São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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INTELIGÊNCIA/ERHARD STACKL

A sofisticada nova direita europeia

Viena
Por toda a Europa, os partidos da Nova Direita, com seus slogans contra a imigração e os muçulmanos, parecem imparáveis, liderados por uma nova geração de demagogos direitistas. Eles se vestem bem e usam com habilidade as redes sociais da internet; com uma sofisticada mistura de políticas, têm apelo junto à direita e à esquerda, fazendo incursões até alas mais moderadas da sociedade.
Os idosos que temem pelo futuro das suas aposentadorias por causa dos custos elevados dos imigrantes para o Estado de bem-estar social estão inclinados a apoiá-los. E esses políticos falam também aos mais jovens, ao abordarem as crescentes preocupações de que os valores ocidentais -os quais asseguram direitos iguais para mulheres e tolerância à diversidade sexual- estão sendo desafiados pela minoria muçulmana.
Os europeus há décadas temem as consequências do capitalismo globalizado e das fronteiras abertas. Os trabalhadores estrangeiros primeiro se tornaram concorrentes baratos no mercado de trabalho, sem enfrentar dificuldades sérias na maioria dos países. Mas, ultimamente, a xenofobia tem aparecido.
Durante a atual crise econômica, alguns imigrantes que haviam perdido seus empregos começaram a receber benefícios sociais, e, inevitavelmente, casos de fraude vieram à tona. Se os nativos que burlam o Estado são vistos como parte do folclore local, a mesma tolerância não ocorreu com os imigrantes e com suas grandes famílias que pareciam ter adquirido ilegalmente o direito ao confortável colchão do Estado do bem-estar. Os políticos de extrema direita acrescentaram uma nova etiqueta à lista dos preconceitos contra os estrangeiros: os perturbadores são todos muçulmanos, disseram.
A estratégia demagógica produziu resultados em várias eleições parlamentares neste ano. Na Bélgica, na Holanda e, mais recentemente, -e talvez de modo mais chocante- na Suécia, a Nova Direita obteve votos suficientes para negar maiorias absolutas a um dos partidos tradicionalmente dominantes de centro-direita ou centro-esquerda. Na Holanda, Geert Wilders, 47, um político com um topete louro platinado, se tornou um herói do novo movimento, encabeçando uma versão europeia do Tea Party americano.
Sua comparação do Alcorão com os escritos de Adolf Hitler apela às piores tendências dos holandeses.
Recentemente, Wilders foi convidado a dar palestras na Alemanha, que é até agora um dos poucos países europeus onde a Nova Direita não conquistou vagas parlamentares. O mais conhecido orador anti-islâmico da Alemanha é Thilo Sarrazin, que já declarou que a imigração contínua causará um efeito emburrecedor sobre toda a população.
É improvável que Sarrazin, um austero tecnocrata e banqueiro que teve de renunciar após suas declarações, forme um partido anti-islâmico na Alemanha. Mas assim como muitos suecos, dinamarqueses e holandeses jogaram fora sua imagem de faróis da tolerância, pode-se esperar que os alemães um dia sigam essa tendência. As barreiras criadas pela lembrança do nacional-socialismo não irão conter a xenofobia para sempre.
Naquela época, como agora, argumentos racionais foram expulsos da política, e tornou-se extremamente difícil para os políticos centristas de hoje combater essa estratégia. Eles tentaram integrar os imigrantes ao estilo de vida dominante, mas apenas com medidas relutantes. Ao mesmo tempo, eles continuam prometendo à população nativa que irão garantir os direitos das mulheres e o caráter privado da religião.
A única solução que políticos tradicionais encontraram até agora foi se deslocar para a direita e reprimir os estrangeiros. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, é o melhor exemplo. Mas até agora sua disposição em deportar os ciganos e seu apelo à direita francesa não ajudaram a melhorar sua popularidade.
"A tolerância ilimitada deve levar à desaparição da tolerância", escreveu o filósofo austríaco Karl Popper em "A Sociedade Aberta e Seus Inimigos". Ele disse: "Se não estivermos preparados para defendermos uma sociedade tolerante contra o ataque da intolerante, então a tolerante será destruída, e com ela a tolerância".
Essa frase pode ser lida de dois jeitos: como um alerta contra o excesso de tolerância, ou como um teste da tolerância aos outros, pela recusa em se misturar. Políticos e cidadãos preocupados de toda a Europa, inclusive representantes das minorias, estão reagindo ao desafio.
Eles precisam se envolver em um debate vívido, que estabeleça as regras para uma coexistência realista em um ambiente multicultural, antes que a sociedade aberta seja arruinada por um lado ou outro.

intelligence@nytimes.com


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