São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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Euforia cede, e crescem dúvidas sobre presidente

Por JEFF ZELENY

WILLIAMSBURG, Iowa - Pauline McAreavy votou em Barack Obama. Desde o momento em que o viu pela primeira vez, dois anos atrás, foi sensibilizada por seus discursos e acreditou em suas promessas de mudança. Trocou de partido para apoiar o democrata nos cáucus em Iowa (centro), doou dinheiro e abriu sua casa para uma dupla de jovens cabos eleitorais.
Mas, quando recebeu uma carta do Comitê Nacional Democrata pedindo doações, no mês passado, uma sensação de decepção havia se instalado. Ela devolveu o pedido com um recado de próprio punho: "Até que eu veja algum progresso e [Obama] cumpra suas promessas, não daremos um centavo".
"Temo que eu não tenha sido realista", disse McAreavy, 76, enfermeira escolar aposentada, em uma manhã recente em sua casa. "Eu realmente pensei que haveria mudanças imediatas", ela disse. "Às vezes os republicanos são tão ruins quanto os democratas. Mas é a política de sempre, e foi contra isso que eu votei."
Um ano depois de ganhar a eleição, Obama viu sua promessa de transcender o partidarismo em Washington dar lugar às cruas realidades do cargo. Uma campanha para os livros de história, com um alto senso de possibilidade para Obama não apenas entre as legiões de democratas leais mas também entre convertidos de fora do partido, baixou a um plano desconhecido para um presidente cuja ascensão política foi tão rápida quanto encantadora.
Entrevistas com eleitores em todo o Estado de Iowa mostram como a posição do presidente se nivelou, especialmente entre os independentes e os republicanos que contribuíram não apenas para sua margem de vitória nos cáucus ali, mas também para o otimismo entre seus seguidores de que sua eleição seria um rompimento com a política padrão.
Em Iowa, McAreavy teme que o projeto de saúde do presidente prejudique seus benefícios do plano de assistência médica estatal e signifique exames de mamografia menos frequentes. Ela teme que a decisão de Obama no Afeganistão force seu filho, membro da Guarda Nacional estadual, a voltar ao campo de batalha. E acredita que muitas ações de Obama se enraízam na política democrata.
"Todos os meus amigos republicanos -e independentes- estão observando e dizendo: 'Oh, o que nós fizemos?'", disse McAreavy. "Eu ainda não cheguei a esse ponto, mas muitas pessoas já."
Obama ainda tem, de modo geral, um alto índice de aprovação e as oportunidades que lhe dão a maioria democrata no Congresso. A opinião pública sobre ele continua em fluxo, especialmente enquanto ele ruma à etapa final do impulso para reformular o sistema de seguro-saúde e se aproxima da decisão sobre expandir ou não a guerra afegã. Mas a erosão do apoio dos independentes e a reprovação dos republicanos sugerem que a coalizão que o presidente construiu para conquistar a Casa Branca está desgastada.
Em poucos lugares as pessoas tiveram uma visão mais longa e próxima de Obama do que em Iowa, um Estado oscilante que encerra profundas vertentes de conservadorismo e liberalismo. Obama foi uma presença constante ali durante os meses formadores de sua candidatura.
No aniversário da eleição presidencial -comemorado na última quarta-, a sensação de possibilidade e o romantismo que moveram muitos eleitores não são mais aparentes. Os desafios de governar desgastaram o otimismo. O ritmo da intervenção do governo também aborreceu muitos eleitores.
Uma pesquisa em Iowa, publicada em setembro pelo "The Des Moines Register", mostrou que o índice de aprovação de Obama caiu para 53%, contra 64% em abril. Em entrevistas, a economia surgiu como uma das questões mais preocupantes.
"Estou assustado", disse Chris Bollhoefer, 49, que perdeu o emprego há dois anos. "A concorrência, ante tantas as pessoas que perderam os empregos e são altamente qualificadas, realmente nos deixa encostados à parede." Mas Bollhoefer disse que aprova o trabalho de Obama. "É inspirador para mim que ele tente fazer algo diferente."
Mesmo com as queixas, muitos democratas afirmam que o presidente sozinho melhorou a imagem dos EUA no mundo e que ele já conquistou muito, considerando a série de crises que encontrou.
Candi Schmieder, 40, disse que confia no presidente. A eleição no Iowa County, onde ela mora, terminou em empate em novembro. Obama ganhou por 14 votos depois que os votos ausentes foram computados. Se uma reeleição fosse realizada hoje, Schmieder disse temer que o resultado fosse diferente.
Schmieder, que nunca se envolveu em política mas disse que foi atraída para Obama por seus livros, disse: "Diante de todas as situações que ele está enfrentando -a economia e a guerra-, acho que vai dar bastante trabalho".


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