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Euforia cede, e crescem dúvidas sobre presidente
Por JEFF ZELENY
WILLIAMSBURG, Iowa - Pauline McAreavy votou em Barack Obama. Desde o momento em
que o viu pela primeira vez, dois anos atrás, foi sensibilizada por seus
discursos e acreditou em suas promessas de mudança. Trocou de partido para
apoiar o democrata nos cáucus em Iowa (centro), doou dinheiro e abriu sua casa
para uma dupla de jovens cabos eleitorais.
Mas, quando recebeu uma carta do Comitê Nacional Democrata pedindo doações, no
mês passado, uma sensação de decepção havia se instalado. Ela devolveu o pedido
com um recado de próprio punho: "Até que eu veja algum progresso e [Obama]
cumpra suas promessas, não daremos um centavo".
"Temo que eu não tenha sido realista", disse McAreavy, 76, enfermeira escolar
aposentada, em uma manhã recente em sua casa. "Eu realmente pensei que haveria
mudanças imediatas", ela disse. "Às vezes os republicanos são tão ruins quanto
os democratas. Mas é a política de sempre, e foi contra isso que eu votei."
Um ano depois de ganhar a eleição, Obama viu sua promessa de transcender o
partidarismo em Washington dar lugar às cruas realidades do cargo. Uma campanha
para os livros de história, com um alto senso de possibilidade para Obama não
apenas entre as legiões de democratas leais mas também entre convertidos de fora
do partido, baixou a um plano desconhecido para um presidente cuja ascensão
política foi tão rápida quanto encantadora.
Entrevistas com eleitores em todo o Estado de Iowa mostram como a posição do
presidente se nivelou, especialmente entre os independentes e os republicanos
que contribuíram não apenas para sua margem de vitória nos cáucus ali, mas
também para o otimismo entre seus seguidores de que sua eleição seria um
rompimento com a política padrão.
Em Iowa, McAreavy teme que o projeto de saúde do presidente prejudique seus
benefícios do plano de assistência médica estatal e signifique exames de
mamografia menos frequentes. Ela teme que a decisão de Obama no Afeganistão
force seu filho, membro da Guarda Nacional estadual, a voltar ao campo de
batalha. E acredita que muitas ações de Obama se enraízam na política democrata.
"Todos os meus amigos republicanos -e independentes- estão observando e dizendo:
'Oh, o que nós fizemos?'", disse McAreavy. "Eu ainda não cheguei a esse ponto,
mas muitas pessoas já."
Obama ainda tem, de modo geral, um alto índice de aprovação e as oportunidades
que lhe dão a maioria democrata no Congresso. A opinião pública sobre ele
continua em fluxo, especialmente enquanto ele ruma à etapa final do impulso para
reformular o sistema de seguro-saúde e se aproxima da decisão sobre expandir ou
não a guerra afegã. Mas a erosão do apoio dos independentes e a reprovação dos
republicanos sugerem que a coalizão que o presidente construiu para conquistar a
Casa Branca está desgastada.
Em poucos lugares as pessoas tiveram uma visão mais longa e próxima de Obama do
que em Iowa, um Estado oscilante que encerra profundas vertentes de
conservadorismo e liberalismo. Obama foi uma presença constante ali durante os
meses formadores de sua candidatura.
No aniversário da eleição presidencial -comemorado na última quarta-, a sensação
de possibilidade e o romantismo que moveram muitos eleitores não são mais
aparentes. Os desafios de governar desgastaram o otimismo. O ritmo da
intervenção do governo também aborreceu muitos eleitores.
Uma pesquisa em Iowa, publicada em setembro pelo "The Des Moines Register",
mostrou que o índice de aprovação de Obama caiu para 53%, contra 64% em abril.
Em entrevistas, a economia surgiu como uma das questões mais preocupantes.
"Estou assustado", disse Chris Bollhoefer, 49, que perdeu o emprego há dois
anos. "A concorrência, ante tantas as pessoas que perderam os empregos e são
altamente qualificadas, realmente nos deixa encostados à parede." Mas Bollhoefer
disse que aprova o trabalho de Obama. "É inspirador para mim que ele tente fazer
algo diferente."
Mesmo com as queixas, muitos democratas afirmam que o presidente sozinho
melhorou a imagem dos EUA no mundo e que ele já conquistou muito, considerando a
série de crises que encontrou.
Candi Schmieder, 40, disse que confia no presidente. A eleição no Iowa County,
onde ela mora, terminou em empate em novembro. Obama ganhou por 14 votos depois
que os votos ausentes foram computados. Se uma reeleição fosse realizada hoje,
Schmieder disse temer que o resultado fosse diferente.
Schmieder, que nunca se envolveu em política mas disse que foi atraída para
Obama por seus livros, disse: "Diante de todas as situações que ele está
enfrentando -a economia e a guerra-, acho que vai dar bastante trabalho".
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