São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

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Um artista extrai toda a essência de uma pedra

Por TED LOOS

BRIDGEHAMPTON, Nova York - Se um artista vai criar uma instalação para um museu importante usando chapas de aço industrial e uma pedra, então a pedra precisa ser a pedra certa.
Por isso, Lee Ufan estava selecionando pedras em um campo extenso em Long Island. Ele estudava enormes rochas cinzentas de 635 quilos que precisavam de uma empilhadeira para que fossem mudadas de lugar. Lee se abaixou para olhar atentamente para algumas pedras amarronzadas de tamanho médio, examinando-as como se fossem preciosos diamantes.
O artista e sua meia dúzia de ajudantes e associados tinham passado o dia anterior selecionando essas pedras de uma pedreira nas proximidades. Agora, eles estavam trabalhando na segunda seleção. O objetivo era encontrar 52 pedras para a exposição "Lee Ufan: Marking Infinity" (Lee Ufan: marcando o infinito), no Museu Guggenheim, aberta em 24 de junho, o 75° aniversário de Lee. Era a primeira grande retrospectiva do trabalho dele nos EUA.
Lee Ufan goza de reconhecimento considerável na Europa e no Oriente Médio. No ano passado, foi aberto na ilha de Naoshima, Japão, o Museu Lee Ufan, projetado por Tadao Ando.
Havia algo de xamânico no ágil Lee, enquanto ele tentava compreender a finalidade de cada pedra.
"Ele enxerga coisas que não enxergamos", disse Alexandra Munroe, a curadora do Guggenheim que organizou a mostra. "Quando suas antenas se levantam, é uma coisa espantosa de se ver."
Mas uma decisão era iminente, como se Lee estivesse selecionando atores para um espetáculo da Broadway. Uma pedra, uma beleza parda com veias esbranquiçadas, o estava incomodando.
Lee olhou fixamente para a pedra. Etiquetas de papel tinham sido fixadas a ela, detalhando suas estatísticas vitais e o trabalho no qual sua participação estava sendo analisada: "Relatum", antes intitulado "Situation" (1971), uma série de três telas esticadas sobre o chão, cada uma delas coroada por uma única pedra.
Lee, que nasceu na Coreia e vive no Japão, sacudiu a cabeça em um gesto de negativa. "A presença desta pedra é fraca", declarou, falando em japonês. Alguém atrás dele gritou "ele está trocando de pedra!". Um grande X feito de fita adesiva azul foi colado à pedra.
"É engraçado", disse Lee. "Não existe pedra boa ou ruim. Isso depende apenas de onde ela vai ser colocada. Mas tenho um conceito na cabeça e sei qual é a pedra certa quando a vejo. Fazer a seleção das pedras -isso é arte."
"Marking Infinity", que ficará até 28 de setembro, também inclui pinturas e desenhos de Lee, mas ele é conhecido sobretudo pelas séries frequentemente repletas de pedras em que cada obra, assim como a série como um todo, é intitulada "Relatum".
"O objetivo do trabalho é juntar a natureza e a sociedade industrial", disse Lee enquanto se movimentava entre as pedras. Ele se referia a trabalhos como "Relatum - silence b" (2008), em que uma pedra é posicionada diante de uma chapa de aço encostada contra uma parede. "O espectador deve vivenciar a tensão entre a rocha e a chapa de aço."
As obras exigem contemplação; elas não prendem a atenção do espectador de modo imediato.
O escultor Richard Serra, que as conheceu pela primeira vez no final dos anos 1970, quando ele e Lee dividiram uma galeria na Alemanha, comentou: "Em um primeiro momento, elas pareciam casuais, não intencionais, e destituídas de interesse. Mas andei ao lado delas durante meses, e, com o passar do tempo, elas ganharam muito mais significado para mim do que algumas obras que se esforçam tanto para provocar uma reação."
A série "Relatum" guarda a marca forte dos movimentos minimalista e conceitualista dos anos 1960 e 1970. Filósofo e autor de 17 livros, Lee Ufan foi um dos principais teóricos do movimento da escola Mono-ha (Escola das Coisas), de Tóquio, da mesma época.
Ele disse que o objetivo da Mono-ha era "combinar o que é feito com o que não é feito", reunindo objetos criados pelo homem com objetos naturais. Encontrar a pedra certa é crucial. Lee apontou para uma pedra cinzenta grande demais para que ele pudesse carregá-la. "Quando as pedras têm aparência demasiado natural, sou avesso a isso", disse. "Elas devem ser naturais, mas não neutras."


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