São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Crise econômica vira o golfo de ponta-cabeça

Por MICHAEL SLACKMAN

CAIRO — Para muitos países pobres do Oriente Médio, os ricos produtores de petróleo do golfo Pérsico serviram durante anos como fonte de vida econômica, fornecendo emprego para seus cidadãos, que, por sua vez, enviavam milhões de dólares aos seus países; turistas, que enchiam seus hotéis quando os ocidentais relutavam em visitar; e investimentos diretos, uma espécie de “diplomacia do cheque” que ajudava a estabilizar uma região sempre volátil.
De repente, essa fonte se esvaiu de forma perigosa para países como Egito e Jordânia, porque as nações ricas em energia se viram sugadas pela crise financeira global e afetadas pela queda da cotação do petróleo. As Bolsas caem em todo o golfo Pérsico, causando pânico entre os investidores. Mesmo na próspera Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, o outrora pujante mercado imobiliário esfriou junto com o acesso ao crédito.
Governos tiveram de intervir. Os Emirados Árabes injetaram US$ 32 bilhões em seu sistema financeiro e em garantias de depósitos bancários. A Arábia Saudita ofereceu bilhões de dólares em empréstimos aos seus cidadãos. E o Kuait, que já havia reduzido sua taxa de juros, agiu para amparar o seu segundo maior banco.
A era do preço estratosférico do petróleo, embora seja agora só lembrança, deixou a maior parte dos governos com um colchão financeiro suficiente para agüentar o golpe, dizem economistas locais.
E, enquanto o petróleo estiver acima de US$ 55 por barril, a maioria dos governos ainda faturaria mais do que seus Orçamentos.
“Não estamos nos preparando para uma recessão no golfo”, diz Marios Maratheftis, diretor regional de pesquisa do banco Standard Chartered, em Dubai. “Estamos vendo uma desaceleração.”
Mas uma desaceleração lá pode ser sentida como freada brusca em lugares como Egito, Jordânia e Síria, onde o dinheiro do golfo amparava economias combalidas.
“Quando houver crescimento no golfo, haverá crescimento em todo o mundo árabe”, disse Rashad Abdou, professor de economia e finanças internacionais na Universidade do Cairo. “Haverá mais turismo, mais dinheiro no mercado de ações, mais investimentos. E o contrário é verdade. Com um encolhimento ou recessão, eles não virão fazer turismo, não vão investir e não poderão contratar trabalhadores egípcios.”
O Egito recebe mais de metade dos seus US$ 6 bilhões anuais em remessas dos mais de 2 milhões de cidadãos seus que trabalham na região do golfo Pérsico, e mais de 60% dos turistas que visitam o país vêm de lá, segundo economistas egípcios.
A Síria se beneficiou de investimentos do golfo em grandes projetos imobiliários, ajudando a contrabalançar o isolamento imposto pelas sanções americanas.
A Jordânia recebe cerca de US$ 2 bilhões por ano em remessas de trabalhadores no golfo e obtém cerca de US$ 500 milhões em ajuda financeira só da Arábia Saudita.
“Prevejo que os investimentos do golfo desacelerem ou parem, porque eles têm de lidar com seus próprios problemas antes de investir em outros países”, afirma o economista Nabil Samman, diretor do Centro para Pesquisa e Documentação, em Damasco.
Otimistas esperam que o esfriamento do superaquecido mercado imobiliário de Dubai acabe tendo efeito positivo no emirado, mas admitem que isso vai doer. O dinheiro investido em ações, afirma Suleiman al Mutaua, ex-ministro de Planejamento do Kuait, “afeta orçamentos familiares, gastos familiares, férias. Por isso, as pessoas estão chateadas”.

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