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CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Brecha ameaça armas informatizadas
Dados sigilosos dos EUA podem estar sob risco
Por JOHN MARKOFF
Apesar de um esforço de seis anos para produzir chips de confiança destinados a
sistemas militares, o Departamento de Defesa dos EUA hoje manufatura em
instalações sob comando de empresas americanas apenas 2% dos mais de 3,5 bilhões
de circuitos integrados comprados anualmente para serem usados em equipamentos
militares.
Esse deficit é visto com preocupação por militares e de agências de inteligência
americanas, que argumentam que a ameaça dos chamados cavalos de Troia escondidos
em circuitos de armas está entre as mais graves que o país enfrentaria no caso
de uma guerra em que as comunicações e as armas empregadas dependam de
tecnologia computadorizada.
À medida que sistemas avançados como aeronaves, mísseis e radares se tornaram
dependentes da computação, o medo de a subversão causar falhas nas armas ou de
secretamente corromper dados cruciais passou a assombrar os planejadores
militares. O problema vem se agravando com a transferência, para fora dos EUA,
da maioria dos fabricantes de semicondutores.
Hoje, segundo executivos da IBM, são produzidos nos EUA apenas 20% de todos os
chips de computador e 25% dos chips baseados nas tecnologias mais avançadas.
Isso tem levado o Pentágono e a Agência Nacional de Segurança a ampliar o número
de fábricas americanas autorizadas a produzir chips para o programa Trusted
Foundry (arsenal de confiança), do Pentágono.
Apesar dos aumentos, executivos da indústria de semicondutores e autoridades do
Pentágono dizem que os EUA não possuem os meios para atender às exigências de
capacidade necessárias para a produção de chips para sistemas sigilosos.
"O Departamento tem consciência de que há riscos envolvidos no uso de tecnologia
comercial de maneira geral e que há riscos ainda maiores com o uso de tecnologia
vinda de fontes globais", disse Robert Lentz, que, até se aposentar, em
setembro, esteve à frente do programa Trusted Foundry.
Hardwares falsificados, manufaturados em grande parte em fábricas asiáticas, são
vistos como problema importante por empresas privadas e planejadores militares.
Uma revisão recente da Casa Branca observou que já houve várias "subversões
inequívocas e propositais" de hardwares de computação.
"Não foram ameaças hipotéticas", disse a autora do relatório, Melissa Hathaway,
em entrevista por e-mail. "Já testemunhamos incontáveis intrusões que permitiram
a criminosos roubar centenas de milhões de dólares e deixaram que Estados-nações
e outros roubassem propriedades intelectuais e informações militares sigilosas."
Os analistas de ciberguerra argumentam que, enquanto até agora a maioria dos
esforços para garantir a segurança de computadores tenham focado os softwares,
mexer com os circuitos de hardware pode acabar se revelando uma ameaça
igualmente perigosa. Isso acontece porque os chips modernos costumam incluir
centenas de milhões ou até bilhões de transistores. A crescente complexidade
significa que modificações sutis na manufatura ou no design dos chips seriam
virtualmente impossíveis de detectar.
Executivos do Pentágono defendem a estratégia de manufatura, que é baseada
sobretudo em um contrato de dez anos com a fábrica protegida de chips da IBM,
que valeria até US$ 600 milhões.
No futuro, e possivelmente já hoje escondidos em armas existentes, acréscimos
clandestinos a circuitos eletrônicos poderão abrir portas secretas que
permitirão a entrada dos fabricantes no momento em que os usuários dependem do
funcionamento da tecnologia. Poderiam ser incluídos botões de desligamento
ocultos, que possibilitariam a desativação à distância de equipamentos militares
controlados por computadores. Tais botões poderiam ser usados por um adversário
ou como salvaguarda, para o caso de a tecnologia cair em mãos inimigas.
É possível que um botão de desligamento inserido como cavalo de Troia já tenha
sido usado. Um ataque da Força Aérea israelense, em 2007, contra uma instalação
que se suspeitava fosse um reator nuclear sírio levou a especulações sobre a
razão de o sistema de defesa antiaérea síria não ter reagido aos aviões de
Israel.
Num primeiro momento, os relatos sobre o caso indicaram que tecnologia
sofisticada de interferência teria sido empregada para cegar os radares. Em
dezembro passado, porém, um artigo publicado em um periódico técnico americano,
"IEEE Spectrum", citou uma fonte industrial europeia que levantou a
possibilidade de os israelenses terem usado um botão de desligamento embutido
para desativar radares sírios.
Em separado, um executivo da indústria americana de semicondutores disse em
entrevista que tinha conhecimento direto da operação e que a tecnologia para o
desativamente dos radares foi fornecida pelos americanos à agência israelense de
inteligência eletrônica, Unit 8200.
Segundo o executivo, que exigiu anonimato, a tecnologia de desativamento foi
dada informalmente, mas com o conhecimento do governo americano. Não foi
possível verificar suas afirmações junto a fontes independentes.
Em 2005, o Conselho de Assessoria Científica de Defesa divulgou relatório
avisando sobre os riscos de chips de fabricação estrangeira e pedindo que o
Departamento de Defesa criasse uma política para frear a erosão da capacidade de
manufatura de semicondutores americanos.
"Quanto mais analisamos o problema, mais preocupados ficamos", disse Linton
Wells 2o, ex-vice-secretário assistente de Defesa. "Francamente, não dispomos de
processo sistemático para fazer frente a isso."
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