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Rebeldes maoistas levam tensão à Índia
Ação dos insurgentes está se tornando cada vez mais letal
Por JIM YARDLEY
BARSUR, Índia - A Índia termina concretamente na margem do rio Indravati, a
centenas de quilômetros da próxima fronteira internacional. Oficiais
paramilitares indianos apontam metralhadoras para o outro lado do rio. As
montanhas e a selva densa do outro lado pertencem a rebeldes maoistas engajados
em derrubar o governo.
"Essa é a zona liberada deles", disse P. Bjohak, um dos oficiais estacionados à
margem do rio na cidade de Barsur, no Estado oriental de Chattisgarh.
Ou uma parte dela. Os rebeldes maoistas hoje estão presentes em 20 Estados do
país e se converteram numa insurgência poderosa e letal. Nos últimos quatro
anos, eles mataram mais de 900 agentes de segurança da Índia.
Se, no passado, os maoistas chegaram a ser vistos com pouco caso, como nada mais
do que um bando de ideólogos ultrapassados, hoje os líderes indianos se preparam
para enviar quase 70 mil paramilitares para caçar os guerrilheiros em áreas
isoladas e inóspitas do país.
A Índia já conseguiu amansar alguns movimentos separatistas no passado,
persuadindo-os a participar do processo político nacional. Os maoistas, porém,
não querem separar-se do país nem ser absorvidos nele. Sua meta é derrubar o
sistema.
Os maoistas dizem representar os despossuídos da sociedade indiana,
principalmente os grupos tribais indígenas, que apresentam alguns dos mais altos
índices de pobreza, analfabetismo e mortalidade infantil do país. Muitos
intelectuais e até alguns políticos simpatizaram com a causa deles no passado,
mas a violência crescente os obrigou a reconsiderar o apoio à guerrilha.
"A raiz disto está na miséria e na marginalização", disse o historiador
Ramachandra Guha. "Os maoistas são uma manifestação repulsiva disso. Trata-se de
um problema sério que não vai desaparecer simplesmente."
O crescimento econômico da Índia fez do país uma potência global emergente, mas
também aprofundou as desigualdades sociais marcantes. Os maoistas acusam o
governo de tentar expulsar os grupos tribais de suas terras, para ganhar acesso
a matérias-primas, e vêm sabotando estradas, pontes e até um oleoduto.
Se os objetivos políticos dos maoistas parecem inalcançáveis, analistas avisam
que não será fácil derrotá-los.
Em Chattisgarh, eles dominam milhares de quilômetros de território e avançaram
aos Estados vizinhos de Orissa, Bihar, Jharkhand e Maharashtra.
A violência explode quase diariamente. Nos últimos cinco anos, maoistas
detonaram mais de mil bombas improvisadas em Chattisgarh. Recentemente,
,incendiaram duas escolas em Jharkhand, sequestraram e depois soltaram um trem
de passageiros em Bengala Ocidental e, ao mesmo tempo, lançaram um ataque contra
uma delegacia de polícia local.
Há esforços para iniciar negociações de paz, mas, até agora, as tentativas estão
em um impasse. Com a ofensiva do governo se aproximando, as pessoas sob maior
risco são os moradores dos vilarejos tribais de Chattisgarh, onde a polícia e os
maoistas, às vezes conhecidos como naxalitas, já vêm se enfrentando.
Chamada Operação Caçada Verde, a campanha de contra-insurgência prevê o envio de
policiais e forças paramilitares à selva para enfrentar os maoistas e expulsá-
los de seus redutos em direção a áreas de floresta isoladas, onde se possa
contê-los.
Uma vez que os rebeldes tiverem sido expulsos de uma região, o plano também
prevê a construção de estradas, pontes e escolas, na esperança de conquistar o
apoio dos povos tribais, também conhecidos como adivasis.
O movimento maoista surgiu após um levante violento de comunistas locais, em
1967, em torno de uma disputa por terra em um povoado de Bengala Ocidental
conhecido como Naxalbari. É essa a origem do termo "naxalitas".
Alguns comunistas ingressariam no sistema político. Hoje o Partido Comunista da
Índia (marxista) é uma força política influente que exerce o poder em Bengala
Ocidental. Outros, porém, entraram na clandestinidade. Nos anos 1980, muitos já
tinham encontrado refúgio em Chattisgarh. Partindo dali, foram recrutando o
apoio de tribais e se espalhando aos poucos. Segundo as autoridades, o movimento
se radicalizou em 2004, quando suas duas alas dominantes se fundiram com o mais
violento Partido Comunista da Índia (maoista).
As autoridades de Chattisgarh formaram e armaram milícias civis, que vêm sendo
acusadas por grupos de defesa dos direitos humanos de semear o terror entre
camponeses inocentes e cometer atrocidades em nome da perseguição aos maoistas.
O debate em torno da insurgência vem se acirrando. Recentemente, a escritora
Arundhati Roy lançou um chamado por um diálogo incondicional e disse à rede CNN-
IBN que os maoistas estavam justificados em recorrer às armas, devido à opressão
governamental. Outros que se solidarizam com a difícil situação dos adivasis
dizem que a violência maoista se tornou intolerável.
Os moradores locais se veem no meio do fogo cruzado. Em um dia recente no
povoado de Palnar, surgiu um motoqueiro vindo de um vilarejo mais distante, onde
a polícia havia prendido mais de dez pessoas, acusadas de colaborar com a
guerrilha. Segundo o motoqueiro, algumas eram simpatizantes dos maoistas, mas a
maioria foi alvejada sem razão.
"A vida é muito difícil", disse ele. "Os naxalitas acham que ajudamos a polícia.
A polícia pensa que ajudamos os naxalitas. Vivemos com medo, sem saber quem vai
nos matar primeiro."
Colaborou Hari Kumar
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