São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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LENTE

O "frisson" da descoberta inesperada

Restaurante Chego, em Los Angeles, vende tacos coreanos em caminhões pela cidade; conceito de "pop-up" tem se espalhado Com tantas lojas e restaurantes fechando as portas nos EUA em meio à recessão, o varejo transitório pode ser a solução perfeita nesta era carente de dinheiro e de atenção.
O conceito de "pop-up" -uma loja ou um local feito para durar poucas semanas- parece ter vindo para ficar. Lojas de roupas "pop-up" já fazem parte do cenário varejista há muito tempo. A marca de roupas Comme des Garçons abriu lojas de "guerrilha" em lugares como Berlim, Cingapura e Atenas nos últimos anos. Mas o espírito do "pegue enquanto dá" se ampliou.
Há uma edição limitada das roupas de Jil Sander para a rede japonesa Uniqlo; exposições de arte ocupando restaurantes, e restaurantes que só servem hambúrguer de madrugada.
Talvez seja a excitação da caça. Ou, talvez, numa época em que tudo é filtrado, checado e agregado, seja revigorante topar com algo inesperado e temporário. Amy Smith-Stewart se sentia confinada e previsível dentro do cubo branco que era sua galeria de arte, em Nova York. Por isso, ela criou uma galeria ambulante.
"Quando você tem uma galeria com uma localização em particular, um endereço em particular, as pessoas a tem como algo garantido", disse ela ao "New York Times". "Numa total antítese do modelo, estou mais interessada na descoberta da arte -não só sair para ver arte, mas sair para encontrar arte."
Um loft no centro de Manhattan foi usado de 7 de abril a 7 de maio para uma combinação temporária de loja, galeria e espaço de performances. O evento, chamado ThirtyDaysNY, foi promovido por Joshua White e David Kramer, donos de uma livraria independente em Los Angeles.
Kramer disse ao "Times" que nas lojas normais "você está ciente o tempo todo que estão lhe vendendo algo, em vez de lhe mostrarem coisas que as pessoas que são donas [do lugar] adoram".
Na Broadway, muitos espetáculos têm curta temporada. Há poucas chances de assistir atualmente a um vencedor do prêmio Tony de 2010. "Red", eleita melhor peça, saiu de cartaz em 27 de junho. "Fences", melhor reencenação, estrelando dois ganhadores do Tony (Denzel Washington e Viola Davis), sairia ontem.
Catherine-Zeta Jones, escolhida melhor atriz por "A Little Night Music", já não está mais em Nova York. Os ganhadores do Tony de melhor peça em 2009 ("God of Carnage") e em 2008 ("August: Osage County") passaram mais de um ano em cartaz após receberem o prêmio.
"Apanhe se puder" é o lema não só na Broadway. Caminhões estão prescindindo das vitrines e servindo pelas ruas sorvete artesanal, waffles e tacos coreanos. Os clientes ficam sabendo pelo Twitter onde os caminhões podem (ou não) aparecer e, então, embarcam numa espécie de caça ao tesouro.
"Há o fator 'serendipity' [descoberta casual e boa]", disse ao "Times" Kim Ima, dona da Treats Truck, de Nova York. Para os clientes, contou ela, encontrá-la "parece ser sempre uma surpresa emocionante".
Talvez a emoção do inesperado e fugaz seja suficiente, após algumas mensagens trocadas entre pessoas e lugares que já compartilham gostos semelhantes. Cada exposição, cada loja, cada momento existe, como disse Smith-Stewart, "um pouco como um rumor". E talvez isso seja bom.

ANITA PATIL

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