São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Carros que inspiram lealdade

Por JULIA WERDIGIER
LONDRES - No escritório de Toby Silverton, 52, dono da Bristol, uma fabricante britânica de carros de luxo, está pendurada a foto de uma cliente sorridente, de pé ao lado de seu Bristol 603, de 30 anos.
Silverton conta que ela comprou carro dele de segunda-mão há cerca de quatro anos, sem saber que seu dono anterior fora Bono, o cantor principal da banda de rock U2.
Quando ela descobriu o passado do carro, telefonou para Silverton e perguntou por que não lhe havia contado isso, porque ela poderia até pagar mais pelo carro (segundo a empresa, um carro semelhante custaria cerca de US$ 54.800 hoje). "Eu disse a ela que não somos esse tipo de companhia", explicou.
Enquanto muitos fabricantes de carros enfrentaram a queda de pedidos nos últimos dois anos, a Bristol, uma empresa particular, relatou um aumento, apesar de seus modelos principais custarem mais de meio milhão de dólares.
"Todo mundo com quem falei na indústria disse que tiveram quedas de 20 a 30%", disse Silverton. "As nossas vendas cresceram 25% desde o início de 2008."
A Bristol espera vender cerca de 150 de seus carros montados à mão este ano. Uma das últimas fabricantes de carros independentes do mundo, a empresa tem uma força de trabalho de cerca de cem pessoas. Existe apenas um canal de vendas, no bairro de Kensington em Londres. Silverton disse que a Bristol é rentável, mas não quis dar detalhes. Os modelos "topo de linha" da marca, como o Fighter T, hoje custam US$ 564 mil. Isso se compara aos US$ 345 mil pelo Bentley mais caro, outra marca de luxo britânica. A Bentley diz que suas vendas caíram 48% no ano passado, para 4.005 carros.
Paul Newton, um analista da IHS Global Insight em Londres, disse: "A Bristol é uma espécie de anomalia do setor, por causa da natureza extremamente bizarra de seus carros". Talvez seja por isso, segundo ele, que a companhia prosperou através da recessão econômica. "Muitas pessoas que compram o Bristol são antigos ricos, que realmente não foram afetados", disse.
Apesar dos preços, os carros Bristol não são ostentatórios, o que parece fazer parte de seu apelo. Os clientes são atraídos pelo design discreto, o artesanato e os cuidados com os detalhes.
Turplin Dixon, engenheiro de ferrovias em Londres, comprou um Bristol 603 de 15 anos com o dinheiro da venda de outro Bristol que havia herdado de seu tio. "Eu costumava pensar que eram carros muito feios", disse Dixon, 58. "Mas agora eu gosto deles porque são originais, especiais e únicos."
Silverton atribui a pujança da empresa a vários fatores, incluindo baixos custos operacionais. Seu único show-room em Londres ainda tem os mesmos escritórios com lambris de madeira, bandeiras britânicas desbotadas pelo sol e móveis dos anos 1960 como em sua inauguração, há 50 anos. Não há computadores. Os registros dos clientes são mantidos em um arquivo de pastas no porão.
E há pequena rotatividade entre os funcionários. Syd Lovesy, que dirige a fábrica em Bristol, fará 91 anos em novembro.
Um erro dos grandes fabricantes, disse Silverton, foi se equipar para atender à crescente demanda quando a economia estava crescendo, mas foram apanhados com gastos inchados quando veio a recessão.
A Bristol tem origem na British and Colonial Aeroplane Company, fundada em 1910. No final da Segunda Guerra Mundial, durante a qual sua principal aeronave era o Beaufighter, a companhia tinha 40 mil empregados. O fim da guerra a obrigou a se diversificar, e a empresa de automóveis Bristol foi fundada em 1946.
Sentado à sua mesa diante de uma foto mostrando a tripla vitória da Bristol na corrida de Le Mans em 1955, Silverton disse: "A única coisa que eu quero daqui a 20 anos é que a empresa esteja pelo menos tão saudável quanto hoje."


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