São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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ENSAIO

DAMON DARLIN

Em busca de boas surpresas

James Yang

Ganhamos muito com a era digital. Temos mais opções de entretenimento, e é rápido descobrir o que procuramos. Melhor de tudo, grande parte é grátis.
Mas também perdemos algo: a descoberta feliz de algo que nunca soubemos que queríamos encontrar. Em outras palavras, a era digital está acabando com o "serendipity" -palavra inglesa que designa descobertas casuais e positivas.
Quando entramos na casa dos outros, examinamos suas estantes, prateleiras de CDs e coleções de vídeo. Isso nos dá uma medida dos gostos do proprietário, e, com bastante frequência, encontramos um cantor, um artista ou um documentário que não conhecíamos.
Mas os CDs desapareceram dentro do iPod. E as prateleiras de vídeos raramente são vistas, já que muitas vezes baixamos os discos na web. E, qualquer dia, as coleções de livros podem acabar dentro de um Kindle. Com um leitor de e-books, a pessoa sentada à sua frente no metrô nunca mais saberá o que você está lendo.
Ah, dirão os tecnófilos, não há por que se preocupar. Temos o Facebook e o Twitter, com uma torrente de sugestões sobre o que ler, ouvir, ver e fazer.
Mas isso não é "serendipity". É, na verdade, pensamento grupal. Tudo o que precisamos saber chega filtrado e examinado. Estamos descobrindo o que todos os demais estão aprendendo, e normalmente de pessoas que selecionamos por compartilharem nossos gostos. E há informação demais. Milhares de pessoas podem nos mandar sugestões todos os dias -algumas úteis, outras não. Temos de ouvi-las, selecioná-las e reagir a elas. Já que pagamos por isso com o nosso tempo, a necessidade humana de se surpreender apresenta uma oportunidade para novos negócios.
Alguém consegue separar a informação e fornecer as ideias relevantes para uma pessoa específica que ainda não saiba o que precisa? Um ecossistema foi construído em torno do Twitter na tentativa de faturar com sua popularidade. Serviços como TweetRiver, Tweepular, TweetSum, TwitZap, TwitHive, Tweenky, Tweetree, Splitweet e CoTweet proliferam para tentar administrar o afluxo de informação.
O próprio Twitter reformou seu site em torno do mecanismo de buscas de uma dessas empresas. A razão dessa reforma foi principalmente dar aos usuários ferramentas para encorajar o "serendipity".
Biz Stones, um dos fundadores do Twitter, escreveu que "reposicionar o produto para focar mais na descoberta é um primeiro passo importante em apresentar o Twitter a uma audiência mais ampla de pessoas ao redor do mundo que está ávida para começar a se envolver com novas pessoas, ideias, opiniões, eventos e fontes de informação".
Ainda assim, são soluções para a gestão da informação, e não para estimular um bem-vindo caráter aleatório.
Muitos têm tentado recriar o "serendipity". O StumbleUpon ("tropece em") é um serviço da web que direciona o usuário a conteúdos que ele possa achar interessante, com base em seus hobbies e interesses. É uma boa tentativa, mas continua dizendo aos leitores aquilo que eles querem saber.
O UrbanSpoon ("colher urbana"), um dos mais populares aplicativos do iPhone, busca a aleatoriedade com um componente de caça-níqueis. Balance o telefone, e três visores -localização, cozinha e preço- giram para localizar um restaurante aleatório. Ele recebe cerca de 1 milhão de chacoalhadas por dia, disse Ethan Lowry, um dos fundadores desse serviço.
"Ele foi desenvolvido tendo em mente um verdadeiro problema de 'serendipity'", disse Lowry, lembrando que seus amigos certa vez estavam indo almoçar no mesmo lugar de sempre quando ele segurou seu celular e disse: "Imagine se você chacoalhasse isso como um Magic 8 Ball (antigo brinquedo que simulava um jogo adivinhatório) e ele desse uma resposta".
Mas algo engraçado ocorre com seu usuários. Eles começam a depender do mecanismo de busca ou do dispositivo "Talk of the Town", que ecoa o sentimento da comunidade. Só que o algoritmo responsável por isso é um "crowdsourcing" (criação usando o conhecimento coletivo), substituindo o "serendipity" buscado.
Vamos ter de continuar torcendo para que alguém tope por acaso com a solução.


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