São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Em NY, a arte de se fundir com o ambiente

Artista desaparece em alguns lugares da paisagem urbana

Por ADRIANE QUINLAN

Às 9h40 do dia 23 de junho, um homem estava em pé do outro lado da rua em relação ao World Trade Center, coberto de pintura. Com seu rosto embranquecido, ele parecia, pensou o turista holandês Koos Koning, como se o 11 de setembro tivesse acontecido outra vez. "A impressão era que ele teria saído do WTC com o rosto branco e recoberto de cinzas", disse o turista.
O homem em questão, Liu Bolin, é um artista chinês cujo projeto mais recente -"Escondido na Cidade"- consiste em pintar a si mesmo e suas roupas de modo a assemelhar-se tão precisamente com o espaço que o cerca que ele desaparece no pano de fundo. As fotos dão a impressão de que Liu evaporou e se fundiu com cabines telefônicas britânicas, ruínas italianas e estádios chineses.
Essa foi sua primeira viagem a Nova York para desaparecer -para uma exposição na Eli Klein Fine Art ("Liu Bolin: o Homem Invisível", até 28 de agosto). "Pensei sobre onde eu queria estar presente, e esse é o primeiro lugar que me veio à cabeça", ele contou. Como o trabalho dele trata do desaparecimento, pareceu apropriado se fundir em um espaço conhecido por um edifício que não está mais lá. Liu chegou ao local às 7h. Ele trajava um uniforme militar chinês (ele gosta das golas altas e da textura engomada, lembrando lona).
Primeiro, seus assistentes cobriram seu corpo com tonalidades que correspondiam ao que estava atrás dele. Quando Liu estava coberto de pintura, suas canelas, como a calçada, estavam cinzas, uma cerca azul atravessava seu abdome, e, acima disso, as treliças de ferro da Torre da Liberdade elevando-se atrás dele no meio da neblina estavam representadas como uma massa de ferrugem acinzentada em meio ao branco do céu.
Foi em 2005, quando o governo chinês invadiu uma vila de artistas, que Liu iniciou o projeto. Ele disse que escolhe locais que mostram "que há conflito entre o indivíduo e a sociedade". Alguns críticos de arte enxergam em seu trabalho um comentário sobre nações que fazem seus cidadãos "desaparecer" -como fez a China ao deter o artista dissidente Ai Wei Wei, libertado recentemente em 22 de junho.
Liu disse que sabia que ser um artista chinês que faz um trabalho político seria arriscado; o Estado poderia reprimi-lo. "Você nunca sabe quando vai acontecer, mas precisa preparar-se para isso", comentou.
Com a tinta já seca, os assistentes de Liu começaram a incluir os detalhes. Eles cobriram o corpo do artista com linhas que correspondiam às beiradas da calçada ou aos níveis dos prédios. Um toque final consistiu em escrever "9/11" sobre a manga de Liu, correspondendo a uma placa no inacabado Memorial Nacional 11 de Setembro.
O mais difícil foi reproduzir as linhas retas dos prédios. "Seu corpo é um modelo tridimensional, e precisamos pintar um campo bidimensional", explicou Han Xu, um de seus assistentes.
Às 10h15, a sessão de fotos chegou ao fim. Liu limpou a tinta de seu rosto e tirou seu casaco. Ele o jogaria fora, simplesmente? "Oh, não", ele respondeu. "Este casaco tem grande significado para mim."


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