São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Mulheres jovens já traem quase com a mesma freqüência dos homens

Amor, sexo e o novo conceito de fidelidade

Por TARA PARKER-POPE

Se você traísse seu cônjuge, admitiria isso a um pesquisador? Eis um dos maiores desafios no estudo científico do casamento, que ajuda a explicar por que pesquisas dife-rentes obtêm estimativas tão díspares sobre a infidelidade nos EUA.
Pesquisas realizadas pessoalmente tendem a subestimar a incidência real do adultério, pois as pessoas relutam em admitir tal comportamento, e não só ao cônjuge.
Pesquisadores da Universidade do Colorado e da Universidade A&M, do Texas, avaliaram 4.884 mulheres casadas, usando entrevistas pessoais e questionários por computador. Nas entrevistas, só 1% das mulheres admitia ter traído seus maridos nos 12 meses anteriores. Pelo computador, 6% admitiram.
Por outro lado, especialistas dizem que pesquisas publicadas em revistas femininas, por exemplo, tendem a superestimar o índice de adultério, por causa da distorção da amostra —quando as entrevistas são voluntárias, há a tendência de que as infiéis se manifestem mais.
Mas novos estudos sugerem mudanças surpreendentes no cenário conjugal. A infidelidade parece estar em alta, principalmente entre homens mais velhos e jovens casais. As mulheres estão superando uma disparidade: as mais jovens já traem quase tanto quanto os homens.
“Se você simplesmente pergunta se a infidelidade está crescendo, não vê mudanças realmente impressionantes”, disse David C. Atkins, pesquisador-associado do Centro para o Estudo da Saúde e dos Comportamentos de Risco da Universidade de Washington. “Mas se você amplia o quadro e começa a examinar por gêneros e faixas etárias específicas, começa a ver mudanças bem significativas.”
Os dados mais consistentes sobre a infidelidade vêm da Pesquisa Social Geral patrocinada pela Fundação Nacional de Ciências e coordenada pela Universidade de Chicago, que desde 1972 emprega uma amostra nacional representativa para monitorar opiniões e comportamentos. Os dados mostram que cerca de 10% das pessoas casadas —12% dos homens e 7% das mulheres— dizem ter mantido relações sexuais extraconjugais no ano anterior.
Mas uma análise detalhada dos dados de 1991 a 2006 revela mudanças surpreendentes. Pesquisadores da Universidade de Washington descobriram que a prevalência dos homens com mais de 60 anos que já foram infiéis em algum momento da vida subiu de 20% em 1991 para 28% em 2006. Para as mulheres com mais de 60, o aumento é mais notável: de 5% para 15%.
Há várias teorias para o aumento da infidelidade. Para os mais velhos, surgiram novas drogas e tratamentos que estimulam a vida sexual e, às vezes, a traição. Aí estão o Viagra e outros medicamentos contra a disfunção erétil; os suplementos de estrogênio e testosterona para manter a saúde vaginal e a libido da mulher; e até avanços em próteses de quadril.
Entre casais jovens, a crescente dis-ponibilidade da pornografia pela internet, que afeta as atitudes sexuais e a noção sobre o que é um comportamento “normal”, pode estar vinculada ao aumento da infidelidade.
Mas uma aparente mudança na fidelidade feminina desperta mais interesse entre os pesquisadores. “Será que os homens estão se vangloriando [da traição], e as mulheres estão mentindo para todo mundo, inclusive si mesmas?”, questiona Helen Fisher, professora de antropologia da Universidade Rutgers (Nova Jersey). “Os homens querem pensar que as mulheres não traem, e as mulhe-res querem que os homens pensem que elas não traem, e assim os sexos fazem um joguinho psicológico.”
Fisher lembra que a infidelidade existe em todas as culturas, e nas sociedades caçadoras e coletoras não há sinal de que a mulher seja menos adúltera que o homem. A disparidade na fidelidade pode ser mais explicada por pressões culturais do que por diferenças reais na libido. Homens com múltiplas parceiras são habitualmente considerados viris, enquanto as mulheres são consideradas promíscuas. E, historicamente, as mulheres estiveram isoladas no campo ou em casa, com filhos, o que lhes dava poucas oportunidades de trair.
Hoje, porém, mulheres casadas podem ficar até tarde no escritório ou viajar a trabalho. E mesmo as que ficam em casa têm celulares e e-mail para desenvolver relacionamentos mais íntimos, segundo terapeutas do casamento. O psiquiatra Frank Pittman, de Atlanta, especialista em crises familiares e terapia de casais, diz ter notado que mais mulheres falam em romances centrados no contato “eletrônico”.
“Vejo uma mudança na paisagem, em que a ênfase é menos no sexo do que na abertura, na intimidade e na revelação de segredos”, disse Pittman. “Todo mundo fala ao celular, e a relação evolui porque você se torna cada vez mais distante daquele para quem você mente, e cada vez mais próximo daquele a quem diz a verdade.”

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