São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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EUA compram menos, e Alemanha sente o baque

Países exportadores não têm motivos para otimismo em 2009

Por CARTER DOUGHERTY

MUNIQUE - Quando os consumidores americanos param de comprar, empresas de todo o mundo sofrem —mesmo as que têm poucos negócios com os Estados Unidos.
Veja o caso da Hawe Hydraulik, que fabrica válvulas e conduítes no sul da Alemanha. Suas vendas dispararam nos últimos anos, puxadas em grande parte pela demanda da China e do resto da Ásia. Mas, nos últimos meses, as encomendas praticamente sumiram, quase da noite para o dia.
Só 5% dos produtos da Hawe são entregues diretamente nos Estados Unidos, mas as vendas despencaram de repente porque as empresas americanas pararam de importar produtos chineses que incorporavam os componentes alemães.
"Isso costumava levar anos", disse Karl Haeusgen, o executivo-chefe que impulsionou a expansão global da Hawe. "Mas agora o ‘link’ global funciona muito rapidamente."
Os Estados Unidos, com sua economia alimentada pelo crédito, por muito tempo permitiram que outros, notavelmente China, Alemanha e Japão, acumulassem superávits comerciais. Essa dinâmica mudou com a crise econômica, à medida que os americanos podam suas compras em um ritmo feroz.
"Já que o consumidor americano agora está capitulando, a bolha exportadora é a próxima a ir embora", disse o presidente da Morgan Stanley na Ásia, Stephen Roach. "As economias exportadoras de todo o mundo devem se preparar para um duríssimo reequilíbrio."
Na Alemanha, que desde 2003 é o maior exportador mundial de mercadorias, o comércio exterior alimentou o crescimento dos últimos cinco anos. No entanto, no terceiro trimestre, a queda nas exportações ajudou a deixar a Alemanha na recessão.
Praticamente todos os economistas preveem que 2009 será um ano perdido para a Alemanha. A retração corrobora aquilo que Haeusgen aponta: uma forte relação entre a prosperidade chinesa, que em parte dependia do esbanjamento americano, e as vendas da Alemanha para a China e outros países.
Jacques Cailloux, economista-chefe para a Europa do Royal Bank of Scotland, em Londres, estabeleceu uma sólida correlação entre as exportações chinesas para os Estados Unidos e as exportações alemãs para a China. O déficit comercial americano em 2007 foi de US$ 708,5 bilhões; os superávits comerciais da Alemanha (US$ 288,5 bilhões) e da China (US$ 262,2 bilhões) representam grande parte do outro lado da equação.
As encomendas para as indústrias alemãs já caíram significativamente. Em setembro, sofreram a maior redução mensal desde 1990, quando a economia da Alemanha Oriental estava se desintegrando. O mês de outubro foi quase tão ruim quanto. Reconhecendo que precisam vender mais ao mercado interno para compensar a redução do faturamento externo, muitos países exportadores adotaram programas de estímulo doméstico. A Alemanha não.
A disputa política mais acirrada da Europa na história recente ocorreu devido à má vontade da Alemanha em injetar mais dinheiro na sua economia. Derrotado na defesa de um pacote de estímulo doméstico, o ministro da Economia, Michael Glos, declarou laconicamente que talvez os pacotes de outros países "ajudem nossa economia exportadora".
Esta perspectiva ressoa em empresas como a Hawe.
"Meu medo é que os chineses estejam reagindo mais fortemente, no sentido psicológico, do que outros países", disse Haeusgen. "Nossa esperança é que alguém decida ligar as luzes de novo nos próximos meses."


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