São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Economia da Espanha vacila, e assaltos a bancos aumentam

Por NELSON D. SCHWARTZ

BARCELONA, Espanha - O empreiteiro de 52 anos estava desesperado para salvar sua empresa. Incapaz de pagar seus funcionários e enfrentando a falência iminente, Ausencio C. G., como a polícia espanhola o identificou, foi ao banco -mas não para pedir um empréstimo.
Cobrindo as pontas dos dedos com fita cirúrgica e usando uma máscara de esquiador e uma jaqueta para ofuscar sua imagem nas câmeras de segurança, o empreiteiro teria roubado 80 mil euros de quatro bancos antes de ser apanhado quando tentava o quinto assalto perto de Barcelona, em fevereiro.
São ao todo cerca de R$ 230 mil -metade dos quais veio de seu primeiro assalto e foi usada para pagar seus funcionários, segundo ele disse à polícia.
Hoje na prisão aguardando julgamento, o empreiteiro faria parte de um grupo que está mais atarefado que nunca nesse país abalado pela recessão: o de assaltantes de bancos. De fato, com o desemprego se aproximando de 20%, o mais alto da Europa, e previsões de que a economia vá encolher 4,2% este ano, os assaltos a bancos em 2009 estão 20% acima do ritmo de 2007, segundo a associação de bancos da Espanha.
"Nos últimos meses, ficou claro que a Espanha está sofrendo um aumento dos assaltos a bancos", disse Francisco Pérez Abellán, diretor do departamento de criminologia da Universidade Camilo José Cela, em Madri. "Estamos vendo as pessoas cometerem ofensas por necessidade, infratores primários que não conseguem mais manter seu estilo de vida e recorrem ao crime."
Na área de Barcelona, somente 7% dos assaltantes de bancos eram criminosos primários em 2008, disse José Luis Trapero, chefe de investigações do esquadrão policial regional. Esse número saltou para 20% este ano.
Embora os executivos de bancos afirmem que não há uma ligação comprovada entre a recessão econômica e a ascensão dos assaltos, muitos espanhóis dizem achar que as tendências são mais que uma coincidência -incluindo o sindicato que representa os funcionários de bancos. Recentemente, ele convenceu o governo espanhol a classificar o assalto a banco como um risco ocupacional.
"Existe desemprego, existe fome e existe dinheiro nos bancos, e os três fatores se combinam", disse José Manuel Murcia, diretor de saúde laboral para o setor financeiro de um dos maiores sindicatos da Espanha, o CCOO.
Enquanto o assaltante de banco típico é um homem espanhol com mais de 35 anos, que age sozinho e ataca perto de casa, segundo o professor de criminologia Pérez Abellán, está surgindo uma nova onda de bandidos. São criminosos originários dos grupos de milhões de trabalhadores que foram à Espanha saídos de países de América Latina, Europa Oriental e outros lugares, antes que o longo boom da construção espanhola estourasse.
Por exemplo, um grupo de quatro pintores sul-americanos recorreu ao assalto em março, sequestrando um gerente de banco e sua família perto de Barcelona, antes de obrigar o gerente a abrir o cofre do banco e lhes entregar mais de 150 mil euros, quase R$ 430 mil.
Os pintores, que não tinham registro criminoso na Espanha, eram originários de Brasil e Argentina. Foram apanhados em junho, ao tentar um último roubo antes de voltar à América do Sul.
Em 2007, 87% dos assaltos a bancos foram solucionados, comparados com 72% no ano passado. Até agora, neste ano, menos da metade resultou em uma detenção. Mas Trapero, veterano há 19 anos na polícia, é paciente para rastrear sua presa. "Muitas vezes leva meses ou anos para solucionar alguns casos", ele disse.
"Existem assaltantes muito inteligentes que cuidam de quase todos os detalhes, mas sempre escorregam no final."


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