São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Mozilla passa a temer navegador do Google

Por MIGUEL HELFT

MOUNTAIN VIEW, Califórnia - Os cubículos e corredores dos escritórios da Mozilla estavam cheios de caixas em uma tarde recente, e seu executivo-chefe, John Lilly, parecia um pouco desorientado procurando um lugar para se sentar. A Mozilla, que faz o navegador da web Firefox, tinha acabado de se mudar de um extremo de Mountain View, na Califórnia, para o outro, principalmente para ganhar espaço para sua força de trabalho em expansão.
Mas era difícil não ver certo simbolismo nessa medida. Os antigos escritórios da Mozilla eram vizinhos do crescente quartel-general do Google. Durante vários anos, o Google foi o maior aliado e patrono da Mozilla. Mas, no ano passado, também se tornou seu concorrente, quando revelou o Chrome, seu próprio navegador de internet. Então, pareceu muito natural que a Mozilla saísse das sombras do Google.
"Aprendemos a competir com a Microsoft e a Apple", disse Lilly, 38. "A Google é uma gigante, é claro, e concorrer com ela significa que estamos concorrendo com outro gigante, o que é um pouco cansativo."
Essas grandes companhias não pensavam muito em navegadores quando o Firefox foi lançado, em 2004, nem a maioria dos usuários comuns da web. O navegador, ou browser, era apenas uma janela para a web, e as pessoas usavam o que viesse instalado no computador. Geralmente isso queria dizer o Internet Explorer, da Microsoft.
Desde então, o Firefox capturou quase 25% do mercado de navegadores, ao se concentrar em velocidade, segurança e inovação. Seu sucesso é ainda mais notável porque ele foi construído e comercializado por uma comunidade de programadores, testadores e fãs -na maioria voluntários- coordenados por uma fundação sem fins lucrativos.
É um exemplo do potencial do software de fonte aberta, que qualquer um pode modificar e aperfeiçoar, e sua ascensão é uma das histórias de sucesso mais incomuns no vale do Silício.
A Mozilla mostrou ao mundo que os navegadores importam. Hoje, o desafio é seguir provando que a Mozilla importa.
A ascensão do Firefox desencadeou uma nova onda de inovação e concorrência entre os fabricantes de browsers. A Microsoft e a Apple, que faz o navegador Safari, reduziram a brecha com recentes atualizações. Isso torna menos provável que as pessoas se deem o trabalho de procurar e instalar o Firefox.
Além disso, a Microsoft e a Yahoo recentemente concordaram em colaborar em pesquisa e publicidade na internet, em uma aposta para desafiar o Google.
Ao mesmo tempo, a web tem migrado dos PCs para poderosos celulares como o iPhone. O Firefox só terá pronta sua versão para celular no final do ano.
E, então, há a Google. Depois de lançar o Chrome, browser rápido como um raio destinado a rodar aplicativos da web cada vez mais complexos, o Google aumentou a aposta. Recentemente, disse que colocará o Chrome no centro de um novo sistema operacional -o software que lida com as funções básicas de um PC.
"Google, Apple e Microsoft podem aplicar um monte de recursos para melhorar seus navegadores. A Mozilla, nem tanto", diz Rob Enderle, analista do Enderle Group. "Quando ela concorria só com a Microsoft, o problema não era tão grande. Hoje, que há outras alternativas, é mais difícil para ela manter a relevância."
Apesar dos poderosos e cada vez mais competitivos rivais da Mozilla, a disseminação do Firefox continuou firme. Quase 300 milhões de pessoas em todo o mundo o utilizam, fazendo do browser não apenas o mais bem-sucedido produto de consumo de fonte aberta, mas também um dos softwares de maior sucesso em todos os tempos.
Em grande medida, esse sucesso se originou de uma comunidade esparsa que se reuniu em torno do Firefox e foi controlada por Mitchell Baker, a antecessora de Lilly. Baker, 52, que Lilly chama de a "consciência" da Mozilla, continua sendo sua presidente e está ativamente envolvida na administração.
Lilly prontamente admite que a entrada da Google no mercado de navegadores abalou a Mozilla. "A vida era mais simples antes que eles fizessem isso", diz.
Segundo Lilly, com a concorrência, o Firefox e seus admiradores terão de trabalhar mais duro para encontrar áreas de tecnologia de navegador onde queiram concentrar seus esforços e deixar que Google, Apple e Microsoft comandem a inovação em outras áreas.
Mas Lilly disse que a concorrência renovada é um testamento do sucesso do Firefox e da missão da Mozilla. "Este é o mundo que queríamos e o mundo que fizemos", ele diz. "Queríamos um mundo onde as pessoas pudessem fazer opções significativas sobre a tecnologia de navegador que elas usam. É o que existe hoje."


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