São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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China ganha influência na península da Coreia


A prioridade de Pequim para seus vizinhos: estabilidade

Pool photo, via Associated Press
Mãe sul-coreana chora a morte do filho em naufrágio supostamente provocado pela Coreia do Norte; regime pediu ajuda à China depois de a Coreia do Sul suspender política de abertura

Por CHOE SANG-HUN
SEUL, Coreia do Sul - O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, recentemente viajou à China, sob crescente pressão doméstica para pleitear o apoio chinês a sanções internacionais contra a Coreia do Norte, caso, como se acredita, o Norte seja responsabilizado pelo recente naufrágio de um navio sul-coreano. Mas ele dificilmente deve obter esse apoio, dizem analistas, num reflexo do crescente papel da China na península da Coreia.
Desde que tomou posse, em 2008, Lee abandonou a "política ensolarada" com a qual seus antecessores ajudaram a Coreia do Norte e dela se aproximaram. Isso intensifica os temores chineses de instabilidade, coloca o Norte sob a esfera econômica da China e pode dar a Pequim uma maior influência sobre o destino da metade norte da península da Coreia -uma situação que muitos sul-coreanos consideram um pesadelo.
"A influência da China se tornou tão importante que quase podemos dizer que ela agora pode reivindicar o primeiro e o último pedaço da maçã da península da Coreia", disse Lee Byong-chul, pesquisador sênior do Instituto para a Paz e a Cooperação, de Seul, citando um provérbio local para sugerir que a China pode conseguir o que desejar. Mesmo os conservadores, habitualmente contrários a ajudar o Norte, alertam para o fato de que a Coreia do Norte está se tornando uma "colônia chinesa", sempre que circulam relatos de que empresas chinesas estariam assumindo minas e portos norte-coreanos.
Esses temores sem dúvida são exagerados, mas contêm alguma verdade, dizem especialistas. Kim Jong-il, o recluso líder norte-coreano, fez no último dia 3 sua primeira visita à China em quatro anos, para discutir ajuda alimentar e o naufrágio do navio sul-coreano.
A preocupação da Coreia do Sul com a influência econômica chinesa no Norte "é bem fundamentada", disse John Delury, diretor-associado do Centro de Relações EUA-China da Asia Society, de Nova York.
"Entretanto, acho que isso é resultado da decisão de Lee Myung-bak de permitir que a política ensolarada termine, e não uma trama estratégica da China para 'colonizar' a Coreia do Norte economicamente."
A China, responsável por cerca de 70% do comércio da Coreia do Norte, é o único país que pode gerar a pressão econômica necessária para deixar o já isolado Norte à beira do colapso -ou, como esperam Washington, Seul e Tóquio, para pressionar o país a aceitar concessões relativas ao seu programa de armas nucleares.
Mas Pequim sempre vai recear ações mais fortes, temendo que a eventual implosão da Coreia do Norte cause uma maré de refugiados na fronteira e crie a necessidade de uma intervenção militar.
"A China está mais interessada em manter o status quo e evitar a instabilidade e acredita que mais comércio ajudará a evitar que as coisas desmoronem na Coreia do Norte", disse David Straub, do Centro de Pesquisas Ásia-Pacífico Shorenstein, da Universidade Stanford, na Califórnia.
A China faz malabarismos na sua diplomacia entre a Coreia do Norte e seus adversários, assim como a Coreia do Norte joga as potências regionais entre si para assegurar a linha vital que lhe sustenta e que lhe permite evitar mudanças políticas, ao mesmo tempo em que preserva seus programas nucleares. No passado, as sanções contra o Norte provocaram resultados contraditórios; com frequência, endureceram sua atitude desafiadora.
Jin Jingyi, especialista chinês em assuntos coreanos da Universidade de Pequim, disse que o naufrágio do navio sul-coreano salientou a fraqueza da posição de Lee. "O fato de que a Coreia do Sul continue falando em cooperação internacional com a China e outros mostra que Lee Myung-bak perdeu a iniciativa nas relações intercoreanas", afirmou Jin. "A China estará muito cautelosa. Não acho que pressionar o Norte ajudará a resolver o problema."
A China, interessada em aumentar a estabilidade e reduzir os riscos econômicos na região, gostaria de ver melhores relações intercoreanas, dizem especialistas, mas justamente o contrário aconteceu no governo de Lee.
"A China provavelmente preferia partilhar com o Sul o ônus de se envolver economicamente, mas, se necessário, vai se segurar como único canal econômico da Coreia do Norte", disse Delury, da Asia Society. "Os chineses -famintos por recursos, centrados na estabilidade e avessos a sanções- vão continuar preenchendo a lacuna deixada pelo desmantelamento da cooperação intercoreana."


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