São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Brasileiros põem receptividade japonesa à prova

Por NORIMITSU ONISHI

TOYOTA, Japão - Confrontado com escassez de mão-de-obra, mas sempre receoso de autorizar o ingresso de estrangeiros ao país, o Japão abriu uma exceção aos nisseis em 1990. Com raízes, rostos e nomes japoneses, esses filhos e netos de emigrantes japoneses ao Brasil se encaixariam mais facilmente numa sociedade tão fechada a estrangeiros —ou, pelo menos, era esse o raciocínio.
Nas duas décadas passadas desde então, apesar dos desaquecimentos econômicos periódicos, como o atual, o número de trabalhadores nisseis brasileiros no Japão não pára de crescer. Eles se aglomeram em regiões industriais repletas de fábricas de nomes conhecidos, como Honda, Sanyo e Toyota, cuja sede deu nome a esta cidade na região central do Japão.
Mas em nenhum outro lugar do país, possivelmente, os japoneses e nipobrasileiros se defrontam com tanta intensidade quanto no conjunto habitacional público Homi Estate, em Toyota. Homi tem 8.891 moradores, agora divididos quase igualmente entre japoneses (52%) e estrangeiros (48%).
“Para ser franco, nunca imaginei que este lugar fosse virar um bairro multiétnico”, disse o líder comunitário japonês Toshinori Fujiwara, 69 anos.
É provável que daqui a uma geração mais japoneses façam comentários semelhantes, à medida que a população japonesa envelhece e sua força de trabalho encolhe. A escassez de mão-de-obra se espalhou de fábricas para fazendas, navios pesqueiros, hospitais e outras áreas, levando o país a abrir suas portas a trabalhadores temporários da China e de outros países asiáticos.
Especialistas dizem que, se quiser ter trabalhadores para continuar uma grande potência industrial, o Japão pode ser obrigado a abrir-se para mais imigração.
Os 317 mil nipo-brasileiros do país —cujos filhos estão crescendo no Japão— formam de fato a maior população imigrante local.
De longe, o conjunto habitacional Homi parece qualquer outro complexo residencial japonês.Mas, ao chegar mais perto, percebe-se que as placas nas ruas são escritas em japonês e em português. Os restaurantes do centro comercial servem comida brasileira e uma loja de conveniência exibe revistas do Brasil. Um supermercado japonês foi substituído no ano passado por um nipobrasileiro, refletindo as mudanças demográficas em Homi.
“Tive sorte, os japoneses me trataram bem”, disse Rita Okokama, 40 anos, nissei que vive em Toyota há 18 anos e é dona de uma padaria. “Mas outros brasileiros sofreram preconceitos. Os comerciantes japoneses ficam seguindo os fregueses nisseis, porque acham que eles vão furtar.”
A escola primária de Homi, onde crianças nisseis formam 53% dos 196 alunos, dá aulas complementares da língua japonesa e outras matérias. Em parte por isso, as crianças nisseis não abandonam as aulas, problema comum em outras escolas públicas, onde as crianças estrangeiras frequentemente são maltratadas pelos colegas.
A nova era pode ser exemplificada por um aluno nipobrasileiro de nove anos chamado Nicholas Wada. Seus pais, João, 44 anos, e Silvana, 40, vieram para o Japão há 18 anos e também criaram aqui a filha Veridiana, 22. Neste ano, em sinal de compromisso com o país, construíram aqui um sobrado.
“Meu filho não tem nenhuma imagem do Brasil em sua cabeça. Construímos esta casa para ele”, disse Wada. “Nicholas diz que não quer ir ao Brasil.”

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