São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Turbulência atinge os emergentes

Por NICHOLAS KULISH

VARSÓVIA - Os mercados emergentes, que há pouco mais de um mês pareciam saudáveis, até prósperos, estão começando a ser apanhados pelo pânico mundial.
Do ex-comunista Leste Europeu à América do Sul, há medo, descrença e frustração pelo fato de que o colapso do sistema hipotecário norte-americano —um mercado em geral evitado pelos investidores e instituições dos países emergentes— se torne a causa de uma nova punição imposta pelas mãos indiscriminadas dos mercados de capitais.
No mês passado, os poloneses se abalaram com a repentina descoberta de que não estão imunes ao contágio da crise financeira. A derrocada da Bolsa local e a drástica desvalorização da moeda provaram como estavam errados.
Em todo o país, incorporadoras pararam as obras de milhares de apartamentos, porque os bancos de repente restringiram a concessão de crédito. A efervescência deu lugar a um acompanhamento nervoso da cotação do outrora poderoso zloty polonês, que está derretendo frente ao dólar e ao euro.
A Polônia ainda é considerada relativamente saudável em comparação com Hungria e Ucrânia, países dos mais afetados. Em outubro, ambos fizeram acordos com o Fundo Monetário Internacional para receber uma assistência que ajude a evitar um colapso do seu setor financeiro. Ainda assim, a preocupação com a Hungria e a Ucrânia contaminou a Polônia.
E as reverberações se estendem muito além. Na África do Sul, o grama da platina, importante fonte de divisas, despencou de mais de US$ 70 em junho para menos de US$ 28 agora, contribuindo com uma aguda depreciação da moeda local, o rand. No Brasil, o real perdeu mais de 40% do seu valor frente ao dólar desde agosto. A lira turca caiu mais de 30% frente ao dólar nas últimas semanas e quase 20% frente ao euro.
O protético Fuat Karatas, 41, de Istambul, compra materiais importados cotados em euro, mas disse que não pode repassar o aumento a seus clientes, que pagam em liras. “Agora, com o euro enlouquecendo, não tenho idéia de como as coisas funcionarão”, afirmou.
Os países emergentes não são um grupo homogêneo, mas enfrentam desafios semelhantes. A fuga de capitais, que provoca a queda das Bolsas e moedas, ocorre num momento em que começou a diminuir cai a demanda externa por seus produtos, sejam eles commodities, como o petróleo, ou bens industrializados, como automóveis.
No Brasil, autoridades se empenharam em poupar com sabedoria durante a alta das commodities, reformaram o setor bancário depois da crise financeira do final da década de 1990 e diversificaram seus parceiros comerciais. “Este país nunca esteve tão preparado para a adversidade como agora”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado. Mas, poucos dias depois, o governo autorizou bancos públicos a comprarem ações de institui-ções financeiras privadas.
Especialistas dizem que havia um consenso na Polônia de que a adesão à União Européia blinda-ria o país dos piores choques. Esse consenso começou a se desfazer.
Jarek Wiewiorski teve um aumento de 20% na prestação do seu apartamento, agora de 1.800 zloty (US$ 600).
“Não é catastrófico, mas é doloroso”, disse Wiewiorski, 40. “Num minuto, são os EUA, em seguida, é a Hungria, e aí de repente é aqui mesmo.”

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