São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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ANÁLISE

Primeiro ano de mandato serviu para educar democrata

Por PETER BAKER

WASHINGTON - Faz pouco mais de um ano que Barack Obama foi eleito; passou um ano desde aquele momento em que seus partidários sentiam que tudo era possível, com afirmações altaneiras quanto à "reconstrução da nação" e a repetição determinada do lema "yes, we can".
Esperança e arrogância deram lugar à labuta diária de governar, à agenda repleta de reuniões que aguarda o presidente a cada manhã, às pastas cheias de documentos que ele precisa ler e aos milhares de pequenos compromissos e frustrações que separam esses dois momentos. A educação de um presidente é um processo complicado. E, enquanto Obama dedicava os últimos 12 meses a aprender mais sobre como exercer o poder, seu país dedicou esse período a aprender mais sobre ele.
Obama provou ser um presidente ativista, sequioso de ideias transformadoras mesmo que evite defini-las, ou a si mesmo, de maneira muito precisa. A contradição é traço central em sua personalidade -um homem audaz mas cauteloso, radical mais pragmático, dependendo do observador.
O presidente descobriu que o poder oratório, tão eficaz na campanha, tem limites em um mundo no qual palavras não dizem tudo. Sua fé em sua capacidade de unir o povo naufragou em meio à polarização que domina os EUA, e seu interesse por isso parece ter desaparecido igualmente.
Depois de combater a mais profunda recessão em gerações, Obama enfim está no comando de uma economia que voltou a crescer, mas que continua a eliminar empregos e acumular dívidas. Enquanto enfrenta as questões que podem vir a definir sua Presidência -a reforma da saúde e a Guerra do Afeganistão-, ele precisa encarar sua complexidade de uma forma que jamais fez durante a campanha. E, além dessas questões, restam o Irã, as mudanças no clima, a imigração e a regulamentação financeira.
"A questão central é: será que Obama terá a capacidade de fazer com que tudo isso funcione?", disse Lee Hamilton, ex-deputado federal democrata que presidiu a comissão que investigou o 11 de Setembro. "Creio que ele aprendeu que governar é bem mais difícil que fazer campanha."
Na Casa Branca, a nostalgia pelos dias mais simples do passado é palpável. "Foi um dia repleto de emoção, esperança e calor", relembrou David Axelrod, importante assessor de Obama, sobre a eleição do ano passado. "Mas aquele foi um pico emocional que não se pode manter no dia a dia, quando temos de governar. O desafio é manter o mesmo grau de idealismo e de otimismo enquanto passamos pelo moedor de carne da política."
"Toda a situação política que existe em Washington", ele prosseguiu, "trabalha contra a esperança, o otimismo, a unidade. Por isso é necessário batalhar contra esse espírito a cada dia, sabendo que o resultado final será menos que perfeito". Axelrod acrescentou que "aquela noite foi sublime. E muito do que acontece em Washington é prosaico. Ou profano".
No processo, a imagem romantizada de Obama, capturada em "By the People", documentário que estreou no dia 3 nos EUA, no canal a cabo HBO, deu lugar a um retrato mais convencional, de um político capaz de inspirar e decepcionar, energizar e irritar.
Houve momentos em que ele promoveu uma transparência que parecia ir além daquilo que seus predecessores permitiam; em outros, ele simplesmente agiu como político.
"Obama continua a ser uma figura inteligente, enérgica e carismática, e o povo norte-americano gosta dele. Mas me parece evidente que ele já não ocupa o pedestal que detinha antes da eleição", disse o legislador republicano Jeb Hensarling, do Texas. "As pessoas estão contemplando os acontecimentos e pensando que, se votaram por uma mudança, não era essa a mudança que queriam, ou talvez que a mudança seja exagerada."


A coluna Inteligência retornará na semana que vem


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