São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Em processo de reinvenção, Microsoft olha além do PC

Por ASHLEE VANCE

REDMOND, Washington - Ray Ozzie, principal arquiteto de softwares da Microsoft, se irrita quando lhe perguntam se as novas versões dos principais softwares de sua companhia -o Windows e o Office- são empolgantes. "São tremendamente empolgantes", ele exclama na defensiva. "Você está brincando?"
Normalmente discreto e cerebral, Ozzie habita um espaçoso escritório na sede da Microsoft. Suas estantes e mesas são organizadas, e um dos primeiros computadores pessoais IBM já feitos fica sobre uma prateleira baixa.
Se o mundo -ou pelo menos o mundo dos negócios- fosse tão imaculado e organizado... Mas Ozzie e seus colegas da Microsoft reconhecem, é claro, que muito pouco no universo da tecnologia continua igual para sempre.
"Como era a fala de 'Noivo Neurótico, Noiva Nervosa? Relacionamentos são como tubarões; ou eles avançam ou morrem", diz Steve Ballmer, principal executivo da Microsoft, referindo-se ao filme de Woody Allen. "As empresas de tecnologia também, ou avançam ou morrem."
E, segundo Ozzie, entramos em uma era que está muito distante daquela do PC santificado em seu altar à antiguidade. Consumidores e trabalhadores foram apanhados por uma "revolução de equipamentos", ele diz.
Mas os equipamentos são apenas a metade da batalha para a Microsoft. É verdade que as "fashionistas" estão obcecadas quanto a se um novo laptop vai caber em suas bolsas. Executivos exalam orgulho quando retiram de suas sacolas computadores ultrafinos com acabamentos exóticos. Mas os equipamentos mais desejáveis hoje em dia são aqueles que também permitem que pessoas em movimento se livrem do computador de mesa e se comuniquem através da chamada "nuvem".
Com a recente chegada do Windows 7 e uma série de computadores esguios complementares, a Microsoft pretende minar os anúncios da Apple, que zombam dos PCs e de seus usuários.
Em uma jogada por seu pedaço da nuvem, a Microsoft pretende lançar neste mês uma plataforma de software, o Windows Azure -sua aposta para atrair empresas com serviços on-line. Embora esteja atrasada para a computação em nuvem em comerciais e seja um participante secundário no mercado móvel, a Microsoft, segundo Ozzie, tem uma opção de se reinventar e ir além do desktop.
"Isto nos dá uma oportunidade como vendedor de software de refrescar nossa proposta de valor", diz. "Acho que é um momento empolgante para a Microsoft."
Hoje em dia, a companhia tem legiões de duvidosos. Especialistas em marcas dizem que os consumidores hesitam quando tentam definir o que a empresa representa e se ela pode criar um grande futuro tecnológico.
Críticos da Microsoft dizem que ela subestimou enormemente as mudanças do mercado e planejou um rumo longo e sinuoso em direção à irrelevância. Ela permanece fixada demais em suas franquias antiquadas, baseadas em desktops, eles dizem.
"Eles estão presos em suas próprias psicoses de que o mundo tem de girar ao redor do Windows no PC", diz Marc Benioff, CEO da Salesforce.com, que concorre com a Microsoft no mercado de softwares empresariais. "Se eles não pararem de fazer isso, vão arrastar sua companhia para a sarjeta."
Enquanto Ozzie dá as boas-vindas à revolução dos equipamentos, grande parte do que ela parece representar vai contra as forças históricas da Microsoft. A revolução se estende muito além de um fascínio pelo apelo estético de um computador; também marca uma transição em que o consumidor, e não o trabalhador de escritório, é a força dominante que molda a paisagem tecnológica.
Ballmer afirma que a Microsoft é a única companhia preparada e posicionada para fundir a computação pelos dois extremos -o desktop e a nuvem. "Estamos apenas investindo mais amplamente do que todo mundo", ele diz.
Apesar dos reveses, a Microsoft continua gerando lucros que causam inveja à indústria tecnológica. Em julho, terminou o ano fiscal com uma queda de 3% nas receitas, com US$ 58,4 bilhões, ainda gerando um lucro de US$ 14,6 bilhões. A Microsoft tem um fundo de reserva de US$ 31,45 bilhões.
Mesmo críticos consideram a empresa durável. "Eles não desaparecerão enquanto houver PCs", diz Benioff. "Mas também não estão criando o futuro da indústria."
Executivos da Microsoft falam em termos pragmáticos. As tendências vêm e vão, mas o alcance da Microsoft e sua capacidade de atuar na maior escala continuam constantes. "Nunca podemos nos tornar complacentes, porque quando a transformação dos serviços chega a um ponto vem a próxima transformação", diz Ozzie. "É assim que nossa empresa funciona."


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