São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Rússia ajuda gigante do petróleo em dificuldades

Odiada nos EUA, a BP encontra amigos em Moscou

Por ANDREW E. KRAMER
MOSCOU - Apesar do poço que vazou no golfo do México estar fechado agora, a BP parece condenada a anos de regulamentação hostil e processos legais nos Estados Unidos.
Mas na Rússia, o segundo país mais importante para as operações da companhia, as fortunas da BP estão mais reluzentes que nunca.
Empresas russas negociam com a BP para construir bilhões de dólares em campos de petróleo e outros ativos para ajudá-la a pagar pela limpeza do golfo e os salgados custos de indenização.
Juntamente com um sócio, a BP planeja explorar os ricos campos de petróleo das águas russas no Ártico, uma região que fica fora de alcance dos Estados Unidos e do Canadá.
E o executivo-chefe da BP, Tony Hayward, que entregou a direção para Robert Dudley, está sendo bem-vindo no conselho administrativo da TNK-BP, a joint-venture da empresa na Rússia.
O caloroso relacionamento da BP com os russos é uma reversão surpreendente diante da situação sombria verificada dois anos atrás.
Dudley, que chefiava a TNK-BP na época, foi obrigado a se esconder em 2008 depois que o agravamento das disputas com o governo e com sócios russos da BP levaram à revogação do seu visto de trabalho.
As relações ficaram tão difíceis que agentes de segurança russos prenderam um analista acusado de espionagem industrial.
Mas em agosto tudo estava bem quando Hayward e Dudley visitaram Moscou e se encontraram com Igor I.
Sechin, o vice-primeiro-ministro russo para políticas energéticas e um aliado íntimo do primeiro-ministro Vladimir Putin.
Um grande motivo para o aquecimento das relações é o potencial papel da BP em ajudar a Rússia a ampliar suas ambições petrolíferas globais. A BP pretende vender até US$ 30 bilhões em ativos ao redor do mundo para ajudar a pagar os estimados US$ 32,2 bilhões que deverá desembolsar pelos danos do derramamento no golfo.
Empresas russas, apoiadas por um governo que gostaria de ver algumas gigantes multinacionais de energia russas, estão muito interessadas em comprar.
O principal entre os potenciais compradores de ativos da BP é a TNK-BP, a joint- venture com vários oligarcas russos. Esta negocia para comprar os campos da BP na Venezuela e no Vietnã, no valor aproximado de US$ 1,5 bilhão.
"Nós apreciamos que a BP nos ofereceu os ativos antes que fossem mostrados a outros", disse Stan Polovets, o executivo-chefe do consórcio que representa os sócios oligarcas na TNK-BP. "Eles poderiam ter procurado os chineses ou os indianos."
E a BP, embora tenha resistido a contratar um executivo-chefe russo para dirigir a TNK, foi delicada com o candidato russo, Maksim G. Barsky, quando tomou a decisão, disse Polovets. A BP deu a Barsky um passeio de seis meses pelas operações globais em reação ao vazamento.
De sua parte, as autoridades russas reduziram a pressão sobre a BP durante o vazamento -resistindo, como disse um assessor da BP, Peter Necarsulmer, a uma inclinação natural a seguir o axioma de "se você não puder chutar um homem quando ele está caído, quando poderá chutá-lo?" em nome de explorar uma parceria mais profunda com a BP globalmente.
A BP tem cerca de um terço de seus negócios globais e 40% de seus acionistas nos Estados Unidos, mas a Rússia responde por 840 mil barris diários de petróleo, cerca de um terço da produção total da companhia, e mais de 665 mil barris por dia bombeados para os EUA.
A TNK-BP também trouxe para a BP US$ 1,7 bilhão no ano passado por sua parcela de dividendos e permitiu que a empresa britânica alegasse vastas reservas de petróleo em seus livros.
As ambições na Rússia vão além da TNK-BP. Há acordos de joint-venture com a estatal de petróleo Rosneft para prospecção ao largo das ilhas Sakalinas e na plataforma ártica.
Fadel Gheit, principal analista de petróleo da Oppenheimer & Company, disse que a tolerância da Rússia pagará dividendos.
"Ao ajudar a BP em seu momento mais difícil, a Rússia definitivamente elevará sua posição entre os países ocidentais."


Colaborou Clifford Krauss, de Houston



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