados das baleias jubarte em frente à casa de praia de Rizzi em Puako, no Havaí.
O resultado que saiu da empresa Liquid Robotics, criada por eles há dois anos, é o Wave Glider ("planador das ondas"), veículo que permitirá não só espionar baleias como também ajudará os cientistas a entenderem melhor a mudança climática e os militares a monitorarem os mares.
"Este é um evento transformador", disse Jim Bellingham, tecnólogo-chefe do Instituto de Pesquisas do Aquário da Baía de Monterey. "Eu gostaria de tê-lo inventado."
O Wave Glider é um veículo que se desloca pelo oceano impulsionado inteiramente pela energia das ondas. O motor, de cerca de 1,5 metro de comprimento, fica sete metros abaixo da superfície, preso a uma plataforma de instrumentos com sensores. Rizzi, presidente da Liquid Robotics, disse que, por sua abrangência e durabilidade, o flutuador fará observações de uma forma inédita.
Os cientistas usam várias técnicas para registrar as condições atmosféricas e da superfície marítima. "Mais de 80% do calor que entra no sistema climático vai para o oceano", disse Dean Roemmich, professor do Instituto Scripps de Oceanografia. "Medir a temperatura do oceano é a melhor forma de medir o aquecimento global."
Cada método tem suas limitações. O clima e a distância são fatores limitantes para satélites, e as boias são caras e estacionárias.
O Wave Glider tem um custo operacional desprezível, disse Tim Richardson, executivo da Liquid Robotics. Ele pode ser lançado da costa por duas pessoas e controlado via satélite, pela internet. A energia das ondas é grátis, e painéis solares na parte flutuante alimentam os sistemas da máquina. Baterias fornecem energia adicional para até dez dias.
O conceito foi desenvolvido há vários anos, quando Rizzi ancorou um hidrofone em águas rasas, abrigado em uma caixa à prova d'água. Em vez de captar os chamados das jubartes, Rizzi ouviu "som de bacon fritando". É que camarões, que vivem perto da praia e usam o bater das pinças para confundir suas presas, haviam abafado as vozes das baleias.
Rizzi tentou ancorar os hidrofones em águas mais tranquilas, com centenas de metros de profundidade, mas a força do mar destruiu vários. "Precisávamos de uma boia que ficasse no lugar sem uma âncora", disse ele. "Fundamentalmente, é um problema de energia."
Ele chamou Hine, especialista em robótica que trabalhara no setor de semicondutores. Com pouca experiência na engenharia marítima, Hine abordou o problema como alguém de fora.
"O conceito de domar a energia das ondas não é novo, mas a perspectiva tradicional é converter a energia da onda em eletricidade", disse Justin Manley, presidente do Comitê de Veículos Marítimos Não Tripulados da Sociedade de Tecnologia Marinha.
Em vez disso, o flutuador converte passivamente a energia da onda em um impulso para a frente. "Acho que Roger foi bem-sucedido porque não estava limitado pelo pensamento convencional."
Há outros esforços para construir máquinas flutuantes que tirem energia do oceano e viajem verticalmente. Em abril de 2008, a Teledyne Webb Research, de Massachusetts, completou uma viagem-teste de quatro meses e 3.000 quilômetros pelo Caribe com um flutuador térmico que usa os gradientes de temperatura do oceano para se impulsionar através de uma coluna de água para profundidades de até 1.200 metros.
A maior viagem do Wave Glider até agora cobriu cerca de 3.000 milhas náuticas (5.500 km) em aproximadamente cinco meses. Em janeiro, a máquina completou em nove dias o percurso de 552 quilômetros em torno da maior ilha do Havaí, apesar do mar agitado. O objetivo, segundo Hine, era construir um flutuador que fique até um ano no mar.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA está buscando financiamento para um teste em plena escala do flutuador, segundo Chris Meinig, diretor de engenharia do Laboratório Ambiental Marinho do Pacífico, que pertence à agência e funciona em Seattle. O plano é usar o equipamento para monitorar os níveis de dióxido de carbono no mar.
Além disso, em 2004, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa pediu um equipamento oceânico que pudesse tanto se deslocar quanto guardar uma posição e que tivesse sensores para detectar objetos como submarinos.
"Minha visão é de que vamos povoar o oceano com diferentes tipos de robôs, cada um com uma especialidade diferente", disse Bellingham, do laboratório de Monterey. "O Wave Glider junta uma peça que faltava."


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