São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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A misteriosa tosse, enfim fotografada

Por DENISE GRADY

O personagem-título do romance “O BGA – O Bom Gigante Amigo”, de Roald Dahl, captura sonhos em jarras de vidro. Na Universidade Estadual da Pensilvânia, um professor de engenharia conseguiu registrar imagens de algo menos estranho, mas tão efêmero quanto — a tosse.
A imagem, publicada em 9 de outubro no site da revista “The New England Journal of Medicine”, foi criada com a chamada fotografia Schlieren, que “pega um fenômeno invisível e o transforma numa imagem visível”, segundo o professor Gary Settles, diretor do laboratório de dinâmica de gases da universidade.
Schlieren, em alemão, significa algo como “estrias” — no caso, as regiões de diferentes densidades num gás ou líquido, que podem ser fotografadas como sombras usando uma técnica especial.
“No meu laboratório usamos muito essa técnica”, disse Settles. “Muitas vezes se usa para outras coisas, como túneis de vento supersônicos, para demonstrar ondas de choque em torno de uma aeronave em alta velocidade.”
O processo envolve uma pequena fonte de luz, lentes ajustadas, um espelho curvo, uma lâmina que bloqueia parte do feixe de luz e outras ferramentas que permitem ver e fotografar as perturbações no ar. Na dinâmica dos gases, a tosse é meramente “um jato turbulento de ar com mudança de densidades”. Embora transmita tuberculose, gripe e outras doenças, surpreendentemente pouco se sabe a respeito dela. “Não temos uma boa compreensão sobre o fluxo de ar”, disse Settles.
Para mapear a tosse, ele se juntou com o virologista Julian Tang, de Cingapura. Um aluno saudável forneceu a tosse. O ar expelido dos pulmões a 29 km/h se misturou com o ar do ambiente, mais frio, e produziu “diferenças de temperatura que curvam os raios de luz em diferentes medidas”, segundo Settles.
“A próxima coisa é colocar uma dupla de pessoas diante do espelho conversando, uma tosse sobre a outra, e a gente vê como o fluxo de ar se move, como as pessoas se contaminam. Ou vê como a tosse pode transmitir doenças por via aérea num hospital. É uma sugestão de como podemos estudar tudo isso. As técnicas usadas nos túneis de vento podem ser usadas para estudar doenças humanas.”
Outras imagens Schlieren mostram a agitação do ar e as ondas de choque provocadas por um tiro de pistola, um cão cheirando uma florzinha, ou todo o mundo insuspeito e cintilante que circunda a chama de uma vela exposta à brisa.
A última foto, numa réplica em tamanho natural de uma cabine de avião, captura em microssegundos o clarão de uma explosão sob um manequim num assento de avião, com a respectiva propagação da onda de choque. A explosão foi uma recriação de um atentado que tentou, em 1994, derrubar um avião filipino com uma bomba de nitroglicerina.
O avião não caiu, mas a explosão matou o passageiro sentado sobre a bomba. A simulação usou uma explosão menos intensa do que a real. “Ela ajuda a entender como a energia de uma explosão a bordo reverbera na cabine”, disse Settles. “E também é útil para ver resultados de si-mulações de explosões por computador.”

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