São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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KAKUBEN LALABHAI PARMAR

De intocável a mulher de negócios respeitada

"Já vivi a maior transformação da minha vida quando tive a oportunidade de sair da minha casa."

Por GUY TREBAY
Kakuben Lalabhai Parmar viajou uma distância enorme para vender seus bordados em Nova York. Não foi apenas uma questão de milhagem, embora tenha sido longa a distância desde Madhutra, vilarejo rural no Estado indiano ocidental de Gujarat.
No nível prático, a viagem de Parmar exigiu vários meios de transporte incomuns, entre eles uma carroça puxada por bois, um riquixá puxado por bicicleta, a traseira de um jipe e o ônibus a céu aberto que a levou até o aeroporto.
Em um nível cultural mais profundo, a viagem dela foi ainda mais estranha e fantástica, encarnando meio século de feminismo global e o arco de evolução da Índia moderna. Na comunidade à qual Parmar pertence, cujos moradores ganham a vida pastoreando gado, as mulheres eram atreladas tradicionalmente não apenas à religião e ao vilarejo, mas a suas casas.
"As pessoas do meu grupo eram tratadas como intocáveis", disse Parmar, 50. E, se a comunidade era intocável, suas mulheres viviam sob desvantagem maior ainda, pelo fato de serem invisíveis. Casada desde os 14 anos de idade e mãe de sete filhos, Kakuben Lalabhai Parmar já era adulta havia anos antes de, pela primeira vez, se ver cara a cara com um homem que não era seu parente próximo.
No entanto, aqui estava ela -uma mulher de negócios trajando saia bordada com paetês de espelho e lenço tingido, com as mãos, os braços e a garganta enfeitados com tatuagens feitas em casa-, arrumando suas criações para colocá-las à venda na Sociedade Asiática, em Nova York, onde, em julho, um grupo de artesãos se reuniu para vender seus produtos.
Pouca coisa atrapalhava sua calma, aparentemente. Parmar aceitou sem pestanejar experiências urbanas que poderiam ser assustadoras para uma pessoa analfabeta que assina seu nome com a impressão digital do seu polegar.
"Já vivi a maior transformação da minha vida", disse ela, falando em dialeto gujarati, com a ajuda de um intérprete, "quando tive a oportunidade de sair da minha casa e participar da sociedade."
A libertação de Parmar se deu há 20 anos, quando o Projeto Sewa, sem fins lucrativos, formou uma unidade em seu vilarejo para ajudar a preservar ofícios artesanais em risco de desaparecimento.
"Nunca antes sequer imaginamos ganhar dinheiro com a venda destas coisas", disse Parmar, que produz bordados de patchwork que incorporam fios de cores fortes e fragmentos reflexivos cortados manualmente, com grande trabalho, de estilhaços de espelhos que ela compra por quilo.
O tecido é do tipo empregado na produção de uma bolsa da moda carregada neste verão por Cameron Diaz, Nicole Richie e outras celebridades.
Uma bolsa a tiracolo feita com o patchwork espelhado e vendida com a etiqueta da grife Simone Camille custa cerca de US$ 2.000, valor equivalente a dois anos de renda de Kakuben Parmar. Com os modestos US$ 60 que ela ganha por mês, contudo, ela já se tornou o ganha-pão principal de sua família. Hoje, Parmar é dona de suas próprias cabeças de gado e possui uma conta pessoal com uma organização de microcrédito.
Atualmente, percorre o mundo como embaixadora informal da Sewa e do Conselho da Artesanato da Índia, vivendo em circunstâncias que não poderia ter previsto.
"Agora que tenho meu negócio próprio e ganho meu próprio dinheiro, meu marido me trata com respeito", disse Parmar. Em alguns momentos, contou, ele chega a ajudá-la com a contabilidade. "Ele é meu secretário", ela confiou, rindo.


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