São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Hamas une viúvas da guerra com militantes palestinos

Por TAGHREED EL-KHODARY

GAZA - Os noivos resplandeciam em camisas brancas, enquanto todas as noivas vestiam preto. Num estádio esportivo numa noite de outubro, milhares de palestinos —300 casais, mais convidados— participaram de um casamento coletivo, o décimo realizado pelo Hamas neste ano em Gaza.
O grupo islâmico, que controla a faixa de Gaza, observa uma trégua com Israel desde junho, o que permite que seus comba-tentes deixem a clandestinidade, mas fiquem sem ter muito o que fazer. Ao mesmo tempo, centenas de mulheres ligadas ao Hamas ficaram viúvas recentemente, porque seus maridos foram mortos em confrontos contra Israel ou na luta armada do ano passado contra a facção rival Fatah.
Aproveitando a pausa na violência, os líderes do Hamas viraram agentes matrimoniais: unem as viúvas aos combatentes solteiros e oferecem dotes e festas.
“Casamento é o mesmo que jihad [guerra santa]”, disse Muhammad Iousef, recém-casado membro das brigadas Qassam, a força clandestina do Hamas. “Com o casamento, você está produzindo outra geração que acredita na resistência.”
Cerca de 300 membros das Qassam, a maioria entre 20 e 30 anos, foram com suas noivas à cele-bração mais recente, num estádio esportivo do bairro de Tuffah, no leste da cidade de Gaza. As mesquitas locais noticiaram o evento e ajudaram a encontrar esposas para homens cujas famílias já não tivessem lhes arranjado um par.
Um estímulo adicional foi a promessa de uma doação do Hamas em dinheiro, no lugar do dote, que poucas famílias podem pagar. Mas o embargo econômico mantido por Israel —que a exemplo dos EUA e da União Européia qualifica o Hamas como grupo terrorista— de certa forma tirou o brilho da festa. Enquanto os casais mais pobres receberam até US$ 2.000, os menos necessitados saíram com apenas US$ 200. “Isso é o preço de um estrado de madeira para uma suíte”, disse a frustrada noiva Ola Dalo, 21, com a cabeça apoiada no seu novo marido, Ali Msabah, 24.
Uael al Zard, diretor da Al Taisir, entidade ligada ao Hamas que tenta ajudar combatentes que não tenham condições de se casar, disse que muitos muçulmanos que costumavam fazer doações com dinheiro do golfo Pérsico pararam com isso “por medo”.
Embora há muito tempo o Hamas organize casamentos coletivos, agora o faz com mais entusiasmo, dando especial ênfase a encontrar novos parceiros às viúvas da guerra. Uma delas, Amani Saed, 24, participou da cerimônia com os dois filhos do seu primeiro casamento, Rami, 5, e Muhammad, 3. Seu marido, Khaled Saed, foi morto aos 28 anos, em 2007, nos confrontos entre Hamas e Fatah.
Oito meses depois da morte de Khaled, o pai dele pediu a mão de Amani para seu filho mais novo, Muhammad, 22, funcionário do Ministério do Interior da faixa de Gaza. Amani relutou, mas aceitou. “Muhammad é mais jovem. É duro, mas é bom para as crianças”, disse ela.

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