São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Babás organizadas de Paris são ilegais

Por CELESTINE BOHLEN
PARIS - Um passeio por qualquer bairro de Paris mostra que cada vez mais estrangeiras, legais e ilegais, estão empurrando carrinhos de bebê, cuidando de doentes ou passando camisas. Os franceses -uma população que envelhece e que tem uma das maiores taxas de natalidade da União Europeia -precisam de ajuda doméstica, especialmente após cortes de gastos públicos que afetaram serviços sociais.
Recentemente, essas mulheres conquistaram uma vitória, numa campanha de sindicatos e entidades de direitos humanos pela legalização dos imigrantes ilegais -os "sans-papiers"- que já tenham empregos.
Carteiras com foto agora identificam algumas delas como integrantes de um grupo reconhecido, que congrega estrangeiros em situação irregular, mas com pedido de visto de trabalho em tramitação. Galina Dubenco usou esse documento há pouco tempo, ao ser abordada pela polícia quando esperava para despachar por ônibus uma mala com presentes e roupas para sua família na Moldova.
É um momento que todo imigrante ilegal na França teme. Mas, com sua carteira, a polícia a liberou.
Enquanto a França se atrapalha em seus esforços para integrar os imigrantes, essa medida em favor deles é mais uma prova de que o país não pode se virar sem estrangeiros.
"Nunca há problema para encontrar trabalho", disse a marroquina Fahra Itri, 38, que trabalha há seis anos na França, e, assim como Dubenco, participou no mês passado de uma manifestação dos "sans-papiers" em frente ao Ministério da Imigração. "Isso que é bizarro. Só falta um pedaço de papel."
Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a taxa de emprego para as mulheres estrangeiras na França vem subindo continuamente -de 44,2% em 1995 para 52,3% em 2008.
Mas os empregos são precários e muitas vezes efêmeros; as mulheres trabalham sozinhas, isoladas em apartamentos, e seu status clandestino as torna vulneráveis a exigências descabidas. Ao contrário dos homens imigrantes, que trabalham principalmente em restaurantes e na construção civil, elas não podem fazer greve, porque isso significaria abandonar as pessoas pelas quais deveriam zelar.
Capitaneadas pela organização feminista Femmes Egalité, que há 24 anos se dedica a organizar mulheres na França e na África, trabalhadoras clandestinas agora podem exibir sua força. "É a primeira vez que as mulheres unem forças para pressionar por sua legalização como trabalhadoras, não como esposas, mães ou irmãs", disse a ativista Françoise Nassoi.
A tropa de choque do movimento pela legalização dos "sans-papiers" é composta principalmente por homens que realizaram duas ondas de greves em 2008, com apoio dos sindicatos franceses.
As mulheres enfrentam mais dificuldades que os homens. Cuidadoras como Dubenco não possuem prova dos anos trabalhados -como contracheques ou documentos falsos, que alguns restaurantes e empreiteiras costumam dar aos seus trabalhadores ilegais. Ao contrário dos grevistas homens, que são principalmente da Ásia e África Ocidental, as mulheres vêm de todas as partes -Moldova, Ucrânia, norte da África, América Latina, China e outros lugares-, o que faz delas um grupo naturalmente menos coeso.
Sua única força vem da ação coletiva.
"O importante é que elas entendam que são parte de um grupo, um coletivo", disse Nassoi.


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