São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Dinheiro russo domina a costa montenegrina


Super-ricos acham uma alternativa à Riviera Francesa

Por DAN BILEFSKY

BUDVA, Montenegro - A crise econômica global derrubou os balanços financeiros da legião de bilionários russos. Mas malas cheias de dinheiro e iates de propriedade russa continuam chegando a esta idílica cidade no Adriático, contribuindo com a fama de Montenegro de ser uma espécie de “Moscou à beira-mar”.
Um dos maiores investidores é o incorporador russo Vientseslav Leibman, jovem milionário que toca empreendimentos de US$ 310 milhões, como um hotel mo-dernista de 27 andares, mansões, marinas e um parque aquático.
O investimento pode ser ousado diante da forma como a desaceleração econômica afetou os super-ricos da Rússia. Mas o moscovita Leibman insiste que mal dá conta da demanda.
Ele disse que mais da metade dos amplos apartamentos no novo empreendimento já foi vendida a executivos de grandes empresas russas, como Gazprom, Lukoil e VTB, que pagam adiantado e em dinheiro.
Apesar da crise econômica, “o dinheiro continua entrando”, disse Leibman, que recentemente ajudou a trazer Madonna para cantar em Budva e promover seu empreendimento. “E tomara que a crise financeira global ajude a moderar o preço dos terrenos aqui, que atualmente estão mais caros que os de Mônaco.”
Graças em grande parte aos ricos russos, Montenegro continua recebendo mais investimentos estrangeiros per capita do que qualquer outro país europeu. Nos últimos anos, investidores russos dominaram os terrenos da costa montenegrina, uma alternativa charmosa ao sul da França e à costa da Turquia.
Na vizinha Sérvia, a Gazprom, estatal que detém o monopólio da energia na Rússia, recentemente adquiriu participação majoritária na companhia nacional de energia, a Indústria do Petróleo da Sérvia, por US$ 250 milhões, e aceitou investir outros US$ 650 milhões até 2012. O acordo dará à Gazprom uma posição dominante no mercado energético da Sérvia, além de transformar o país em um acesso para o envio de gás russo à Europa Ocidental.
Enquanto governos em todo o oeste dos Bálcãs se voltam para os EUA e a Europa —e buscam ativamente a adesão à União Européia e à Otan—, o afluxo de capital russo é visto por alguns em Bruxelas e Washington como uma retaliação por parte de Moscou para impor sua influência numa região ex-comunista, com a qual tem vínculos tradicionais.
Mas Dmitri Peskov, porta-voz do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, qualificou como “totalmente absurda” a idéia de que haveria motivação política por trás dos investimentos.
“Quando há 30 anos os britânicos estavam investindo em terrenos litorâneos na Espanha, nunca passou pela cabeça de ninguém falar em aumento da influência política”, disse Peskov. “Quando britânicos ou norte-americanos investem nos países do Golfo, não é pressão política. Mas toda vez que se trata da Rússia, a coisa é imediatamente tratada como uma exibição de musculatura política.”
Leibman lembrou que Sérvia e Montenegro têm em comum com a Rússia a identidade eslava e cristã ortodoxa. “Quando nós, russos, estamos aqui, não sentimos que cruzamos a fronteira.”

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