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Bicicletas são alvo de vândalos em Paris
Por STEVEN ERLANGER e MAÏA DE LA BAUME
PARIS - Assim como, anos atrás, as torres cruciformes brancas criadas por Le
Corbusier instigaram visões de uma Paris da era industrial do futuro, o sistema
de aluguel de bicicletas parisiense, conhecido como Vélib', inspirou um novo
etos urbano para a era das mudanças climáticas.
Os moradores de Paris podem alugar uma bicicleta em centenas de postos públicos.
É uma alternativa barata, saudável e de baixa emissão de carbono aos carros e
ônibus. Mas essa utopia francesa mais recente se choca com uma realidade
prosaica: muitas das bicicletas, especialmente desenhadas para o projeto por US$
1.050 cada, andam aparecendo nos mercados negros do Leste Europeu e norte da
África. Outras são levadas para passeios urbanos não pagos e então largadas nas
ruas, com suas rodas torcidas e sem seus pneus, que são roubados.
Cerca de 80% das 20, 6 mil bicicletas iniciais do projeto foram roubadas ou
danificadas, obrigando os organizadores do programa a contratar centenas de
pessoas para consertá-las. Além do prejuízo para o orçamento do projeto,
subsidiado pela prefeitura, é a psique parisiense que sofreu um golpe.
"O símbolo de uma cidade ecológica e bem resolvida virou nova fonte de
criminalidade", lamentou o "Le Monde" em editorial. "O Vélib' visava civilizar
os transportes urbanos. Mas acabou provocando um aumento da incivilidade."
As bicicletas pesadas do Vélib', com sua cor bronze arenosa, são vistas como
acessório típico dos "bobos", ou "burgueses boêmios" -a classe média descolada-,
e suscitam ressentimentos e cobiça.
O sociólogo Bruno Marzloff, especializado em transportes, disse que "é preciso
relacionar isso a outras incivilidades, especialmente a queima de carros" -
referência às gangues de jovens imigrantes que atearam fogo a veículos durante
tumultos em 2005.
"Há um elemento de negligência", disse Marzloff, "que significa 'não temos o
direito à mobilidade como outras pessoas. Chegar até Paris é uma dificuldade,
não temos carros e, quando temos, é longe demais e custa muito caro'".
Algumas bicicletas do programa Vélib' já foram encontradas com os pneus furados,
jogadas no rio Sena, sendo usadas nas ruas de Bucareste ou dentro de contêineres
de navios, a caminho do norte da África. Outras são simplesmente roubadas e
repintadas.
Usado principalmente para deslocamentos no centro urbano de Paris, o programa
Vélib' é um sucesso segundo muitos parâmetros. Mas a construção sólida das
bicicletas, fabricadas na Hungria, e seus pontos de estacionamento eletrônicos
significam que elas são caras, e nem todo o mundo compartilha o espírito de
respeito pela propriedade pública comum promovido pelo prefeito socialista de
Paris, Bertrand Delanoë.
"Erramos em nossas estimativas de danos e roubos", disse Albert Asséraf, diretor
de marketing da JCDecaux, principal organizadora e financiadora do projeto. "Mas
não temos referências em nenhum outro lugar do mundo de iniciativas desse tipo."
"Fizemos a bicicleta mais forte, lançamos campanhas publicitárias contra o
vandalismo e tentamos informar as pessoas na internet", disse. "Mas a verdadeira
solução está no respeito individual."
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