|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em 2 assentamentos da Cisjordânia, sinais de esperança para um acordo
Por ETHAN BRONNER e ISABEL KERSHNER
MODIIN ILLIT, Cisjordânia - Visto de longe, o assentamento de
Modiin Illit, em rápida expansão,
encarna tudo aquilo que o governo
de Barack Obama quer resolver
com sua exigência de congelamento
na ampliação das colônias
israelenses. Ele fica em território
capturado por Israel em 1967 e,
com 45 mil habitantes e 60 partos
por semana, é a maior comunidade
judaica da Cisjordânia, além de
ser a que mais cresce.
Se é verdade que o "crescimento
natural" dos colonos impede a
criação de um Estado palestino
viável, esta comunidade deveria
demonstrar o porquê.
Mas as aparências enganam.
Modiin Illit e uma comunidade-irmã,
Beitar Illit, são inteiramente
ultraortodoxas, com rígida observância
religiosa, embora ofereçam
um supreendente potencial
para a acomodação.
Ao contrário dos colonos que crêem
manter a histórica missão sionista
de recuperar a pátria judaica,
a maioria dos ultraortodoxos não
se considera colono ou sionista e
não manifesta o compromisso de
ficar na Cisjordânia, de modo que
seu crescimento nestas localidades,
situadas logo além da fronteira
pré-1967, poderia ser redirecionado
para oeste, dentro de Israel.
"Se eu achasse que isso é um assentamento,
nunca teria vindo para
cá", disse Yaakov Guterman, 40,
prefeito de Modiin Illit e avô de três
netos. Questionado sobre a perspectiva
de um Estado palestino
bem ao seu lado, disse: "Acompanharemos
o que o mundo quer. Passamos
pelo Holocausto e sabemos
o que significa ter o mundo contra
nós. A Torá diz que um homem precisa
conhecer o seu lugar".
Todos os negociadores envolvidos
no processo de paz do Oriente
Médio -israelenses, palestinos
e norte-americanos- há muito
tempo consideram que pequenos
ajustes nas fronteiras e trocas de
territórios serão essenciais para
um acordo, que incluiria também
uma solução para centenas de milhares
de judeus que se radicaram
na Cisjordânia nas últimas quatro
décadas.
Os habitantes ultraortodoxos
costumam manifestar desprezo
pelo movimento colonizador e por
suas promessas de jamais se mudarem.
As pessoas de Modiin Illit, que
rejeitam a maior parte dos aspectos
da modernidade, vieram por três
razões: precisavam de moradias a
preços acessíveis, inexistentes em
Jerusalém, Tel Aviv e arredores;
foram rejeitadas por outras cidades
israelenses, que as consideravam
fanáticas demais; e as autoridades
desejavam sua presença para ampliar
as fronteiras de Israel.
O movimento dos colonos e o governo
israelense citam os assentamentos
ultraortodoxos, com suas
famílias grandes e sempre em expansão,
para argumentar que não
há meio de conter o "crescimento
natural" sem impor um agudo sofrimento
humano.
Já os defensores do congelamento
usam esses assentamentos
como prova de que o crescimento
está tão descontrolado que exige
uma ação drástica. De modo
mais amplo, críticos dizem que os
assentamentos violam o direito
internacional, legitimam a força
por parte de judeus messiânicos
armados e arruinam a chance de
que se estabeleça um Estado palestino
viável.
Porém, mesmo os partidários
de um congelamento total admitem
que as taxas de crescimento
anual de 5% a 6% na população de
colonos devem muito a essas duas
localidades, que pouco têm a ver
com a empreitada colonizadora
como um todo.
Abedallah Abu Rahma, professor
oriundo de uma família rural e
ativista de destaque em Bilin, vila
palestina ao lado de Modiin Illit,
disse que respeitaria um eventual
acordo entre as lideranças palestina
e israelense, inclusive se isso
deixar o assentamento dentro de
Israel. Mas, citando a dependência
da aldeia em relação à agricultura,
suas próprias necessidades habitacionais
e o avanço de Modiin Illit
sobre o território de Bilin, ele insistiu:
"Precisamos da nossa terra".
Avraham e Riva Guttman, que
chegaram de Toronto a Beitar Illit
há 15 anos e agora têm sete filhos,
veem aldeias palestinas a partir da
sua rua. Eles acreditam que vivem
na terra de Israel. Mas não insistem
que seja isso ou nada. "Não estamos
aqui por razões políticas",
disse Guttman. "Noventa por cento
das pessoas estão aqui pelo custo
acessível, não por ideologia."
Talvez, mas sua esposa reclama
da ideia de se transferir. "Se
você me dissesse para me mudar
para outro lugar porque os árabes
precisam de um lugar para viver,
eu não ficaria com a consciência
tranquila", disse Riva. "Sou uma
judia na pátria judaica."
Mesmo assim, um número surpreendente
não se opõe ao estabelecimento
de um Estado palestino.
"Se os norte-americanos conseguirem
nos convencer de que
realmente haverá paz e que não
estaremos vivendo com medo dos
foguetes [lançados por radicais
palestinos], levaremos uma recomendação
aos nossos rabinos",
afirmou Guterman. "Nossos rabinos
querem a paz. Não somos contra
nos retirar de um território.
Mas a vida está acima de tudo."
Texto Anterior: Sem-teto poloneses sonham com uma odisseia no mar Próximo Texto: DINHEIRO & NEGÓCIOS Economia da Espanha vacila, e assaltos a bancos aumentam Índice
|