São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Recifes protegidos em Belize são modelo de conservação


Reserva marinha prospera ao proibir ou limitar a pesca

Por ERIK OLSEN
GLOVER'S REEF, Belize - Enquanto Alex Tilley acelera seu bote pelo mar, uma forma escura desliza sobre a areia branca lá embaixo. "Uma arraia", diz Tilley.
A caminho da estação de pesquisa da Sociedade para Preservação da Natureza em Glover's Reef, em Belize, pelo menos meia dúzia de arraias são avistadas movendo-se sob a superfície. Para Tilley, a presença delas diz muito sobre a situação atual dos recifes. "As populações de peixes daqui ainda estão robustas", disse. "Este é definitivamente um dos recifes mais saudáveis da região."
Tilley é o diretor da estação e cientista residente em Middle Caye, 1 das 6 ilhotas do atol de Glover's Reef. Candidato a doutor em biologia marinha pela Universidade de Bangor (Reino Unido), Tilley lidera um programa de monitoramento de recifes patrocinado pela Sociedade de Preservação da Vida Silvestre, organização sediada nos EUA que ajudou a fundar a reserva em 1993.
O britânico Tilley agora vive ali o ano todo, dirigindo a estação de pesquisa e realizando estudos sobre tubarões e arraias locais. Com seu ambiente de vegetação luxuriante e um recife cheio de vida, o lugar é uma espécie de paraíso tropical. "É muito melhor do que trabalhar em um laboratório", disse.
Glover's Reef, a cerca de 45 km da costa de Belize, é um dos poucos verdadeiros atóis do oceano Atlântico. Também é o local da maior reserva marinha totalmente protegida de Belize, uma área de 7.000 hectares onde qualquer tipo de pesca é proibido. A área de proteção total constitui cerca de 20% dos 35 mil hectares da área de proteção marinha local. Dentro de 75% da reserva alguns tipos de pesca são permitidos, embora haja restrições sobre os equipamentos que podem ser usados.
Para cientistas locais, a reserva marinha de Glover's Reef constitui um exemplo de viabilidade para reservas semelhantes em todo o mundo. Agora, eles esperam aplicar algumas das estratégias de conservação dali para que outros lugares tenham o mesmo sucesso.
"Acho que Glover's Reef é um modelo de esperança", diz Ellen Pikitch, bióloga marinha da Escola de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade Stony Brook, em Long Island (EUA). Pikitch dirige o Instituto de Ciência da Conservação Oceânica, organização de proteção a tubarões. Ela disse que o esforço em Glover's Reef "mostra que as reservas marinhas, mesmo pequenas, podem dar certo".
Pikitch tem outros motivos para ser otimista. Ela lidera o maior estudo sobre a população de tubarões no mar do Caribe em Glover's Reef, que já está em seu décimo ano. As populações de tubarões dali permaneceram estáveis, enquanto outras ao redor do mundo estão em severo declínio.
Os tubarões são uma parte integral de um recife saudável. Com outros altos predadores, eles ajudam a manter sob controle a população de barracudas, o que é importante porque estas consomem peixes que, por sua vez, comem algas e evitam que estas cresçam demais e sufoquem os corais. Outra pesquisa demonstrou que, em longo prazo, as áreas protegidas podem ter até um efeito restaurador sobre as populações de corais.
John Bruno, ecologista marinho da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, e Elizabeth Selig, cientista marinha da Conservation International, analisaram um banco de dados global com estudos de 8.534 coberturas de corais vivos, conduzidos de 1969 a 2006. Eles relataram suas conclusões em fevereiro na "Proceedings of the National Academy of Sciences".
"Descobrimos que as áreas marinhas protegidas têm um efeito indireto que parece beneficiar os corais", disse Bruno. Mas ele explicou que leva tempo -"às vezes décadas"- para que esses efeitos sejam notados. Pikitch atribui o sucesso de Glover's Reef ao projeto da área protegida. A zona de proteção total ajuda a recuperar os estoques de peixes. Esses peixes, então, repovoam os pesqueiros próximos, fora da zona.
Ela chama isso de fazer "um dever duplo" e diz que essas estratégias têm especial importância em lugares como Belize, onde a pesca foi um dos meios principais de subsistência desde o tempo dos maias.
Ainda há desafios importantes. A aplicação da lei continua sendo um problema. Além disso, o conjunto de recifes mais amplo de Belize é considerado um dos mais ameaçados do mundo, graças aos efeitos da poluição, da pesca excessiva e do aquecimento global.
Pikitch reconhece que os problemas que os recifes enfrentam são significativos, mas continua otimista porque novas informações, incluindo dados de seu estudo sobre os tubarões, vão aumentar a consciência e conduzir a medidas de proteção dos recifes. "Estamos perdendo recifes de coral em uma velocidade surpreendente", disse. "[Mas] quando você tem um sucesso como este em um ecossistema de coral, você diz 'Puxa, isto é excelente!'"


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