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DINHEIRO & NEGÓCIOS
Em processo de reinvenção, Microsoft olha além do PC
Por ASHLEE VANCE
REDMOND, Washington - Ray Ozzie, principal arquiteto de softwares da Microsoft,
se irrita quando lhe perguntam se as novas versões dos principais softwares de
sua companhia -o Windows e o Office- são empolgantes. "São tremendamente
empolgantes", ele exclama na defensiva. "Você está brincando?"
Normalmente discreto e cerebral, Ozzie habita um espaçoso escritório na sede da
Microsoft. Suas estantes e mesas são organizadas, e um dos primeiros
computadores pessoais IBM já feitos fica sobre uma prateleira baixa.
Se o mundo -ou pelo menos o mundo dos negócios- fosse tão imaculado e
organizado... Mas Ozzie e seus colegas da Microsoft reconhecem, é claro, que
muito pouco no universo da tecnologia continua igual para sempre.
"Como era a fala de 'Noivo Neurótico, Noiva Nervosa? Relacionamentos são como
tubarões; ou eles avançam ou morrem", diz Steve Ballmer, principal executivo da
Microsoft, referindo-se ao filme de Woody Allen. "As empresas de tecnologia
também, ou avançam ou morrem."
E, segundo Ozzie, entramos em uma era que está muito distante daquela do PC
santificado em seu altar à antiguidade. Consumidores e trabalhadores foram
apanhados por uma "revolução de equipamentos", ele diz.
Mas os equipamentos são apenas a metade da batalha para a Microsoft. É verdade
que as "fashionistas" estão obcecadas quanto a se um novo laptop vai caber em
suas bolsas. Executivos exalam orgulho quando retiram de suas sacolas
computadores ultrafinos com acabamentos exóticos. Mas os equipamentos mais
desejáveis hoje em dia são aqueles que também permitem que pessoas em movimento
se livrem do computador de mesa e se comuniquem através da chamada "nuvem".
Com a recente chegada do Windows 7 e uma série de computadores esguios
complementares, a Microsoft pretende minar os anúncios da Apple, que zombam dos
PCs e de seus usuários.
Em uma jogada por seu pedaço da nuvem, a Microsoft pretende lançar neste mês uma
plataforma de software, o Windows Azure -sua aposta para atrair empresas com
serviços on-line. Embora esteja atrasada para a computação em nuvem em
comerciais e seja um participante secundário no mercado móvel, a Microsoft,
segundo Ozzie, tem uma opção de se reinventar e ir além do desktop.
"Isto nos dá uma oportunidade como vendedor de software de refrescar nossa
proposta de valor", diz. "Acho que é um momento empolgante para a Microsoft."
Hoje em dia, a companhia tem legiões de duvidosos. Especialistas em marcas dizem
que os consumidores hesitam quando tentam definir o que a empresa representa e
se ela pode criar um grande futuro tecnológico.
Críticos da Microsoft dizem que ela subestimou enormemente as mudanças do
mercado e planejou um rumo longo e sinuoso em direção à irrelevância. Ela
permanece fixada demais em suas franquias antiquadas, baseadas em desktops, eles
dizem.
"Eles estão presos em suas próprias psicoses de que o mundo tem de girar ao
redor do Windows no PC", diz Marc Benioff, CEO da Salesforce.com, que concorre
com a Microsoft no mercado de softwares empresariais. "Se eles não pararem de
fazer isso, vão arrastar sua companhia para a sarjeta."
Enquanto Ozzie dá as boas-vindas à revolução dos equipamentos, grande parte do
que ela parece representar vai contra as forças históricas da Microsoft. A
revolução se estende muito além de um fascínio pelo apelo estético de um
computador; também marca uma transição em que o consumidor, e não o trabalhador
de escritório, é a força dominante que molda a paisagem tecnológica.
Ballmer afirma que a Microsoft é a única companhia preparada e posicionada para
fundir a computação pelos dois extremos -o desktop e a nuvem. "Estamos apenas
investindo mais amplamente do que todo mundo", ele diz.
Apesar dos reveses, a Microsoft continua gerando lucros que causam inveja à
indústria tecnológica. Em julho, terminou o ano fiscal com uma queda de 3% nas
receitas, com US$ 58,4 bilhões, ainda gerando um lucro de US$ 14,6 bilhões. A
Microsoft tem um fundo de reserva de US$ 31,45 bilhões.
Mesmo críticos consideram a empresa durável. "Eles não desaparecerão enquanto
houver PCs", diz Benioff. "Mas também não estão criando o futuro da indústria."
Executivos da Microsoft falam em termos pragmáticos. As tendências vêm e vão,
mas o alcance da Microsoft e sua capacidade de atuar na maior escala continuam
constantes. "Nunca podemos nos tornar complacentes, porque quando a
transformação dos serviços chega a um ponto vem a próxima transformação", diz
Ozzie. "É assim que nossa empresa funciona."
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