Um raro ator que cria sua própria vitrine

Por MICHAEL CIEPLY
LOS ANGELES - Nos seus dias de glória na década de 1990, Ben Affleck e seu amigo Matt Damon, então dois atores lutando para fazer carreira, surpreenderam Hollywood ao escreverem papéis brilhantes para si mesmos em "Gênio Indomável", um roteiro que lhes rendeu o Oscar.
Agora, Affleck lança "Atração Perigosa" ("The Town"), que vem obtendo boas críticas. É a primeira vez desde aquela época em que ele participa de um projeto na frente e atrás das câmeras. É um ambicioso filme sobre um ladrão, em que Affleck foi diretor, protagonista e roteirista, junto com Peter Craig e Aaron Stockard.
O filme, que estreou nos EUA em setembro e terá lançamento mundial ainda neste ano, claramente se destina a redirecionar uma carreira que tem oscilado entre papéis em thrillers de ação, como "Armageddon", e pontas em produções independentes como "O Império (do Besteirol) Contra-Ataca", passando pelo constrangimento de atuar em "Contato de Risco" e pela aclamação como diretor em "Medo da Verdade".
Tudo isso sem cumprir o que "Gênio Indomável" parecia prometer: aquele raro ator com talento suficiente para criar sua própria vitrine.
"É duro renegar um filme quando você escreveu, dirigiu e atuou", disse Affleck, descrevendo "Atração Perigosa" como uma tentativa de encontrar seu lugar numa indústria que nunca soube bem o que fazer com ele. O filme, acrescentou, "é um emblema da pessoa que desejo ser daqui por diante".
Affleck começou a ouvir que executivos da Warner Brothers desejavam envolvê-lo em "Atração Perigosa" depois do lançamento de "Medo da Verdade", sucesso de crítica em que ele foi diretor e roteirista, tendo seu irmão caçula, Casey, como protagonista. "Medo da Verdade" arrecadou cerca de US$ 20 milhões nas bilheterias em 2007. "Atração Perigosa" fez quase US$ 24 milhões no seu fim de semana de estreia nos EUA.
Baseado no romance "Prince of Thieves" ["O príncipe dos ladrões"], "Atração Perigosa" conta uma história envolvendo crimes e família em Charlestown, um bairro de Boston.
Affleck disse que ficou atraído não só pelas possibilidades da história, que o levaria de volta a Boston, perto de onde foi criado mas também por ter visto uma rara chance para recomeçar como ator e cineasta.
Dentro da Warner, "Atração Perigosa" se tornou um projeto tratado com muito carinho, já que os executivos Jeff Robinov e Alan Horn começaram a ver em Affleck o mesmo potencial que fez de Clint Eastwood um patrimônio do estúdio. "Eles eram os únicos que ficavam dizendo: 'Adoraríamos encontrar um filme para você dirigir'", contou Affleck.
A ambientação em Boston, disse Horn, ajudou Affleck a dar o melhor de si. "[Boston] é tão confortável para Ben quanto Nova York é para [Martin] Scorsese", afirmou. O filme teria custado por volta de US$ 40 milhões.
Affleck caiu naturalmente no papel principal, o de Doug McCray, um criminoso profissional que se vê dividido entre a relação com um cúmplice (Jeremy Renner) e seu amor pela testemunha de um dos seus crimes (Rebecca Hall).
Criado em um bairro em geral respeitador da lei, Affleck disse que baseou seu filme nos relatos de bandidos, alguns dos quais aproveitados em papéis tidos como secundários.
A autenticidade se tornou um fetiche, no mínimo porque Affleck não tinha onde se esconder. "Para mim, era tudo ou nada", afirmou ele sobre seu compromisso com o projeto. "Se parecesse falso, eu sei que me sentiria como um impostor o tempo todo."


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