São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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PERFIS

VIKTOR BOUT

Mercador da morte ou fã do tango?

"Vamos ao tribunal nos Estados Unidos e vamos ganhar."

Por SCOTT SHANE
WASHINGTON - Acusado de ser um dos maiores traficantes de armas do mundo, Viktor Bout é também visto como exímio negociador.
Agora seu futuro talvez dependa de ele conseguir fechar um último grande negócio: trocar o que autoridades americanas acreditam ser seu extenso conhecimento em primeira mão de redes criminosas globais pela chance de não passar o resto de sua vida em uma prisão federal.
A lenda que cerca Bout, 43, ex-oficial da Força Aérea soviética e exímio linguista, pode ter ultrapassado até mesmo as verdades sobre sua carreira, que esteve à base do filme de 2005 "O Senhor das Armas". Operando uma rede de empresas, às vezes utilizando pseudônimos, ascendeu no submundo do tráfico mundial de armas depois de a queda da União Soviética ter liberado aviões envelhecidos e enormes suprimentos de armas.
"O que temos em Viktor Bout é uma figura de primeira importância na globalização do crime", disse Louise I. Shelley, diretora do Centro de Terrorismo, Crime Transnacional e Corrupção da Universidade George Mason, na Virgínia. "Ele simboliza o novo tipo de criminalidade organizada, na qual o criminoso é instruído, possui conexões internacionais e opera com apoio do Estado."
Um tribunal da Tailândia aprovou em 20 de agosto a extradição de Bout (pronuncia-se "buut") de Bancoc, onde ele está preso desde 2008. Uma audiência está marcada para outubro em Nova York.
"Vamos ao tribunal nos EUA e vamos ganhar", disse Bout a um repórter, após o anúncio da decisão da corte tailandesa.
Desde o início dos anos 1990 imerso no lado escuro da globalização, Bout dominou o comércio e os transportes que alimentam os cartéis do narcotráfico, redes de terrorismo e movimentos insurgentes da Colômbia ao Afeganistão, segundo ex-agentes que o rastrearam.
Desde sua prisão, ele não vem demonstrando nenhuma inclinação a cooperar, tendo se descrito como empresário honesto.
Bout tachou de "ridículas" acusações americanas de que teria concordado em vender mísseis disparados de lançadores portáteis, carregados sobre os ombros, a agentes da DEA (Administração de Policiamento de Narcóticos) dos EUA que se fizeram passar por integrantes de um grupo guerrilheiro esquerdista colombiano. "Nunca atuei no comércio de armas", declarou em comunicado. Sua mulher, Alla, disse a jornalistas que ele viajou à América do Sul para "fazer aulas de tango".
Segundo Douglas Farah, co-autor do um livro de 2007 sobre ele, "Mercador da Morte", se essa bravata fracassar quando Bout enfrentar promotores em Nova York, ele terá muito a revelar.
"Ele sabe muito sobre como armas chegam ao Taliban e como chegam a militantes na Somália e no Iêmen", disse Farah.
Em um encontro em um hotel de Bancoc em março de 2008, segundo documentos da justiça, Bout teria dito a seus supostos clientes "que os Estados Unidos também é seu inimigo".
"Não é uma questão de negócios", disse Bout em conversa gravada, de acordo com os documentos. "É minha luta."


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